O Estado Democrático de direita começou

Cleber Lourenço: Parece que muito em breve as receitas de bolo de laranja, comuns durante a ditadura e que serviam como substituto para reportagens censuradas pelo regime, poderão voltar a se tornar realidade no Brasil

Bolsonaro, ministério e militares no início do mandato (Foto: Isaac Amorim/ MJSP)
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Antes de começar essa coluna gostaria de dizer que cheguei à conclusão de que Sérgio Moro é muito mais perigoso ao sistema judiciário brasileiro e ao Estado democrático de direito do que imaginei, ele defende amigos com provas e pune desafetos sem provas, atitude típica de quem já vestiu o manto do autoritarismo. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo Será que este país perdeu a cabeça?! Os vazamentos acusam o ministro da Justiça de ter cometido um crime, aí a PF controlada por este mesmo ministro prende supostos hackers envolvidos no vazamento! Isso é uma absurdo!! Um absurdo sem precedentes na história desse país, mas não o único nos últimos dias. Com o esgotamento da popularidade do presidente e o agravamento da situação econômica, era natural que o próximo passo do governo era a guinada ao autoritarismo para se manter estável. Por ordem do exército brasileiro, agentes da polícia rodoviária Federal, que é subordinada a Moro, acompanharam reunião de professores que organizavam protesto contra Bolsonaro em Manaus. Eles sentaram na mesa portando metralhadoras. Em um ataque claro contra a constituição que garante tanto o direito a manifestação quando o direito a reunião em seu artigo 5°! Moro tão pouco se declarou sobre o ocorrido, mesmo sendo chefe da PRF, tão pouco sequer manifestou sua preocupação em relação ao ocorrido. O que já  era esperado, tendo em vista o histórico do ministro em pisotear e desprezar a constituição, a lava jato é um exemplo formidável disso. Ou então o ministro quer então me afirmar que perdeu o controle da polícia que comanda?! Isso enquanto membros do governo, no caso a deputada Joice Hasselmann, ameaçam jornalistas. Isto é de um absurdo sem tamanho! Parece que muito em breve as receitas de bolo de laranja, comuns durante a ditadura e que serviam como substituto para reportagens censuradas pelo regime, poderão voltar a se tornar realidade no Brasil. Tudo isso sob aplausos de supostos jornalistas, que mais se parecem com militantes extremistas prontos para cometer suicídio em nome de uma causa. Afinal de contas, basta se permitir uma perseguição contra um jornalista ou veículo que seja, para que a barbárie generalizada nas redações se instaure. E ainda temos a censura contra a Ancine, o presidente alegou que buscará formas de avaliar filmes que passarão pela agência, caso contrário ela será fechada. Não sem antes financiar com mais de meio milhão de reais um documentário sobre Jair Bolsonaro, clássico de ditaduras. O regime que Bolsonaro aparentemente quer instaurar ainda não teve tempo suficiente pra se tornar uma ditadura embora seja um caminho inevitável. O presidente atua como um monarca absolutista, órgãos todos aparelhados, judiciário na mão e sua família com influência em diferentes esferas. Nunca um vereador municipal teve tanta influência no governo federal deste país! Estamos testemunhando o possível ressurgimento do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), afinal de contas o que foi a ação da PRF, se não uma típica dos tempos de operação desde órgão? Algo que poderá ser utilizado mais vezes no Brasil governado por gente tão preocupada com ideologias com vieses de oposição e que não demonstra o me só interesse com questões importantes aos brasileiros como serviços básicos e emprego. Acha que estou sendo alarmista? Pois bem, nesta terça-feira (23) a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), uma das organizações da sociedade civil que foi excluída recentemente por Jair Bolsonaro (PSL) do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad) teve sua reunião invadida por pelo menos quatro militares que permaneceram no local e filmaram todo o evento. E tudo isto está acontecendo com a anuência de Sérgio Moro que se tornou principal fiador da escalada autoritária no país com seu projeto de lei anticrime e que eu chamo de pacote de lei pró-barbaridade. O mesmo Sérgio Moro que foi tido por muitos analistas e cientistas políticos como uma provável voz da moderação e da sensatez no governo Bolsonarista. Talvez até fosse, mas deixou isso de lado quando suas chances de ir ao STF foram estilhaçadas pelos vazamentos do The Intercept Brasil. Em tempo: Veja a polêmica portaria 666/16 que muitos estão afirmando ter colocado Glenn na mira do Estado em mais um capítulo da escalada do autoritarismo no país. Clique aqui.