Uso de água tônica contra coronavírus remete ao combate à gripe espanhola e malária

A quinina é, de fato, uma substância utilizada no tratamento de malária e arritmias cardíacas e que, além de ser utilizada em remédios, é o saborizador da água tônica

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Está circulando um vídeo absurdo de uma pré-candidata do Novo recomendando água tônica, já que contém quinino, "a base" da cloroquina.

Mas diferente da história do “primo Antônio Carlos” cujos trezentos primos contaram no Twitter que foi curado do novo coronavírus com cloroquina e da onda de pneus explodindo, essa notícia falsa tem uma certa conexão com a realidade.

A água tônica, que contém quinino, vem, de fato, de um dos remédios mais importantes da história.
A Quinina é um alcalóide de gosto amargo que tem funções antitérmicas, antimaláricas e analgésicas. O sulfato de quinina é o quinino. É extraída da planta quina, a chinchona.

A quinina é, de fato, uma substância utilizada no tratamento de malária e arritmias cardíacas e que, além de ser utilizada em remédios, é o saborizador da água tônica.

A "descoberta", ou apropriação, por assim dizer, da quinina pelo Ocidente data do final do 16 e início do 17, quando os espanhóis chegaram para saquear o Império Inca na região do Peru. Nessa época, os invasores espanhóis tomaram conhecimento de uma árvore usada pelos índios para curar febre.

Dizem que os índios andinos observavam que animais doentes bebiam água nas lagoas onde árvores de quinina se encontravam e, assim, teriam descoberto suas propriedades. Uma lenda espanhola conta que um soldado, padecendo de malária no meio da selva, bebeu a água marrom de uma lagoa onde árvores de quinina estavam caídas. Quando acordou sua febre havia desaparecido, e ele "concluiu" que a cura era um "chá de árvore" e contou aos outros.

Em 1633, Padre Calancha, um jesuíta, descreveu as propriedades de cura da árvore na Crônica de Santo Agostinho:

" Uma árvore cresce, que eles chamam de árvore da febre, na região de Loxa, cuja casca tem cor de canela. Quando transformada em pó, juntando-se uma quantidade equivalente ao peso de duas moedas de prata, e oferecida ao paciente como bebida, ela cura febre e ... tem curado milagrosamente em Lima."

Jesuítas no Peru começaram a utilizar a casca da árvore para prevenir e tratar malária. Em 1645, foram levadas algumas cascas para Roma, onde seu uso espalhou-se entre os clérigos, e, em 1654, a casca peruana foi introduzida na Inglaterra.

A história é incrível, não é mesmo?

Mas por favor, não tomem água tônica achando que vão prevenir ou curar a Covid-19. No máximo, degustem com gin e limão para aguentar essa época de fake news.