Milícia atua em região onde Bolsonaro quer acabar com proteção ambiental

Cleber Lourenço: “Mais uma vez, as milícias saem ganhando com o governo, seja com o decreto das armas, seja com a lei anticrime do Sérgio Moro, seja com o fim da Estação Ecológica de Tamoios”

Foto: Arquivo
Escrito en OPINIÃO el
Angra dos Reis, uma cidade que promete causar muita dor de cabeça ao presidente Jair Bolsonaro. Os imbróglios do presidente com a região começaram em 2012, quando Bolsonaro foi multado por um fiscal do Ibama, após ser flagrado pescando na Estação Ecológica de Tamoios (Esec), uma área protegida em Angra dos Reis (RJ). A situação rendeu um discurso do Bolsonaro no plenário da Câmara para tratar desse problema de cunho pessoal. O então deputado, aparentemente, não enxergou a diferença entre o Congresso Nacional, um confessionário de igreja e um grupo de apoio. Lamentável. Quando deputado, ele ainda tentou retaliar os fiscais do Ibama. Bolsonaro, que é um notório defensor do armamento civil, tentou desarmar os fiscais, legislou em causa própria. O fiscal que multou Bolsonaro, José Augusto Morelli, perdeu no final de março o cargo de Chefe do Centro de Operações Aéreas da Diretoria de Proteção Ambiental, após o capitão da reserva assumir o poder. Ele foi o único de nove funcionários de mesmo nível hierárquico a ser demitido na ocasião. E a regra é clara, a ação toda é passível de impeachment do presidente, caso o Congresso queira e seja necessário. Como vocês podem perceber, Bolsonaro tem um histórico complicado com o Ibama e Angra dos Reis. E a coisa toda não para por aí. Após demitir o fiscal que o multou, Bolsonaro ainda disse que irá acabar com a Estação Ecológica de Tamoios. Segundo o presidente, a ideia seria transformar a região em uma espécie de “Cancún brasileira”. Tudo isso com o objetivo de liberar a pesca submarina no local. As coisas melhoram agora! É em Angra dos Reis e Ilha Grande, no Rio de Janeiro, que a milícia incentiva e explora pesca predatória do camarão rosa! Segundo uma matéria do jornal Extra, a milícia marítima não explora apenas a já conhecida cobrança de taxas para serviços. Neste caso, para permitir a pesca de quem não tem o Registro Geral de Atividade Pesqueira. Na Baía da Ilha Grande e no mar de Angra dos Reis, na Costa Verde, há um outro tipo de negócio explorado por paramilitares. Os milicianos chegaram a ter uma frota composta por, pelo menos, 20 barcos irregulares que atuaram nos meses onde a pesca é proibida. Costa Verde é o nome dado a uma faixa de terra que vai do litoral sul do Rio de Janeiro até o Norte do litoral de São Paulo. É também na Costa Verde que está localizada a Estação Ecológica de Tamoios, mais precisamente na Baía da Ilha Grande. Que coisa, não é mesmo?! Me pergunto até quando veremos essas estranhas coincidências da família presidencial e as milícias cariocas sem que nada, de fato, seja investigado. Digo isso até em benefício da família presidencial, pois caso não possuam nada de errado, poderiam passar essa história a limpo. O fato é que, mais uma vez, as milícias saem ganhando com o governo, seja com o decreto das armas, seja com a lei anticrime do Sérgio Moro, seja com o fim da Estação Ecológica de Tamoios. Não serei leviano, como o Partido Lavajatista que sai disparando acusações com base em “power point” e convicções, mas coincidências como estas me causam calafrios, ainda quando me lembro que foram mais de dez anos com Bolsonaro e seus filhos tendo estranhas aproximações com milicianos: quando não é o filho empregando familiar de miliciano em gabinete, é o pai convidando grupo de extermínio para atuar no estado do Rio de Janeiro. Isso quando o miliciano não é vizinho da família. Em tempo: parece que o tio da esposa do presidente Jair Bolsonaro também é miliciano, quem diria né? A reportagem do site Correio Brasiliense revelou detalhes de uma operação em que ele foi detido. Situações assim me fazem ficar imaginando como seria a reação da sociedade se esse tipo de coisa ocorresse nos governos do PT... Confira muito mais também no meu site: www.ocolunista.com.br
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.