toda obra de arte está ensopada de sangue

o davi não é inocente dos crimes dos borgia. dom casmurro não é inocente da escravidão. nós não somos inocentes do amarildo.

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a questão é: sangue de quem? e a questão seguinte é: o que NÓS vamos fazer a respeito? * * * a história, disciplina criada para validar e dar arcabouço ideológico aos jovens estados nacionais do século xix, já nasceu do lado dos vencedores. não existe patriotismo possível sem uma história nacional renovando-o e naturalizando-o de geração em geração. os atuais grupos dominantes são herdeiros dos antigos conquistadores. o discurso patriótico que canta as vitórias nacionais passadas sempre beneficia os atuais poderosos. todos os vencedores, de todos os tempos, participam da mesma procissão triunfante, na qual os dominantes de hoje pisam e passam por cima das massas derrotadas, confirmando, ilustrando e validando sua superioridade, e trazendo nas mãos seu botim de guerra: a cultura. os pretensos tesouros culturais da humanidade. por isso, não pode existir nenhuma obra de arte que não seja ao mesmo tempo um inventário e um testamento de barbárie. que não esteja ensopada de sangue. que não seja cúmplice dos poderosos. o desafio é utilizar nossa boa, velha e ensanguentada história nacional para promover um novo tipo de patriotismo, um patriotismo que subverta e quebre a continuidade histórica da narrativa dos vencedores, que recupere as tradições revolucionárias dos vencidos, que exponha a mentira da naturalização do mundo, que nos convide a todas a recriar esse mundo de acordo com desejos e aspirações mais igualitários e mais humanos. o davi, de michelângelo, não é inocente dos crimes dos financistas florentinos. dom casmurro não é inocente dos crimes da escravidão. nós não somos inocentes do amarildo. * * * o texto acima é uma paráfrase de walter benjamin. leia o texto completo. * * * gosta dos meus textos? então, assine o meu newsletter e leia prévias exclusivas: alexcastro.com.br/assine