Moro em rota de colisão

Leia na coluna de Cleber Lourenço: Bolsonaro não pode demitir Moro, tampouco Moro pode sair do governo sem que levante qualquer suspeita. Estão presos um ao outro

Bolsonaro e Sérgio Moro (Foto: Divulgação/MJSP)Créditos: Presidência da República
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Como já comentei em outras ocasiões, o Partido Lavajatista capitaneado pelo ex-juiz Sérgio Moro é um grupo político com fome de poder. Em junho eu já havia apontado como a Vaza Jato revelou que o grupo tem a ambição de tomar o país e até mesmo o bolsonarismo. Em março, a luz de alerta no bolsonarismo já havia se acendido quando Moro descobriu ser alguém indemissível. Não por menos Bolsonaro correu com sua indicação para a Procuradoria-Geral da República. Na ocasião o ex-juiz estava empenhado no nome de um procurador biônico para Procuradoria-Geral da República em setembro. A mídia chegou até revelar qual seria a lista de Sérgio Moro, que era composta de apenas 2 nomes: José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), e Deltan Dallagnol, o procurador e coordenador da Lava Jato e youtuber nas horas vagas. Moro já havia acumulado poder com a transferência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), lembrando ainda que a pasta possui o controle da própria PF e que o ex-juiz conta com uma seita com parcelas consideráveis do Ministério Público Federal. Com isso, Moro acumularia o maior poder de aceso à informação na história deste país. Pode ir atrás de qualquer um, pode fazer o que quiser. O ex-juiz seria chefe do presidente. Bolsonaro percebeu o movimento do ministro e na ocasião pediu para o seu então partido, o PSL, votar por manter o Coaf na Economia. Foi nesse momento que Bolsonaro decidiu se impor e colocar limites na farra do ministro. O que não adiantou muito graças à decisão do STF no início deste mês que permite a investigação da vida fiscal e bancária de brasileiros sem autorização judicial. E parece que isso fez com que o governo e principalmente o bolsonarismo ligassem as luzes amarelas novamente. Desencontros e recados A recente entrevista concedida à Folha pelo general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria do Governo, deixa claro o “recado” do general para o ministro Moro: “É um cara muito bem respeitado, é um ícone do Brasil. É inegável, ele catalisa. Agora, ele é extremamente leal ao presidente. Ele diz que não é candidato, e eu acredito. A não ser que ele mude, não vai ser candidato.” A declaração simples é carregada de mensagens subliminares. Vejam só que o general diz que agora (no momento) Moro é fiel ao presidente e que ele não será candidato a não ser que mude de ideia, o que será considerado uma traição. Moro ainda disse na quinta-feira (12) que a decisão do Supremo sobre segunda instância piorou percepção sobre corrupção, o que rendeu uma resposta rápida do ministro Marco Aurélio, que chamou Moro de leigo. Moro abraçou a postura da militância bolsonarista e atacou o STF da forma que eles gostam. Mas vejam só que interessante! No dia seguinte, Jair Bolsonaro foi na contramão do seu ministro e até mesmo dos seus apoiadores e fez um aceno ao STF.  O aceno foi durante uma fala em um evento da Marinha, nesta sexta-feira (13). Ele declarou: “... Sem esquecer do Poder Judiciário, em especial o nosso STF, que em muitas medidas tem nos ajudado a garantir a governabilidade”. Bolsonaro não pode demitir Moro, tampouco Moro pode sair do governo sem que levante qualquer suspeita. Estão presos um ao outro, na política nada é simples. Os motivos? Moro ainda serve como pilar de sustentação do governo e Moro não quer sair agora, pois deseja ter ao seu lado as hordas bolsonaristas. Uma saída precoce não permitiria isso. Nos resta assistir para ver até quando isso vai durar. Bolsonaro pode negar, afirmar que é fake news e usar seus artifícios costumeiros para despistar o assunto. Mas isso não vai fazer a esmagadora pressão da realidade dos fatos desaparecer.
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