Francês decide transmitir sua morte, ao vivo, pelo Facebook

O enfermo teve o pedido de eutanásia negado e decidiu agir por conta própria; objetivo é "descansar em paz" e abrir um debate sobre a abreviação da vida em caso de doença grave

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Um francês acirrou a discussão na Europa sobre a abreviação da própria vida em caso de doença grave e degenerativa.

Alain Cocq (57) sofre de uma enfermidade rara que provoca isquemia, o que impede a circulação do sangue em tecido ou órgão. "Os meus intestinos esvaziam-se para uma bolsa. A minha bexiga esvazia-se para uma bolsa. Sinto-me cheio e com um nó no estômago. Se é para ficar a olhar para o teto como um idiota à espera que aconteça, digo não", pontuou, esclarecendo sua agonia.

Por isso, Alain Cocq entrou com pedido para fazer uma eutanásia, mas o procedimento lhe foi negado. Então, ele decidiu radicalizar como forma de protesto. Ele suporta essa doença degenerativa incapacitante há 34 anos.

Em 2016, a França aprovou a lei Claeys-Léonetti que permite a interrupção da vida, mas ela se restringe a pessoas cujo diagnóstico fatal seja para “um curto prazo”.

Sofrendo, Cocq fez várias viagens pela Europa para defender a sua causa. No dia 25 de julho ele fez uma ligação telefônica ao presidente Emmanuel Macron, pedindo ao presidente para intervir junto às autoridades para lhe permitir “descansar em paz”. Porém, o enfermo só obteve resposta essa semana, e por carta.

Macron disse, nesta quinta-feira (3), não poder ajudar o compatriota, alegando não estar acima das leis. “Não estou em condições de aceder ao seu pedido", respondeu-lhe Macron. "O seu desejo é pedir uma ajuda ativa para morrer, que atualmente não é autorizada no nosso país", acrescentou o presidente, que ainda manifestou seu "apoio pessoal" e "profundo respeito" por Alain Cocq.

Cocq, então, decidiu "se deixar morrer", parando de ingerir alimentos, líquidos ou medicamentos, com exceção de analgésicos, a partir desta sexta-feira (4), "ao deitar". Com a medida radical, Alain Cocq pretende denunciar a insuficiência da lei atual.

"Decidi dizer 'stop'. Pouco a pouco, todos os órgãos vitais serão afetados", explicou à France-Presse, acrescentando que está tomando morfina para combater as dores constantes.

Para "mostrar aos franceses o que é a agonia a que a lei Léonetti obriga", Alain Cocq decidiu transmitir sua morte, a partir de sábado (5) de manhã, na sua página no Facebook. Ele acredita que tudo termine em quatro ou cinco dias.