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Quem é de esquerda precisa ter uma coisa bem nítida: o capital não é amador nas suas ações políticas. Muito menos os seus prepostos políticos.
Quando o vice-presidente Michel Temer vazou o áudio em que faz um discurso já como presidente, dando o impeachment como favas contadas, muitos se apressaram para considerar aquele gesto uma demonstração da sua pequenez política.
O gesto foi arriscado. Temer pode por a sua carreira política em risco. Mas ele não foi algo impensado ou mal pensado. Foi um risco calculado.
O áudio foi direcionado não para a opinião pública, mas para os parlamentares que vão votar no domingo. Em especial aos ainda indecisos.
O áudio apresenta uma versão "light" do programa ultraliberal "Ponte para o futuro". Fala que não vai acabar com os programas sociais (inclusive afirma que isto é falso) mas que é necessário "rever" os programas.
Com isto, parlamentares que temem ser rechaçados pelas suas bases ficam menos temerosos de apoiar o golpe.
Mas o mais importante é que em nenhum momento do seu "discurso", Temer fala em continuidade das apurações dos casos de corrupção. O que pode sinalizar que isto não será o centro do "novo" governo.
Aí chega na terça feira é preso o ex-senador Gim Argello na operação "Vitória de Pirro". O político atuou com as empreiteiras na proteção das mesmas na CPMI da Petrobrás. Aproxima-se, cada vez mais, a Operação Lava Jato dos parlamentares de todos os partidos.
Prisões, telefones grampeados, conduções coercitivas fr executivos e parlamentares com farta cobertura da mídia. Todos do mundo político ficam apreensivos.
O ministro da Justiça que anunciou que iria controlar eventuais abusos da Polícia Federal. Uma juíza da Vara Federal de Brasília suspende a sua nomeação.
Fica, assim, demonstrado que, permanecendo o governo Dilma, as ações da Lava Jato continuarão sem qualquer "controle". A frágil base institucional do governo atual sustenta esta tese.
Temer aponta, no seu "discurso vazado", que consumado o golpe, a questão da corrupção não será mais o centro da agenda.
A base fisiológica do governo, como por exemplo o PP, é a principal interessada nisto. Ato contínuo, o partido decide deixar a base do governo e apoiar o impeachment.
Fortalece assim o discurso martelado da mídia do "já ganhou". A Globo até muda o jogo do Corinthians de domingo para sábado.
No noticiário econômico, pululam as notícias desastrosas sobre a recessão (que não é só brasileira, é mundial, mas isto não é ressaltado) e tenta passar a impressão que tudo isto é fruto da crise política - que só acabará com o golpe.
Ninguém é amador neste jogo.