Caos na caserna, fogo no Brasil e desordem

"Em nenhuma democracia uma nota política dada por um ministério militar é sinal de normalidade e estabilidade", por Cleber Lourenço

Bolsonaro durante desfile dos Artilheiros da Reserva, da Ativa e de Alunos da Escola Militar em Santa Maria (RS) (Foto: Alan Santos/PR)
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Bolsonaro segue tratando com desdém e desprezo a pandemia que já vitimou mais de 8 mil pais, mães, familiares, maridos, filhos e esposas de milhões de brasileiros.

Comandantes militares reforçam, em seus quartéis, que integrantes das Forças Armadas não podem se manifestar politicamente por força de regulamento, ao mesmo tempo em que se encontram entre escolher Moro ou Bolsonaro. Com um agravante, o presidente sempre foi um convicto inimigo da cúpula militar e constantemente trabalha para impor humilhações a generais.

O pior é que ainda seguimos sem respostas para a permanência deprimente do verde-oliva no Palácio do Planalto. Os militares sabem que iminente fracasso do governo acertará diretamente a credibilidade das Forças Armadas. É inevitável, mas, mesmo assim, tentam tutelar o governo com a mesma eficácia de quem tenta impedir a chegada do inverno: não importa o que faça chegará.

A nota dada pelo Ministério da Defesa mostra essa dificuldade de como os fardados devem se posicionar. Vale lembrar que em nenhuma democracia uma nota política dada por um ministério militar é sinal de normalidade e estabilidade. Por mais otimista que seja a nota, nunca é um bom sinal, seja aqui, na Europa ou nos EUA, quando as Forças Armadas do país se envolvem na política.

É triste que o ministro da Defesa precise emitir uma nota oficial reafirmando o compromisso com a República. Quando isso acontece é porque existe este risco. Uma crise que eu apontei em fevereiro deste ano: há sim uma campanha para promover a baderna na caserna.

Lá eu já havia dito: “A entrada do verde-oliva no Planalto ainda custará muito mais caro do que se imagina aos militares”. Embora mínimas as chances de um golpe ou de êxito - caso tente um, a verdade é que fica mais frequente a desmoralização da cúpula frente a tropa.

O Exército, sob o comando do general Edson Leal Pujol, busca se distanciar tanto do governo Bolsonaro que cada vez mais o presidente coloca militares em cargos. Principalmente para dar a falsa impressão, tanto para a tropa quanto para as patentes baixas, de que o verde-oliva e o Planalto são um só. Erro crasso. É neste contexto que Bolsonaro, inclusive, assovia por aí a ameaça de troca do comandante das Forças Armadas, para a imposição de mais humilhações.

No discurso do presidente, no último domingo, ficou flagrante o desespero e o medo. Não demonstrou força e pediu ajuda. Pergunto mais uma vez, onde estavam os militares ao lado de Bolsonaro enquanto ele falava das Forças Armadas na rampa do Palácio?

Acontece que Bolsonaro deixou os militares entre a cruz e a espada. A cúpula se sente inclinada a seguir Moro, onde enxergam um “bastião de moralidade”. Moralidade que o presidente não tem, principalmente pelas denúncias e acusações de envolvimento com grupos criminosos cariocas (milícias).