"Não é intolerância religiosa e sim racismo", afirma Paulo Cesar Oliveira

Escrito en BLOGS el
[caption id="attachment_418" align="aligncenter" width="960"] Paulo Cesar Oliveira (ao centro) na mesa sobre religiosidade nos espaços públicos do XIV Alaindê Xirê, em Embu das Artes.[/caption] O Bàbá Paulo César Oliveira, do Centro Cultural Orùnmilá, de Ribeirão Preto, afirmou na manhã deste dia 31 de outubro que os casos de violência contra os espaços sagrados das tradições africanas não se configuram como atos de intolerância religiosa e sim atos de crime de racismo. A afirmação  foi feita na segunda mesa do XIV Alaindê Xirê (Seminário e Festival Internacional de Culturas Africanas e Afrobrasileiras) que se realiza esta semana no Ilê Afro Brasileiro Odé Loreci, na cidade de Embu das Artes (SP). Para ele, o termo religião não pode ser aplicado às tradições de matriz africana porque a palavra religião vem do latim re-ligare (reconectar-se, religar). "Nós nunca nos desconectamos do sagrado, isto é uma experiência das tradições de matriz judaico-cristã." Paulo César considera que é um "tiro no pé" reduzir estes atos a casos de intolerância religiosa. "As tradições de matriz africana compõe o universo do nosso povo, o povo negro brasileiro. Como povo negro, reivindicamos políticas públicas. Isto é perfeitamente cabível em um Estado laico, pois não se trata de políticas públicas para uma determinada religião", conclui. Neste raciocínio, Oliveira considera que as agressões que casas e praticantes de candomblé e umbanda tem sofrido configuram casos de racismo, portanto puníveis criminalmente. Um pouco antes, Rachel Baptista, doutora em antropologia, apresentou seu estudo sobre materiais didáticos da Lei 10639/03 que utiliza algumas simbologias das tradições africanas para explicar determinados conteúdos. Por conta disto, Rachel afirma que muitos profissionais da educação tem resistido a adotar este material por considerar que fazem apologia do "mal", demonstrando a visão preconceituosa sobre estas tradições. O professor Jocélio Teles, da UFBA, apresentou parte do seu levantamento sobre as casas de candomblé na região de Salvador, afirmando que foram catalogadas cerca de 1.300. Teles afirmou que grande parte delas têm sofrido agressões de todo o tipo, desde invasões e destruição de espaços e objetos sagrados; agressões verbais e físicas a sacerdotes, sacerdotisas e praticantes. Além disto, Teles afirma que muitas casas têm sofrido pressões por parte do poder público com ameaças de desapropriações e da indústria da especulação imobiliária. A articulação do capital e do fundamentalismo religioso de determinadas organizações cristãs protagoniza estes ataques. Jocélio Teles, entretanto, ressaltou alguns avanços institucionais como ações do Ministério Público e a preocupação com a intolerância religiosa existente em vários documentos oficiais. Prefeitura do Embu lança cartilha Na abertura do evento, na quarta-feira, a prefeitura de Embu das Artes apresentou a "Cartilha de Orientação para Legalização de Casas Religiosas de Matriz Africana" contendo os passos para a legalização das casas e, assim, poder obter alguns benefícios que determinados municípios oferecem a espaços religiosos, como isenção de IPTU. O XIV Alaindê Xirê continua até sábado, dia em que será apresentado o I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, além da apresentação das delegações de músicos e a entrega do troféu Alaiandê Xiré deste ano. Na abertura dos trabalhos do do dia 30, foi feita uma saudação a Logunedé pelas sacerdotisas nigerianas Omoryieba Silifatu Lasisi e Mopelola Osunfunmike Oladejo e uma exposição do Bàbá Ògúndáre, bàbálorisá do Ile Ode Loreci, sobre o culto a este orisá no Brasil.