Exame que mostraria se delegado bolsonarista atirou em briga em que namorada morreu não foi feito

"Existe uma infinidade de provas que são necessárias para determinar a dinâmica e a responsabilidade de qualquer um deles no caso”, destaca perito

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De acordo com o site Ponte Jornalismo, o delegado Paulo Bilynskyj, 33 anos, que ficou ferido após uma briga que terminou com a morte da namorada dele, a modelo Priscila Delgado, não fez um exame de perícia fundamental para o caso. O caso aconteceu na última quarta, dia, em São Bernardo do Campo.

Conforme o registro da ocorrência, o exame não foi feito porque o delegado estava passando por uma cirurgia depois de ter sido baleado. A polícia Civil diz que Priscila teria desferido um tiro contra ele e, em seguida, se matado com um tiro no peito. O teste em Priscila deu positivo para a presença de pólvora, mas o de Paulo não foi feito.

Na versão contada por Bilynskyj, ele estava tomando banho quando Priscila entrou no banheiro com uma arma e atirou em sua direção diversas vezes. O motivo teria sido ciúme de mensagens que ela leu no celular dele.

O delegado, então, teria fugido até o elevador para pedir ajuda. Policiais militares acionados o socorreram e encontraram a modelo caída no chão com um tiro no peito. O delegado não disse se ouviu o disparo ou se apenas deduziu o suicídio.

Para o perito forense particular Eduardo Llanos, a ausência da prova residual “chama muito a atenção”. “É feito o exame residuográfico na maioria dos casos, mesmo nas mãos de vítimas feridas ou bandidos feridos quando levados a hospital”, disse ele à Ponte. “Não há como dar 100% de crédito à história que ele está contando. Por que omitir uma prova que pode confirmar a inocência do delegado?”, questiona o perito.

Post feito no instagram do delegado no dia do crime

O cientista forense Sérgio Hernandez tem opinião parecida e destaca que quem teria que ter feito a solicitação dessa perícia é o delegado que registrou a ocorrência. “Houve negligência, omissão. Todos os casos balísticos, onde se efetue tiros de arma de fogo, tanto a vítima, como o suspeito, o agressor, eles devem passar pela coleta de resíduos, obrigatoriamente, para verificar se essas pessoas efetuaram ou não os tiros”, diz Hernandez.

O cientista diz que o exame residuográfico é um dos elementos da investigação, mas não o único. “Há elementos secundários, como tatuagem, a fuligem, a queimadura, [em que] dá para estimar qual foi a distância do tiro. Se o orifício de entrada da lesão apresenta tatuagem, que são de pólvora em combustão, e num raio de 10 a 30 centímetros, eu afirmaria que foi homicídio. Tiros à queima-roupa, em curta distância, eu falaria que foi suicídio. Dificilmente a pessoa vai se matar com um tiro no peito e não vai encostar a arma. Tanto na temporal, no peito, no palato, também”, analisa.

Segundo ele, o disparo no peito é até comum em casos de suicídio, mas para descobrir o que houve é preciso analisar o sentido do tiro e o direcionamento. “Se foi de frente para trás, se foi de baixo para cima, de cima para baixo, esquerda para direita ou direita para esquerda”, explica o cientista forense.

Outro perito, Eduardo Llanos diz que, mesmo com o exame residuográfico dando positivo, pode ser que a pessoa não tenha atirado e tenha sido “contaminada” pelo disparo alheio. “Se eu deflagro um projétil de arma de fogo em um local fechado, há mais fácil concentração do chumbo nas vestes e nas mãos”, detalha. “Eu posso passar minhas mãos na de outra pessoa e vou transferir esses resíduos e vai parecer que a outra pessoa também deflagrou um projétil”, exemplifica. “Também pode ser um ato de defesa. Quando há a possibilidade de quem vai deflagrar o projétil, a pessoa tenta se proteger e também vai ficar com resíduos de pólvora nas mãos”.

Os exames de trajetória da bala são fundamentais para elucidação do caso, assim como de “hematologia forense”, responsável por analisar o comportamento do sangue.

O perito também cita que as vestimentas do delegado, quando socorrido, e a análise de seu celular são na investigação. “Segundo o que se comenta, ele estava no banho, tem que ver se chegou até o elevador com quais roupas. Se estava vestido, não é de se confiar no depoimento”, diz ele.

“E outra coisa, se essa suposta infidelidade ou ciúme é verdadeiro, é preciso ser periciado o celular. Existe uma infinidade de provas que são necessárias para determinar a dinâmica e a responsabilidade de qualquer um deles no caso”, destaca.