Juventude da periferia resiste à violência com política e cultura

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[caption id="attachment_883" align="aligncenter" width="300"]Grafite em frente a sede do Ponto de Cultura Capão Alimentar Grafite em frente a sede do Ponto de Cultura Capão Alimentar[/caption] "Tem policial que arregaça os meninos nas biqueiras da quebrada, tira foto e 'vaza' pelo whatsapp e outras redes sociais, com o aviso: se te pegarmos na droga, o seu final será este", foi o depoimento contundente de um jovem na roda de conversa sobre economias criativas e solidárias, sábado passado no Capão Redondo. A reunião era para discutir projetos de cultura e de economia solidária, mas não tem como não discutir o cenário que passa a periferia das grandes cidades. A violência policial é tanto um mecanismo do genocídio da juventude negra como também de "contenção". As políticas públicas de inserção social e de combate ao racismo nos últimos anos, ainda que extremamente tímidas (o fosso entre brancos e negros praticamente se manteve intacto, mesmo com a melhoria relativa dos pretinhos mais miseráveis), animou boa parte dos jovens negros e negras a sonharem mais alto. Alguns indo até a faculdade, ainda que na maioria nas instituições privadas de duvidosa qualidade e dominada pelo capital norte-americano (como as americanas Kroton, dona da Unianhaguera e Unoeste; e Laurentis, proprietária da FMU/Fiam, Anhembi-Morumbi), atravessar a ponte do lado de lá das mnarginais em São Paulo, não só para trabalhar ou desfilar no carnaval mas para buscar oportunidades de melhoria deixou de ser um sonho tão inatingível. Mas os aparelhos repressivos, aperfeiçoados na época da ditadura militar, funcionam como mecanismos de dissuasão. A negrada tem que continuar na senzala e ir para Casa Grande somente para servir ao "sinhô". A diferença dos momentos atuais é que a galera está apropriando-se das tecnologias da informação e criando canais próprios de comunicação. Informada, uma parte significativa dos jovens da periferia constroem seus mecanismos de resistência. No dia da reunião, sábado passado, pessoas de órgãos públicos federal, estadual e municipal ouviram que o Banco Popular do Jardim Maria Sampaio, com um lastro de apenas 30 mil reais, movimenta um circuito de economia local que tem alavancado projetos comunitários importantes, desde pequenas cooperativas de produção, iniciativas de formação profissionalizante e arranjos produtivos locais no campo da cultura. Eventos culturais na perifa movimentam jovens que atuam em estamparias, montagem de palcos, sonoplastia e produção em geral, estimulam novos grupos musicais e geram redes de comunicação alternativa. No meio da reunião, um "coffe-break" preparado por uma cooperativa local, com pães caseiros de cenoura, patê de berinjela, suco natural. Na sequencia, não poderia deixar de faltar, um churrasco na laje na sede de um clube de futebol do bairro, bancado coletivamente pela contribuição espontânea dos presentes. E, de quebra, ainda ganhei um CD do Vitor Trindade, neto do grande poeta Solano Trindade, com músicas feitas sobre os poemas do grande poeta e artista negro. E nestas rodas de conversa, conexões internacionais: Carlos Guterrez, colombiano de Bogotá, que está no Brasil fazendo a pós graduação em Gestão de Projetos Culturais no Celacc, pode ainda trocar com outros artistas da quebrada os seus estudos sobre a marimba, instrumento usado pelos afrocolombianos. E afirma enfático que o problema da Colômbia não é a guerrilha, mas sim a fome, a miséria e a repressão aos povos campesinos, negros e indígenas. A base de todo este acontecimento foram pequenos investimentos, como o Programa VAI, o Cultura Viva, o Economia Solidária, o Apoio a Cooperativas... Pequenos em montante de recursos mas cujos resultados são grandes porque foram feitos diretamente nas pessoas que fazem acontecer na periferia, contribuindo para descortinar novos horizontes. [caption id="attachment_884" align="aligncenter" width="300"]Roda de conversa no dia 5 de setembro sobre economia solidária e criativa. Roda de conversa no dia 5 de setembro sobre economia solidária e criativa.[/caption] [caption id="attachment_885" align="aligncenter" width="300"]Sede do Ponto de Cultura Capão Alimentar, zona sul de São Paulo Sede do Ponto de Cultura Capão Alimentar, zona sul de São Paulo[/caption]