Falta vergonha na cara

Leia na coluna de Cleber Lourenço: "Bolsonaro nunca passou limite algum, ele é a própria transgressão! Por onde passa carrega uma série de episódios grotescos e uma porção de casos onde faltou com respeito contra a dignidade humana"

Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Poucas vezes senti vergonha da política brasileira. Não foram os casos de corrupção, não foram as brigas entre parlamentares no Congresso ou até mesmo as ideias amalucadas de quem quer que seja.

Foi no governo de Jair Bolsonaro que comecei a me envergonhar. Não tem indignação, raiva ou revolta, é vergonha pura e simples.

Vergonha de ver como algo tão sério e importante como a política foi jogada no chão e afogada na lama da falta de decoro e respeito com o país.

A política exige seriedade, exige decência no diálogo, principalmente com a sociedade. As decisões tomadas de decisões em Brasília decisões têm impacto sobre a vida de milhões de pessoas.

Infelizmente, Bolsonaro não tem nem uma coisa, nem outra. E ele exibe essa falta de qualidades com orgulho e, pior ainda, não só ele como outros políticos também não só fazem como elogiam a truculência com o rótulo cínico de como se fosse algo autêntico. Não é!

Diria até mesmo que é uma espécie de gourmetização ou glamourização da mais completa falta de modos.

É como se aplaudíssemos alguém que em um jantar de casamento comesse com as mãos, ou que fizesse um sanduíche de hóstias em plena missa.

Todo dia os jornais divulgam “Bolsonaro atravessou os limites”. Na página seguinte, elogiam Paulo Guedes, Moro e fazem seu malabares para justificar o fracasso econômico do governo. Não adianta.

E isso é péssimo pois eles normalizam a transgressão, inferiorizam a Constituição e promovem a inação das instituições perante qualquer descalabro.

Bolsonaro nunca passou limite algum, ele é a própria transgressão! Por onde passa carrega uma série de episódios grotescos e uma porção de casos onde faltou com respeito contra a dignidade humana.

Foi assim como militar, foi assim como marido, foi assim como legislador e é assim como presidente. Um show de perversidade.

E ele esconde tudo isso com suas palhaçadas. Hoje o Brasil é um imenso picadeiro e há quem ainda aplauda as graças do bufão para abafar o som dos descalabros.

É preciso interromper esse ciclo! Foi horrível o comediante no Alvorada? Foi! Mas existem coisas mais importantes.

Já se passaram 25 dias desde que os 13 telefones do miliciano Adriano foram apreendidos. Ontem o sigilo bancário do miliciano vizinho do presidente foi quebrado. Flávio tenta desesperadamente parar as investigações da rachadinha. Onde está Queiroz? Quem mandou matar Marielle? Quando vamos processar e prender os integrantes do gabinete do ódio?!

E ainda tem mais.

O que faremos com a disparada do dólar? Como vamos dar emprego para 13 milhões de pessoas? E o preço dos combustíveis? Quando vamos punir Moro por interferir no processo eleitoral de 2018? Quando vamos dar um basta para a criminosa Lava Jato?

Será que o país está realmente tão bom assim para que o presidente faça gracinhas? E mais! Faltam notícias para que os holofotes sejam direcionados para as gracinhas do bufão? Não.

Eu tenho saudades de quando a política era algo sério e respeitável, quando a Constituição era absoluta e ministros do STF não ficavam atentando contra ela (olá Barroso).

Esse é o Brasil da nova era? Infelizmente, é.

Um Brasil onde um prefeito culpa vítimas de deslizamento de forma mordaz, onde um presidente ofende mulheres jornalistas com piadas de cunho sexual, onde um homem mente em uma CPMI do Congresso e nada acontece. Onde a indisciplina nos quartéis é aplaudida e a disciplina reprovada.

Este não é o meu Brasil, tampouco o de milhões de brasileiros.

Que saudades eu tenho do meu Brasil.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum