Já faz algumas semanas (ou até meses) que uso essa minha coluna tirar vocês do que eu chamo de “política do hype”. Pintar um inimigo maior do que ele é para tentar dar algum senso de urgência em algumas pautas ou debates e achar que existem soluções fáceis para problemas complicados.
Infelizmente a política não é a arte do que é “ideal”, mas sim, do que é possível de se construir para todos.
Bolsonaro recuou quanto à divulgação dos dados da pandemia. Além dessa derrota, sua ação inicial propiciou que outras instâncias do Estado brasileiro se fortalecessem, principalmente para no que diz respeito à descentralização do governo, dando mais autonomia e força para prefeitos e governadores. O que é excelente para a democracia.
O problema é que essa movimentação é uma faca de dois gumes. Bolsonaro, infelizmente, fortalece instâncias regionais ao mesmo tempo em que depreda e fragiliza a confiança da população nas instituições do Estado.
Além disso, Bolsonaro, de pouquinho em pouquinho vai esgarçando a democracia. Já falei: não estamos próximos de um golpe militar, ele nem mesmo está no horizonte das especulações possíveis, mas algumas situações estranhas começam a acontecer.
Até mesmo o risco de “golpe” com a PM está se dissolvendo e virando coisa do passado. Os devidos aumentos salariais para policiais militares já foram distribuídos. De barriga cheia, ninguém arruma briga.
E mais, o Exército já deixou claro que não irá embarcar uma intentona direitista contra a democracia. Estão acomodados no aparelhamento da máquina estatal com os “ilibados” políticos do centrão. Bastam algumas cacetadas nas instituições e as corriqueiras ameaças ao STF e pronto! Já são atendidos sem botar um tanque na rua.
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Logo, o problema do esgarçamento da democracia não é algo para nos preocuparmos com Bolsonaro, mas sim para o caminho que poderá estar abrindo para quem seja capaz de solapar a democracia. Este alguém não é o presidente Bolsonaro.
O vai e vem com os dados da Covid-19 no Brasil e até mesmo a desistência de Carlos Wizard em participar do governo só deixaram estridente o quão Bolsonaro é frágil.
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Além disso, a sociedade brasileira como um todo precisa saber que não existe uma “bala de prata” contra o bolsonarismo. Na política não existem soluções fáceis para problemas difíceis e, para ser franco, todo o mote da campanha de Jair Bolsonaro foi baseada nisso, até mesmo a gestão da crise com a Covid-19 (cloroquina de Jesus) é pautada com esse norte.
O impeachment é uma solução para um problema, por isso não existe outra interpretação, deve ser utilizado quando necessário, quando não restar dúvidas de sua efetividade.
A saída desse problema, com nome e sobrenome, que o Brasil se meteu, não será simples ou fácil. É uma construção, e até lá vamos penar bastante com os descalabros do governo.
Porém, se a gestão da Covid-19 se manter inalterada, certamente o governo não chegará em 2022.
Diversas pesquisas mostram que a atual base de apoio do presidente da República gira em torno de 30%, ou seja, ainda há um longo caminho pela frente.
Ninguém melhor que os políticos para falar sobre política, não é por menos que ainda não há uma campanha aberta por ele, nem mesmo pela oposição, que fez sua parte fazendo os pedidos e aguardando o momento em que será necessário.
Notem: Rodrigo Maia (DEM-RJ) não arquivou nenhum pedido, nem mesmo sinalizou qualquer tipo de movimentação. Ele não quer reforçar a narrativa vitimista do bolsonarismo de perseguição.
É um governo frágil com um presidente fraco e que não sabe se articular, vide que as negociatas com o centrão foram manobradas pelos militares, não pelo presidente.
Bolsonaro não será mais eterno que os diamantes.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum