Falta d'água: o fracasso e o elitismo do governo estadual

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O estelionato eleitoral e midiático do caso da falta de água em São Paulo está ficando não só cada vez mais visível mas também evidenciando o caráter elitista das políticas do governo estadual. Por motivos puramente eleitoreiros, o governo estadual nunca admitiu que o problema da água era sério, mesmo alertado por técnicos da Sabesp desde o ano passado. Sem contar que boa parte dos problemas que a população enfrenta hoje decorre do modelo de gestão da empresa estatal que foi capitalizada por meio da venda de ações em bolsas de valores e que, diante de tal situação, teve que priorizar a distribuição de dividendos aos acionistas minoritários em detrimento de investimentos na melhoria de captação, tratamento e fornecimento de água a uma cidade que cresce constantemente, sem contar os impactos ambientais causados pelo adensamento de áreas anteriormente ocupadas por matas e vegetação. Por que estelionato midiático? Porque este problema nunca foi abordado pela mídia hegemônica. Principalmente por uma questão de cunho ideológico: a falta de investimentos na Sabesp é consequência direta de um modelo de privatização que é defendido ardorosamente pela mídia hegemônica, em especial os seus "analistas" econômicos. Abordar este assunto significa colocar em xeque a tese de que a iniciativa privada é eficiente per si e que o Estado deve ser reduzido. E, em uma perspectiva mais imediata, significaria prejudicar a candidatura de um partido que é preferido pela mídia hegemônica. Com o agravamento da crise, as medidas tomadas pelo governo do estado de São Paulo tem um cunho absurdamente elitista. Primeiro a idéia do "bônus" para quem reduzisse o consumo. Uma ideia aparentemente interessante mas que traz consigo que quem pode pagar pode continuar gastando água. Para aqueles que não tem dinheiro, não há outra opção que não seja economizar. É o mesmo que vem acontecendo com a aplicação parcial do Código de Trânsito: há uma celeridade na aplicação de multas (que são pagas por quem tem dinheiro) mas não ocorre mesmo com a punição de motoristas que arriscam a vida de outras pessoas (veja o caso daquele cantor que teve dois acidentes graves por estar dirigindo alcoolizado, em um deles matou uma pessoa, e foi solto pelo delegado mediante uma fiança de 10 mil reais - que, evidentemente, ele teve todas as condições de pagar). Agora, a Sabesp vem com a proposta da "redução" na pressão da água para reduzir a captação das águas das represas. Uma ideia também aparentemente interessante pois, segundo a direção da estatal, pode reduzir os desperdícios em vazamentos, mas que pune moradores de regiões mais altas. Com menos pressão, a água chegará em menor quantidade nos bairros mais altos - moradores de morros ou locais mais distantes dos centros de distribuição serão prejudicados.  E também as residências menores que tenham caixas d'água pequenas ou que não a possuem. Enfim, o que se observa neste problema da falta d'água em São Paulo não é só o resultado de um modelo desastroso de gestão pública - que a mídia quer esconder pois vai de encontro às suas opções ideológicas - mas também a perspectiva elitista e excludente nas soluções.