É preciso combater as fraudes nas cotas raciais

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Causou muita polêmica a medida tomada pela Secretaria do Planejamento do governo golpista de Temer de instituir uma comissão para verificação dos candidatos cotistas nos concursos públicos. Agora, para se candidatar as vagas reservadas para negros e negras, o candidato terá que passar por uma avaliação de uma comissão especial que irá verificar a veracidade da autodeclaração de ser negro. Até o momento, as vagas reservadas para negras e negros dependiam apenas da autodeclaração dos candidatos. Por conta disto, várias fraudes foram cometidas por pessoas brancas que se autodeclararam como negras para concorrer nestas vagas. O movimento negro denuncia há tempos isto. Este comportamento de pessoas brancas desmoraliza e escracha uma política pública que foi produto de muitas lutas do movimento negro. Demonstra o descompromisso com a superação do racismo de muitos brancos. A instituição da comissão não pode ser analisada apenas como uma "medida do governo golpista" como marotamente algumas pessoas do campo progressista tem defendido. Quando foram aprovadas as cotas nos concursos públicos do município de São Paulo, a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial realizou várias reuniões com lideranças para discutir medidas para coibir a fraude. A autodeclaração não é mais suficiente por conta das fraudes de pessoas brancas. Foram pessoas brancas que causaram esta situação, é bom frisar. E se se pode criticar a medida por ser do governo golpista, a posição crítica à comissão por parte de jornalistas progressistas como Laura Capriglione e Leo Sakamoto é a mesma do jornal Folha de S. Paulo. Folha, que é a favor do golpe (e até falsificou pesquisa). Folha, que é contra as cotas (disse isso até em propaganda). Negras e negros sempre foram classificados por outros. Por responsáveis pelo recrutamento de empregos (para negar a vaga). Pela Polícia (para ser tipificado como suspeito). Por pessoas na rua que atravessam a via ou seguram a carteira. Esta classificação racial para negar a cidadania é que é semelhante ao apartheid. Não é a mesma coisa que a comissão de verificação. Classificar como negra ou negro é para ter direito a ação afirmativa. É para ter a reparação mínima. Interessante que os críticos da medida não apresentam outra alternativa para superar as fraudes, como se não tivessem nada com isso. Ou como se elas não existissem. Coibir as fraudes é defender a política de ação afirmativa contra a esculhambação praticada por pessoas brancas mal intencionadas.