Enquanto Moro usa a imprensa, o PT é usado por ela

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[caption id="attachment_965" align="aligncenter" width="300"]O ministro Jacques Wagner concede entrevista exclusiva ao jornal Folha de S. Paulo O ministro Jacques Wagner concede entrevista exclusiva ao jornal Folha de S. Paulo[/caption] No artigo intitulado “A operação mani pulite publicado em 2004, o juiz federal Sergio Moro, principal responsável pelos processos judiciais da chamada Operação Lava Jato, destaca a importância dos vazamentos seletivos da investigação da operação mãos limpas na Itália para manter a opinião pública mobilizada e garantir o sucesso daquela ação que investigou a corrupção praticada pelos então principais partidos políticos italianas, o PSI e a Democracia Cristã. Moro fala literalmente em “uso da imprensa” e, no seu artigo, existe uma tendência de justificar os meios pelos fins. Um aspecto maquiavélico, segundo o cientista social Andre Singer (em “O lulismo nas cordas”, revista Piauí, dezembro/2015). Andre Singer comenta como esta análise feita por Moro da Operação Mãos Limpas tem incrível coincidência com o que aconteceu dez anos depois do artigo publicado, na Operação Lava Jato. Revela-se, assim, uma concepção jurídica do juiz federal. Esta mesma imprensa que deve ser “usada” segundo o juiz da Operação Lava Jato é aquela onde o PT se submete. A presidenta Dilma Roussef publicou, em primeira mão, em um órgão desta mesma imprensa “usada”, a Folha de S. Paulo,  um artigo intitulado “Um feliz 2016 para o povo brasileiro”. Leandro Fortes lembra que o “Blog do Planalto” foi autorizado a reproduzir o artigo somente as 13h39 do dia 1º. de janeiro (clique aqui para ler). Até aquele horário, ou seja, praticamente a manhã toda do primeiro dia do ano, os assinantes da Folha de S. Paulo tiveram acesso exclusivo a este texto, tendo tempo, segundo Fortes, a criticá-lo e ridicularizá-lo nas redes (lembrando que a maioria dos assinantes da FSP são contrários ao governo). Nesta mesma FSP, o ministro da Casa Civil Jacques Wagner, concedeu entrevista publicada na edição de domingo. Entre outras coisas, o ministro afirma que o PT errou ao não fazer a reforma política e usar metodologias antigas na política (do financiamento privado de campanhas), sintetizando o processo no ditado “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”. Disse ainda que o PT vai enterrar o processo de impeachment na Câmara, que deverá haver correções na política econômica, entre outras coisas. Qual foi a manchete (de capa) da entrevista? “PT utilizou metodologias antigas e se lambuzou, diz Jacques Wagner”. O que passa a ideia não só de reprodução de métodos arcaicos da política, mas do abuso, do exagero. Vai ao encontro da percepção que vem sendo construída na opinião pública de que o PT é o partido mais corrupto do país. A manchete poderia ser outra? Sem dúvida, a escolha do título é de competência do editor e orienta a percepção da totalidade da matéria. Principalmente porque grande parte do leitorado lê, comenta e reproduz a manchete. O que fica da entrevista não é a fala de que haverá pequenas mudanças na política econômica ou de que é importante a reforma política, mas que o PT “se lambuzou”. Bradar contra a "manipulação" é bobagem. A Folha tem suas posições e orientações editoriais. Muito nítido para o juiz que tem como estratégia “usar a imprensa”. Pouco claro para quem acredita no conto da carochinha da neutralidade da mídia e de que pode civilizá-la, a ponto de querer usá-la como instrumento único de mediação com a população. No final, ao contrário do juiz, o PT é usado por ela.