Um impeachment com tranquilidade

Leia na coluna de Cleber Loureço: Aparentemente ainda não há um clima para qualquer ação de impeachment, mas as manifestações do último domingo acenderam, sim, uma luz amarela que merece atenção

Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia (Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
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Nos últimos dias, principalmente desde o último domingo (31), o impeachment voltou com força total na sociedade brasileira e nas palavras de ordem da oposição.

Não, a democracia não está em estado terminal, já expliquei em algumas colunas que o problema está no esgarçamento dos limites democráticos e a banalização do descalabro.

As instituições, até o momento, mesmo com os acintes intempestivos do presidente e seus apoiadores, estão sabendo segurar o presidente e seus ministros que não conseguem sequer editar uma Medida Provisória ou nomear um reitor de faculdade sem problemas. Até aí seguimos bem.

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E é que isso faz com que o Congresso Nacional ganhe tempo para qualquer tipo de articulação para a abertura de um processo de impeachment. É fato que ainda não existem garantias de que existam votos suficientes para o processo passar com tranquilidade.

Conversei com o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que é tido como o deputado do campo progressista mais próximo do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Nas palavras dele, “impeachment é julgamento político”. E ele ainda disse mais:

“É preciso cuidar para não reforçar a narrativa bolsonarista, de que a oposição não quer deixá-lo governar. Não por acaso Bolsonaro joga tudo na polarização. É a chance dele. Segurar uns 20% de apoio e tentar chegar no segundo turno”.

O deputado também reafirma a minha percepção de que não há votos para afastá-lo. Ele ainda confirma que “o efeito pode ser inverso, pode até fortalecê-lo”.

Também questionei Orlando sobre a diferença do tom entre Rodrigo Maira e Davi Alcolumbre. Segundo ele “são variações do mesmo tom” e ainda foi mais além:

“Quem abre impeachment é a Câmara. Pode ser parte da explicação da diferença.”

Por fim, disse que impeachment não é bandeira, é solução. Uma declaração forte e que representa o sentimento de muitos deputados que afirmam que o impeachment deve ser aberto em “ambiente seguro" e não em um ambiente de incertezas apostando em um desgaste do presidente durante o processo.

Também conversei com deputado Mário Heringer (PDT-MG), segundo secretário da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, que reforçou o clima de cautela. Segundo ele, vale observar que Maia não arquivou ou deu andamento em nenhum pedido de impeachment pois não quer dar a impressão de que estaria chantageando o poder executivo.

A meu ver Maia também não quer sinalizar uma inexistente abertura para negociações sobre o tema. Mário disse também disse que a mesa diretora é composta por várias percepções e opiniões e que não há um consenso sobre o tema.

Para ele, o surgimento de manifestações contrárias ao presidente poderá abrir o clima necessário para a abertura do processo, mas que ainda precisamos observar mais.

A verdade é que a campanha pelo impeachment começou agora e até lá há uma longa caminhada que devemos seguir.

A conclusão que chego, após conversas com outros deputados dos mais variados partidos, é que aparentemente ainda não há um clima para qualquer ação, mas que as manifestações do último domingo acenderam, sim, uma luz amarela que merece atenção.

Os desdobramentos do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, a confiança nos papeis institucionais dos poderes e a confiança de que os militares não irão embarcar em uma aventura golpista são os pontos que norteiam o tabuleiro de xadrez que é o Congresso Nacional.

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*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum