Intelectuais e ativistas negros fazem debate na USP sobre o golpe

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[caption id="attachment_1030" align="aligncenter" width="960"]Mais de 150 pessoas participam do debate no auditório Freitas Nobre Mais de 150 pessoas participam do debate no auditório Freitas Nobre[/caption] Mais de 150 pessoas lotaram o auditório Freitas Nobre, do departamento de jornalismo e editoração da Universidade de São Paulo, no dia 30 de março para o debate "A crise política na perspectiva dos movimentos sociais". Com a disputa política caminhando para um acirramento e histeria ideológica, que faz com que pessoas portando roupas vermelhas sejam alvos de agressões na rua, mais que necessário construir espaços para aprofundar o debate político com seriedade. Presentes a mesa intelectuais e ativistas negros: Silvio Almeida, professor do curso de direito da Universidade Mackenzie; Rosane Borges, pós-doutoranda em Comunicação na USP; Tatiana Oliveira, jornalista e doutoranda pelo Prolam/USP e eu. O debate foi promovido pelo Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP, pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação e a Rede Latinoamericana Antirracista Quilombação. Tanto os palestrantes como os presentes ao debate com suas intervenções apontaram que: 1.o) A tentativa em curso de derrubar a presidenta Dilma Roussef configura-se um golpe, pois não há base jurídica para o impeachment; 2o.) Que o que está por trás deste processo é a tentativa de impor um novo programa de governo que não passou pelo crivo das urnas, sintetizado na proposta intitulada "Ponte Para o Futuro", disponível no site do PMDB (clique aqui para acessar); 3o.) Que a atual crise demonstra o esgotamento de uma política de conciliação de classes tocada pelos governos petistas desde 2003; e 4o.) Que é necessário agir não só para barrar o golpe mas também para construir uma alternativa à esquerda para o país. [caption id="attachment_1031" align="aligncenter" width="960"]Da esquerda para direita: Dennis de Oliveira. Silvio Almeida, Tatiana Oliveira e Rosane Broges Da esquerda para direita: Dennis de Oliveira. Silvio Almeida, Tatiana Oliveira e Rosane Broges[/caption] Silvio Almeida foi enfático ao declarar que o capitalismo está em profunda crise e ações como esta no Brasil tratam-se de versões "pós-modernas" de golpe (como ocorreu no Paraguai e em Honduras) em que se busca cobrir de certa legalidade e institucionalidade. Crises do capitalismo são resolvidas, na perspectiva do capital, por meio de soluções autoritárias, afirmou o professor Almeida. Rosane Borges lembrou do histórico de opressão racial e de gênero que se abate sobre a mulher negra e que o pensamento autoritário visa radicalizar esta situação. Para ela, incomoda aos reacionários que meninas negras não tenham como única perspectiva serem empregadas domésticas e vislumbrem possibilidades mais amplas de inserção social. Eu destaquei na minha intervenção que a aposta da presidenta Dilma nos anos 2011/2012 de que a desoneração do capital traria como resultado um maior investimento deste que alavancasse o crescimento econômico não deu certo. Os ganhos auferidos pelo capital beneficiado por medidas como financiamentos subsidiados do BNDES, isenções fiscais, aberturas de mercados externos, entre outros, foram direcionados para aplicação no mercado especulativo e até para evasão para paraísos fiscais. Por isto, empresários como Paulo Skaf que chegaram a ir a televisão defender a presidenta Dilma hoje fazem campanhas para o seu afastamento. Já Tatiana Oliveira fez um rápido histórico das mobilizações dos movimentos sociais nos últimos anos, dando destaque para a marcha das mulheres negras em 2015, concluindo que a força que irá barrar o golpe será dada pelos movimentos sociais. Mais que diagnósticos aprofundados da situação, o debate apontou perspectivas políticas para o futuro do Brasil na ótica dos movimentos sociais. A presença maciça de pessoas neste evento, apesar das fortes chuvas que castigaram a cidade neste dia e a dificuldade de deslocamento para o campus da USP no período noturno, mostra que há espaço para a construção de uma alternativa para o país.