O golpe nunca existiu e nem vai existir. Quem vai apoiar Bolsonaro?

Bolsonaro não pensa mais em dar golpe, apenas em se salvar e salvar seus filhos

Jair Bolsonaro - Foto: Isac Nóbrega/PR
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As afirmações desesperadas de um golpe bolsonarista viraram água com a crise desencadeada pelo coronavírus (gripinha, segundo o presidente). Antes que digam que o suposto golpe do presidente foi desmontado pela doença, já afirmo: não, na verdade o suposto golpe jamais saiu do plano das ideias e partiu para o mundo real.

O presidente está sim diariamente esgarçando os limites da democracia, mas isso tudo é porque ele não é capaz de rompê-la. Isso não quer dizer que não seja algo danoso, na verdade é muito, e abre um precedente perigoso para futuros governantes.

Parte da paciência indecorosa das instituições com Bolsonaro vem da certeza de que ele é incompetente demais para algo mais elaborado como um golpe, não estão errados. Se Bolsonaro fosse dar um golpe, quem estaria com ele?

Vamos por partes: Bolsonaro sequer possui uma bancada relevante que lhe apoie de forma concisa e coesa. Quando o presidente saiu o PSL, a bancada eleita pelo partido entrou em conflito interno com parte apoiando o presidente e parte apoiando o partido. A dissidência fez inclusive alguns deputados migrarem para outros partidos para passarem a fazer oposição ativa.

No Brasil pré-64, os golpistas ainda dispunham de uma bancada numerosa com mais de cem deputados, a chamada bancada do IBAD. Bolsonaro não consegue ter sequer cinquenta deputados convictos ao seu lado.

Mas, e os militares? Embora existam bolsões de delinquência nas forças armadas, são grupos isolados que não condizem com a realidade. A cúpula e os generais na ativa e aqueles na reserva que ainda possuem diálogo ativo com a cúpula militar são unânimes, simpatizam com presidente e mais, se preocupam que a aproximação seja danosa para o prestígio da instituição.

Os Generais Mourão e Santos Cruz de forma recorrente passam estes “recados”. Parte disso vem de uma certa mágoa da caserna com o bolsonarismo ainda em 2018 quando Olavo de Carvalho ofendeu seguidamente os generais e o exército brasileiro com Bolsonaro depois de eleito, impondo uma série de humilhações aos homens verde-oliva.

Por fim, ainda há ainda um pungente incomodo dos militares de patentes mais altas por conta das sucedias tentativas do bolsonarismo de provocar as patentes mais baixas em uma espécie de tenentismo às avessas.

Ainda esse final de semana enquanto o exército fazia inúmeras ações pelo país de combate ao covi-19, Bolsonaro decidiu passear pelo Distrito federal, impondo mais uma humilhação aos militares.

https://twitter.com/ocolunista_/status/1244325173173649408

Em novembro do ano passado o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), ONG mantida por grandes empresas multinacionais, emitiu uma nota duríssima contra o governo Bolsonaro.

O grupo que possui 141 associados e consta entre eles empresas como Itaú, Microsoft, Monsanto, Roche, Santander, Tim e TV Globo, afirmou que “o ano de 2019 tem sido marcado pela profunda hostilidade oficial à atuação do terceiro setor e da sociedade civil no Brasil”.

Logo, também deixou evidente que o grande capital do país também não estava de acordo com o governo.

Por fim, as últimas pesquisas de opinião mostraram que o presidente está em queda livre com a opinião pública e vivendo os mesmos dissabores que Dilma viveu em seu período pré-impeachment. Este sábado, por exemplo, o governo foi alvo do seu 12° panelaço consecutivo.

Isso porque as pesquisas divulgadas até a publicação dessa coluna foram realizadas antes do presidente cometer uma série de descalabros, a coisa toda ainda vai piorar.

Sem falar da esmagador isolamento do presidente nos estados, boa parte dos governadores e prefeitos do país estão contra a forma que Jair Bolsonaro leva a crise.

Em alguns estados e capitais, os apoiadores do presidente que estão organizando manifestações contra a quarentena acabam enfrentando ameaças de prisão, multa e outras sanções. No próprio Pará, o governo do estado decidiu dar nome aos bois e quem faz carreata pode responder por organização criminosa.

Bolsonaro não consegue sequer publicar uma medida provisória sem tomar bronca até mesmo da justiça federal, não é o Supremo Tribunal federal, não é algum ministro, é um juiz federal confrontando o presidente.

Mas, e nas Polícias Militares? Bolsonaro até que tentou mas, felizmente, não conseguiu. Nem mesmo por lá o presidente é consenso entra a tropa e quem deixou isso claro foi o próprio Major Olimpio em uma entrevista para o portal Congresso em Foco.

Não por menos, com a crise sanitária Bolsonaro decidiu apelar para o apoio do pequeno e médio empresariado do país, aos poucos não lhe restará apoio relevante para sustentá-lo.

Bolsonaro não pensa mais em dar golpe, apenas em se salvar e salvar seus filhos. Quem irá sustentar o monstro? Os evangélicos? Edir Macedo? Silas Malafaia? Não são relevantes para tal e ainda são mal vistos por parcelas consideráveis da população.

Então, pergunto mais uma vez: Quem vai socorrer Bolsonaro?