Mesmo com as incoerências, ele escapou de um massacre

Cleber Lourenço: “Moro sabe que o cerco está se apertando. A incerteza de um desfecho para o caso, o deixa aflito e isso ficou evidente nas respostas dignas de alguém em estado de choque”

Foto: Divulgação/Ministério da Justiça
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Esta quarta-feira (19), foi o depoimento do ex-juiz e o atual ministro da Justiça Sérgio Moro. Tirando a troca de gentilezas, cinismo e rasgação de seda já esperada da base de apoio ao governo, alguns pontos foram interessantes. A audiência mostrou um homem ao melhor estilo “fera ferida”, um tanto quanto confuso e desorientado, tentando se agarrar em qualquer borda para se salvar do afogamento. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo É possível ver também que se o PT não prestar atenção irá cair na armadilha do Partido Lavajatista, que busca surfar na narrativa petista, de que a operação teria como único foco sabotar o PT. Com isso, eles querem partidarizar o debate, o que facilita e muito a coisa toda. Já escrevi mais de uma vez aqui, a LJ tem como objetivo não só implodir o PT e Lula, mas, sim, a política como um todo. Quer passar uma retroescavadeira e construir algo em cima dos destroços. Tendo isso claro, voltamos para a audiência no Senado Federal. Ficou claro o desespero do ministro, que tentou, a todo o custo, levar o debate para a esfera partidária, tentar levar adiante a destrambelhada desculpa de mensagens adulteradas e o famoso “não me lembro”, que é de praxe de todo homem público flagrado em algum mal feito. Poucas foram as perguntas que ele respondeu de forma direta e pontual. Na maioria das vezes, as respostas não saíram do mantra: querem acabar com a LJ, hacker, não lembro. A cada vez que um senador pedia que Moro recomendasse que Dallagnol entregasse seu celular, a desorientação era gritante. Afinal de contas, por quais motivos Deltan ainda não entregou seu telefone para a perícia da PF, que, vejam só, é chefiada por Sérgio Moro? Ao assistir todo o depoimento do ministro, percebi que poderia separar as respostas em cinco tópicos bem definidos: -Não reconheço a autenticidade -Mas tudo ali é normal -Sofri ataque de Hackers -Lava Jato salvou o país -Sou imparcial Deprimente. Mas não mais que Flávio Bolsonaro, que usou seu tempo de fala, vejam só... no SENADO Federal (!!!) para falar de uma conspiração de internet, das mais amalucadas, que envolvia hacker russo, bitcoins e pavão. Vergonhoso ver um senador da República se prestar a este papel de tentar, de forma adolescente, dar ares de seriedade para uma teoria típica de chats do site UOL no início dos anos 2000. Mas um determinado momento me chamou a atenção, quando o senador Humberto Costa (PT-PE), ao questionar Sérgio Moro sobre os vazamentos da última terça-feira (18), que indicavam uma determinação do ex-juiz para blindar o ex-presidente FHC, foi onde Moro se complicou. Primeiro, ele disse não se recordar do diálogo (o que é de praxe, já) de forma completa, mas depois disse que não haveria problema interferir, pois o processo não era dele. O que o grande ministro da justiça fez foi passar o recibo de desconhecimento da legislação: também é crime que um juiz interfira em processos que não são de sua alçada. É prevaricação. Após a réplica do senador, que apontou o absurdo, mesmo se o processo não estivesse sob cuidados do ex-juiz, Sérgio Moro decidiu não responder e recorreu para o direito de permanecer calado. Tendo em vista as flagrantes dificuldades de, não só Moro, como de todos os membros da operação enrolados com o vazamento, em se posicionarem de forma organizada, conjunta e coesa, julgo que o resultado da ópera toda ainda foi afável ao ex-juiz. Poderia ter sido um massacre maior. Por pena ou até mesmo despreparo a oposição poupou Sérgio Moro de sair de férias forçadas do governo do presidente Jair Bolsonaro. Moro sabe que o cerco está se apertando. A incerteza de um desfecho para o caso, o deixa aflito e isso ficou evidente nas respostas dignas de alguém em estado de choque.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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