por que votar em dilma 2014, por hugo albuquerque

apesar de suas muitas críticas ao governo dilma, hugo albuquerque expõe suas razões para reelegê-la. vale a pena ler.

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apesar de suas muitas críticas ao governo dilma, hugo albuquerque expõe suas razões para reelegê-la. vale a pena ler. * * * A realidade é mais complicada do que um esquema bem contra o mal. No entanto, não raro, momentos históricos aparecem de um jeito terrivelmente simples. E essa simplicidade está bastante aquém do desejado. A frustração é imensa. Isso é patente na atual eleição presidencial. Nós intervimos na vida no estado em que ela se encontra, não como gostaríamos que ela estivesse ou, mais ainda, como ela fosse. Nesse sentido, voto Dilma. E faço isso sem peso ou maiores neuras. A minha crítica, à esquerda, ao governo atual está aí, não mudo uma linha. Mas a questão é bastante elementar, um candidato é Dilma, o outro é Aécio. E não adianta me convencer, por esforços retóricos, que são a mesma coisa. Não são. Tanto no aspecto biográfico quanto político -- inclusive de seus partidos e de sua base social. Dilma, quando jovem, estava enfrentando a repressão militar; Aécio, na mesma idade, colhia as benesses de ter pai e avô políticos, com grande influência. O projeto que Dilma encampa, bem ou mal, tirou e tira milhões da pobreza e da miséria. Aécio apenas alude a um liberalismo bem brasileiro, o qual não larga o osso do Estado e está pouco comovido com os mais pobres -- a base política que o envolve, pior ainda. A política capitaneada por Lula e Dilma nos últimos doze foi, por sinal, fazer o óbvio, priorizar os mais pobres, os excluídos. Em uma dimensão social e econômica, sim, melhoramos. O Brasil se inseriu no plano internacional em harmonia com força, mas sem antagonizar com as outras nações. A delicada construção de uma América do Sul, e uma América Latina, mais unida não foi um esforço qualquer -- tampouco a aproximação com a África e a Ásia. Dilma pegou um mundo em crise, mas não sacrificou salários, empregos ou programas sociais. Em outra borda, avançou com temas como o Marco Civil da Internet. Num sentido contrário, qual o compromisso de Aécio com a liberdade de imprensa, com a liberdade na rede? Nenhum. Aécio emerge com um projeto que, a rigor, é a mesma coisa que deu errado nos anos 1990, cercado, ainda, por uma nuvem de tags péssima. A sua base de apoio, torno a insistir, me assusta. Uma hora são os nordestinos os culpados, outra hora, é ato de cultura que reúne o Coronel Telhada (?!). A proposta que Aécio defende sobre a redução da maioridade penal é, sem dúvida, um absurdo contra os direitos humanos. O que tem feito Aécio para segurar seus radicais? Isso não quer dizer que Dilma ou o PT não tenham cometido erros importantes. Cometeram sim. Sobretudo porque tem dificuldade em lidar com o Brasil novo que eles próprios ajudaram a criar. Mas Aécio certamente está pouco entusiasmado em manter esse Brasil; seu ministro da fazenda escolhido, e anunciado, de antemão já fala em um receituário "duro" e "impopular", afinal, o salário mínimo estaria alto. A questão nem é moral, é científica mesmo: em que sentido o consumo dos pobres é a razão da crise brasileira? Se consomem, graças a programas sociais e aumento salarial, movimentam a economia. O que nos interessa mexer nisso? Porque uma medida boa, para "acertar a economia", teria de ser impopular? E, naturalmente, não é possível, com uma política de cortes de benefícios sociais -- dos pouco que temos -- governar sem um estado policial mais endurecido do que este em que já vivemos. Ademais, Aécio acena de outro lado, falando que os programas sociais não vão acabar. Mas quem mente, ele ou seu ministro da fazenda? Muito embora o jovem Neves jamais tenha falado que não vá arrochar os empregos e os salários. Ainda, no saldo das atuais eleições, não foi apenas o PT que pagou. O PSOL, embora tenha crescido um pouco, ocupa um espaço aquém do que um partido programático como ele merecia. O mesmo vale pela a esquerda de um modo geral. Assombra o avanço de pequenas agremiações de aluguel ou, até mesmo, radicais de direita. Tudo dentro de um contexto histórico que, paradoxalmente, confirma muitas das antevisões da esquerda: o agravamento da crise ambiental, a impossibilidade do capitalismo existir sem crises ou sem sacrificar a democracia e a paz etc etc. Nunca a esquerda se provou tão certa, mas nunca sua vida foi tão difícil. 2014 é a primeira eleição democrática na qual o peso relativo das esquerdas diminuiu. Ainda que se aponte que hoje as coisas se enveredem pela crítica antissistêmica -- expressa na abstenção eleitoral, votos em branco ou nulo, o movimento de negação, deslegitimação e destituição em geral --, o fato é que isso não raramente se coloca com a consistência constituinte razoável. Há momentos pontuais, o que quase sempre se esvai e se atomiza. A luta pela constituição de um país mais democrático, dentro e fora do sistema como ele é, exige muito trabalho. Não é uma tarefa fácil, sem dúvida. Ganhe Dilma ou Aécio, o futuro disso está nas mãos dos variados setores que a compõem. Isso não cairá do céu, muito menos sairá do plano de um governo. Não voto nulo porque não acredito que seja de um governo sim mais conservador, como o que propõe Aécio, e ainda com viés de política de austeridade, vá representar um cenário melhor para a democratização do Brasil. Ou igual, que seja. A austeridade só gerará mais violência -- de Estado e difusa --, o que alimenta a fascistização. O trabalho será duplo num cenário desses. E, como ensina a história, nada vem do nada. Nada emerge do nada. Voto sim Dilma, sem esperança ou medo, desespero ou vontade de segurança. Voto, justamente, porque não espero de um governo [do Estado] não a salvação, mas que atrapalhe menos a nossa vida. * * * originalmente publicado no blog do hugo, o descurvo. * * * para receber os próximos textos do alex castro com exclusividade no seu email, assine a newsletter. Dilma-sendo-interrogada-Novembro-de-1970 - Cópia