Capitalismo e intolerância em São Paulo

Na ausência de uma alternativa de esquerda mais forte em São Paulo, cresce um discurso ainda mais conservador, intolerante e racista.

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Lembro-me de uma fala da professora Marilena Chauí em um debate realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em 2012, na qual ela diz que São Paulo tem uma tendência conservadora porque por aqui o "capitalismo se realiza". Reproduzi esta ideia em um debate que participei no núcleo do Consulta Popular no Jardim Miriam, naquele mesmo ano, pouco antes das eleições municipais, lembrando que é em São Paulo que se localiza a sede dos bancos particulares, onde se localiza a principal Bolsa de Valores - portanto é aqui a sede do mercado especulativo e rentista, onde se encontram o maior número de estabelecimentos de ensino particulares, planos de medicina privada, equipamentos culturais privados, entre outros. Em suma, por conta desta concentração de oferecimento de serviços por iniciativa privada e por ser a sede do grande capital, as condições objetivas são favoráveis para a transformação do cidadão em consumidor.

Em uma sociedade com o capitalismo enraizado em sua maior profundidade, pouco espaço sobra para um debate de natureza pública. O que existe é um sujeito-consumidor que deseja apenas e tão somente que o Estado garanta "segurança" (em todos os sentidos) para os seus negócios privados - seja a sua vida privada, na sua família e na sua casa, sejam as suas iniciativas comerciais.

Basta ver como se desenvolveu a campanha por estas paragens. As bandeiras de recrudescimento da punição, com a redução da maioridade penal, aumento das penas, entre outros, virou tema central. A eleição de vários parlamentares com este perfil para a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Deputados também. Ao lado disto, bandeiras moralistas e fundamentalistas, de perfil pretensamente religioso, evocando a "família" (no sentido moral, bem entendido) também tiveram peso.

E o grande paradoxo que tais posições se mostram nitidamente insuficientes para resolver os problemas que a população enfrenta. A violência continua, o "capitalismo" paulista aplicado a uma estatal como a Sabesp está levando a população a ficar sem água, os equipamentos públicos de educação estão sucateados e a medicina privada não atende com a qualidade necessária. E, claro, o capitalismo está em sua fase das crises cíclicas.

Na ausência de uma alternativa de esquerda mais forte em São Paulo, cresce um discurso ainda mais conservador, intolerante e racista. O discurso conservador, a medida que as suas "verdades" fraquejam, parte para a virulência: a culpa são os "vagabundos nordestinos" que consomem os nossos impostos com o bolsa família; a culpa é da corrupção dos petistas; a culpa são dos homossexuais que colocam em risco os valores da "família".

Este tem sido o tom da campanha conservadora nestas eleições em São Paulo.