CULTURA POP

Taylor Swift lança “The Life of a Showgirl” e mergulha no jogo entre amor, fama e poder

Cercado de mistério, homenagens e possíveis provocações, o novo álbum da estrela pop instiga fãs do mundo todo — e a Fórum ajuda a desvendar o que se esconde nas entrelinhas

Escrito en Blogs el
Jornalista que atua em Brasília desde 1995, tem experiência em redação, em comunicação corporativa e comunicação pública, em assessoria de imprensa, em produção de conteúdo, campanha política e em coordenação de equipes. Atuou, entre outros locais, no Governo Federal, na Presidência da República e no Ministério da Justiça; no Governo do Distrito Federal, na Secretaria de Comunicação e na Secretaria de Segurança Pública; e no Congresso Nacional, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados e na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO).
Taylor Swift lança “The Life of a Showgirl” e mergulha no jogo entre amor, fama e poder
Divulgação

Na madrugada da última sexta-feira (3), Taylor Swift lançou "The Life of a Showgirl", seu 12º álbum de estúdio — e, em poucas horas, já fez história. Em menos de 11 horas após a estreia, o disco se tornou o álbum mais reproduzido em um único dia no Spotify em 2025, superando todos os lançamentos anteriores do ano.

Divulgação

Segundo comunicado da plataforma, o feito veio logo após o Spotify realizar uma ativação imersiva de três dias em Nova York, entre 30 de setembro e 2 de outubro, para celebrar o lançamento. O evento transportou os fãs para o universo glamouroso das showgirls, com caça a easter eggs, sessões de fotos temáticas e brindes exclusivos, reforçando a atmosfera de mistério e espetáculo que marca o novo trabalho de Swift.

Agora, uma legião de fãs — no Brasil e no mundo — entrou em modo detetive, vasculhando cada verso em busca de mensagens ocultas, referências cifradas e possíveis indiretas a pessoas reais que teriam inspirado as letras do disco.

Mas afinal, quem são essas pessoas? Há mesmo músicas sobre o noivo da cantora, o jogador de futebol americano Travis Kelce? E será que sobrou alguma indireta para Charli XCX, outra estrela poderosa do pop contemporâneo?

A jornalista Madison Malone Kircher, do New York Times, que cobre cultura digital e internet, investigou essas pistas — e a Revista Fórum reproduz aqui os principais destaques, sob medida para os swifties brasileiros.

As supostas indiretas para Charli XCX

Getty Images - Taylor Swift e Charli XCX

Charli XCX é uma cantora, compositora e produtora britânica conhecida por seu estilo pop ousado, eletrônico e experimental — um som que a transformou em uma das artistas mais influentes da música pop contemporânea.

Nascida Charlotte Aitchison, em Cambridge, na Inglaterra, Charli começou a carreira ainda adolescente e ganhou fama mundial com sucessos como "Boom Clap", 1999 e "Speed Drive" — este último, parte da trilha sonora do filme "Barbie" (2023).

Taylor Swift e Charli se conhecem há anos. Em 2018, Charli foi uma das artistas convidadas para abrir os shows da "Reputation Stadium Tour", uma das maiores da carreira de Taylor. A parceria, porém, acabou rendendo ruído entre as duas.

Em entrevista à Pitchfork — uma das revistas mais respeitadas da música e da cultura pop, conhecida por suas críticas afiadas e entrevistas com grandes nomes — Charli afirmou que se sentia “como se estivesse cantando para crianças de 5 anos” durante os shows da turnê de Swift. A frase caiu mal entre os fãs e foi interpretada como uma crítica ao público da cantora estadunidense.

Depois da repercussão negativa, Charli tentou se explicar, dizendo que não quis ofender Taylor e que sua fala havia sido tirada de contexto. Mesmo assim, a má impressão ficou — e os fãs nunca esqueceram.

Em 2024, a britânica lançou o álbum "Brat", um dos mais elogiados (e polêmicos) do ano. Nele, a faixa "Sympathy Is a Knife" (“Simpatia é uma faca”) chamou atenção por supostamente conter indiretas a Taylor.

Na música, Charli canta: “Não quero vê-la no camarim do show do meu namorado / Dedos cruzados, espero que eles terminem logo.”

O detalhe é que Charli é casada com George Daniel, baterista da banda The 1975, e Taylor teve um breve romance com o vocalista do grupo, Matty Healy — o que fez os fãs conectarem imediatamente os pontos.

Agora, com "The Life of a Showgirl", Taylor parece ter dado o troco.

A faixa "Actually Romantic" (“Na Verdade Romântica”) foi interpretada como uma resposta direta a Charli XCX. Na letra, Taylor fala sobre alguém que a chamou de “Barbie entediante” sob efeito de cocaína e ironiza o fato de “viver de graça” na cabeça dessa pessoa.

Seria uma provocação a Charli? Ninguém sabe ao certo — até porque Taylor nunca confirma nem desmente nada. Mas, como sempre, a internet já tomou partido, transformando mais um possível desentendimento em um capítulo épico da cultura pop contemporânea.

Travis Kelce: o noivo que virou inspiração

Taylor também parece ter se inspirado no noivo, o jogador de futebol americano Travis Kelce. Ela até anunciou o álbum no podcast dele, New Heights, apresentado junto ao irmão.

Uma das faixas mais comentadas é "The Fate of Ophelia" (“O Destino de Ofélia”), que mistura referências a Shakespeare e à história do casal.

“Ouvi você me chamar no megafone / Quer me ver sozinha”, canta Taylor — o que muitos interpretam como uma lembrança de quando Kelce tentou conhecê-la em um show da Eras Tour.

Em outra parte, ela diz: “Juro lealdade às suas mãos, ao seu time, às suas vibrações.”

O verso faz referência ao número da camisa de Kelce (87) somado ao número favorito de Taylor (13) — que juntos formam 100, algo que o jogador já usou como legenda no Instagram.

Há ainda "Opalite", ligada à pedra de nascimento de Kelce (a opala), e "Wi$h Li$t", em que Taylor canta sobre “ter filhos e uma casa com uma cesta de basquete”.

Mas a mais explícita de todas é “Wood”, faixa em que Taylor brinca com o nome do podcast de Travis Kelce e solta versos nada sutis sobre paixão e desejo.

Em entrevista à SiriusXM Hits 1, a cantora contou que até sua mãe teve uma interpretação inusitada da música. “Acho que ela acredita que ‘Wood’ é sobre superstições populares — o que, de certa forma, até é”, disse Taylor, rindo. “Essa é a alegria do duplo sentido: as pessoas veem o que querem ver.”

Com trechos como “Ele me hipnotizou e abriu meus olhos / Árvore redwood, não é difícil de ver / O amor dele foi a chave que abriu minhas coxas”, a canção está longe de qualquer inocência. Mas, para Taylor, a linguagem direta faz parte da arte: “Essas decisões são divertidas — e, às vezes, hilárias de se tomar”, afirmou, resumindo o tom provocador e bem-humorado que percorre todo "The Life of a Showgirl".

Elizabeth Taylor: uma inspiração de poder e glamour

Taylor Swift também presta homenagem à atriz Elizabeth Taylor, uma das maiores estrelas de Hollywood, famosa por sua beleza, suas joias e seus oito casamentos.

A música Elizabeth Taylor cita marcas luxuosas como Cartier e faz referência ao perfume icônico da atriz, "White Diamonds": “Todos os meus diamantes brancos e amantes são para sempre”, canta Swift.

A artista já havia mencionado Elizabeth em "…Ready For It?" (2017), comparando um relacionamento intenso ao casamento turbulento da atriz com Richard Burton.

“Father Figure”: uma música sobre poder

Outra faixa que chamou atenção é "Father Figure" (“Figura Paterna”), que faz alusão à música de George Michael.

Os fãs estão divididos: alguns acham que é uma indireta para Olivia Rodrigo, cantora e compositora dos EUA que ganhou fama mundial com o hit "Drivers license" e o álbum SOUR (2021). Ex-atriz da Disney, Olivia é vista como uma das principais vozes da nova geração do pop, mas sua relação com Taylor esfriou após disputas por direitos autorais e rumores de rivalidade.

Outros acreditam que a canção fala sobre a briga de Taylor com a indústria musical.

Taylor teve uma longa disputa com seus antigos empresários, Scott Borchetta e Scooter Braun, que compraram os direitos de seus primeiros discos.

Para recuperar o controle sobre seu trabalho, ela começou a regravar todos os álbuns e lançar novas versões com o selo Taylor’s Version — uma estratégia que deu certo e virou um marco na história da música.

O que disse a crítica especializada

O lançamento de "The Life of a Showgirl" dividiu a crítica — dentro e fora do Brasil. Para alguns veículos, o álbum consolida o domínio de Taylor Swift sobre o pop contemporâneo; para outros, marca um momento de repetição e desgaste criativo.

A Pitchfork elogiou o talento narrativo e o apelo emocional da cantora, mas criticou a falta de ousadia sonora, dizendo que o disco recicla ideias já vistas em trabalhos anteriores.

O The Guardian foi ainda mais duro: classificou o álbum como “divertido em partes”, porém “inconsistente” e “dependente de frases recicladas”, abaixo das expectativas para uma artista de alcance global.

Já a Rolling Stone Brasil considerou o novo álbum como “um dos momentos mais fracos da carreira” da cantora, com letras simplistas, sonoridade previsível e faixas que soam mais como desabafos do que grandes composições pop. Para a publicação, o resultado é “um álbum visualmente exuberante, mas musicalmente morno”.

A Newsweek, por sua vez, adotou um tom equilibrado: reconheceu os bons momentos do disco e a força de Taylor como contadora de histórias, mas destacou que o material carece de brilho e risco — um álbum elegante, porém sem grandes surpresas.

Taylor Swift e o público brasileiro

A relação do público brasileiro com Taylor Swift vai muito além da música. É emocional, intensa e, às vezes, trágica — como mostrou o episódio da fã Ana Clara Benevides, que morreu durante um show da cantora no Rio de Janeiro, em 2023, sob calor extremo.

Ainda assim, a devoção permanece intacta. A cada álbum, Taylor mobiliza multidões, inspira debates e até provoca mudanças políticas, como o projeto apelidado de “Lei Taylor Swift”, criado para combater a revenda abusiva de ingressos.

Num país onde o pop internacional sempre teve público cativo, Taylor Swift ocupa um lugar singular: é ídolo, marca, fenômeno e, para muitos, o espelho de um tempo em que música, internet e emoção coletiva se tornaram uma só coisa.

Logo Forum