É melhor Bolsonaro não contar muito com o centrão

Leia na coluna de Cleber Lourenço: A cada declaração absurda e crise deflagrada pelo próprio governo o custo de permanência do grupo político se torna mais alto, principalmente por já serem mal vistos pela própria base do bolsonarismo

Foto: Marcos Corrêa/PR
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Fica cada vez mais complicada a situação do acordo costurado entre o presidente e o grupo político (por intermédio dos militares) conhecido como “centrão”. Isso porque nem foi publicado o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o que poderá ser um aditivo ainda maior para o fim daquilo que mal começou.

Militares e o centrão tentam se manter longe da radioatividade do núcleo palaciano, algo cada vez mais difícil de se sustentar diante dos destemperos, surtos e arroubos de insensatez cometidos pelo presidente. Para o centrão, isso têm um preço: mais cargos e cargos maiores. para os militares, não.

A situação se tornou tão complicada que já há quem entre no governo sem entrar como Gilberto Kassab, presidente do PSD, que declarou recentemente que o seu partido não faz parte do centrão e que, depois da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, o grupo se dissolveu. Porém, não deixou de gravar a pérola "o partido é independente”. Já sabem o que isso significa, né?

A briga no Ministério da Educação pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) se intensificou nos últimos dias e agora parlamentares pedem a cabeça do ministro Abraham Weintraub, um dos mais próximos do governo e do presidente.

Um dos líderes centrão (que segundo Kassab deixou de existir), Paulinho da Força (SD-SP) criticou a saída precoce do ministro Nelson Teich. Ao jornal Estadão, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) também engrossou as críticas de parlamentares que fazem parte de partidos do centrão.

Paulinho ainda disse:

“Duvido que alguém consiga fazer o presidente aprender com a ciência e perceber que reduzir o isolamento social é colocar mais brasileiros na fila de espera por uma vaga na UTI. O Brasil precisa de liderança, mas vai ser difícil encontrar um ministro que seja capaz de lidar, ao mesmo tempo, com a crise sanitária e com os impulsos de Jair Bolsonaro.”

A cada declaração absurda e crise deflagrada pelo próprio governo o custo de permanência do grupo político se torna mais alto, principalmente por já serem mal vistos pela própria base do bolsonarismo e a cada nomeação política gerar um alvoroço maior que o anterior.

Precisamos aguardar e avaliar como serão os próximos dias. A publicação do vídeo de 22 de abril será determinante para saber o quão caro Bolsonaro poderá e desejará pagar pelo grupo político e pela governabilidade que ele próprio coloca em risco constantemente.

Por ora o presidente apenas conta com Roberto Jefferson (PTB), que ainda cativa apenas os mais celerados e não tem a representatividade que tinha há uns anos. Tem uma imagem muito caricata e espalhafatosa, o que mantém alguns membros do centrão mais afastados do que próximos.

Principalmente por ser um criminoso condenado que tira fotos segurando um fuzil e ameaçando os poderes da República. Virou uma espécie de Dom Quixote da extrema-direita com seus moinhos de vento.