Militares e Heleno versus Bolsonaro: a mediocridade ou a radicalização

Leia na coluna de Cleber Lourenço: Bolsonaro ainda não escolheu qual caminho irá seguir. Está se reorganizando, precisa ver até onde vai a investigação contra o seu filho Flávio Bolsonaro e quantos dos seus apoiadores restarão após a devassa do STF e da PGR contra aqueles que atentam contra a República

Bolsonaro e o general Augusto Heleno, chefe do GSI (Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil)
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As coisas vão de mal a pior em uma velocidade impressionante no governo de Jair Bolsonaro. Ontem eu falei:

(...) Desde a prisão do Fabricio Queiroz, restaram apenas dois caminhos para Bolsonaro e seus celerados de estimação, a “pacificação do governo”, ou seja, um governo fraco e inexpressivo e que mal poderá editar Medidas Provisórias, algo não muito diferente do que temos hoje.

Ou então a guinada total para a radicalização, com um porém: sem Forças Armadas, sem bravata de golpe ou sublevação das polícias, que com isso encontrará o seu fim em um processo de impeachment ou cassação da chapa (...).

Em algumas horas a coisa só afundou ainda mais. O Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União uma investigação sobre a exoneração de Weintraub. A Justiça também obrigou que o presidente use máscara em ambientes públicos.

A cereja do bolo foi o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, que contrariou Bolsonaro e disse que o STF está certo em delegar a estados decisões sobre Covid-19.

A ala militar já até avisou Bolsonaro que vai vetar nomes indicados por Weintraub para o Conselho Nacional de Educação. Eles já perceberam a rota de colisão e agora vão tentar tomar o barco das mãos do presidente.

Agora que já se enfiaram na bagunça, só resta a redução de danos.

É um clima de fim de festa danado, a valentia de Bolsonaro era bancada pela falsa impressão de que fardados poderiam colocar o fuzil na nuca do país, agora nem isso restou.

Porém, Bolsonaro ainda não escolheu qual caminho irá seguir. Está se reorganizando, precisa ver até onde vai a investigação contra o seu filho Flávio Bolsonaro e quantos dos seus apoiadores restarão após a devassa do STF e da PGR contra aqueles que atentam contra a República.

Dizer que o governo está no início do fim ou que já acabou é de uma irresponsabilidade absurda. Engraçado que essas alegações venham dos analistas que fizeram mil malabarismos para apoiar o governo ou criticar opositores ainda nas eleições de 2018.

O mesmo pensamento “precoce” é recorrente também naqueles que até semana passada badalavam os sinos e anunciavam afoitos um golpe que nunca saiu da imaginação de alguns celerados.

Esse “esvaziamento” do governo não é de hoje, não começou com a prisão do Queiroz.

Ainda em maio, na manifestação encaminhada à Polícia Federal, o general Augusto Heleno, ministro do GSI, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não teve “óbices ou embaraços” para mexer na equipe que faz sua segurança pessoal.

A afirmação desmente o presidente Bolsonaro, que afirmava que tinha dificuldades de trocar gente envolvida na sua segurança e de seus familiares. Uma justificativa estapafúrdia para não confessar a flagrante interferência na PF.

Isso porque na ocasião o bolsonarismo estava no seu auge das bravatas, ameaçando STF, governadores e quem mais aparecesse pela frente.

Assinaram notas intimidando a democracia e Bolsonaro mesmo usou as Forças Armadas como baioneta de suas ameaças mais de uma vez.

Porém, não tiveram sequer coragem de mentir em uma investigação. Na primeira “prensa” institucional abandonaram o “representante”.

A análise política se faz com uma leitura em 360 graus. Não só de um fato isolado, mas de todo um panorama.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum