O golpe contra a Dilma é racista - II

Os fatos recentes vão mostrando o caráter racista, machista e classista da tentativa de golpe contra a presidenta Dilma liderado por Cunha e Temer. Em post anterior, comentei que o golpe é racista porque o tom político dos golpistas é justamente contra as políticas públicas e, em especial, de transferência de renda tocadas pelos governos do PT que beneficiam majoritariamente a população negra e, ainda que limitadas, possibilitou uma melhoria nas condições de vida desta população, conforme mostram todos os indicadores. O tom racista e classista fica mais evidente quando se observa o projeto político dos golpistas, expresso no documento "Ponte para o futuro" (disponível clicando aqui). Este documento está no site do PMDB. Os pontos centrais desta proposta são as seguintes: - Acabar com a vinculação constitucional do Orçamento que estabelece percentuais fixos para a Educação e Saúde, entre outros. O que isto significa? Possibilidade de cortes de verbas para saúde e educação. - Fim da indexação do valor das aposentadorias ao salário mínimo. O que isto significa? Achatamento do valor das aposentadorias em médio prazo. - Aumentar a onda de privatizações (o objetivo nítido aqui é a Petrobrás e o pré-sal). Risco: o ex-ministro Renato Janine Ribeiro já disse em audiência no Senado Federal que entregar o pré-sal para as empresas privadas coloca em risco o dispositivo aprovado de direcionar os recursos desta riqueza para a Educação e Saúde. - Aumento do superávit primário e revisão anual dos programas sociais por um comitê "independente" (sic) que irá analisar se o programa irá continuar ou não. O que isto significa? Subordinar os investimentos em programas sociais (como o Bolsa Família) ao atingimento das metas do superávit primário que, em última instância, interessa exclusivamente aos especuladores e mercado financeiro. - Acordos de livre comércio com os EUA e Europa, com ou sem o Mercosul. O que isto significa? Capitulação total ao imperialismo estadunidense e europeu. - Flexibilização dos direitos trabalhistas. Leia-se: fim da CLT. Parte destas propostas já estão sendo articuladas no Congresso Nacional. O deputado Ricardo Barros (PP/PR) está propondo um corte de R$10 bilhões no orçamento do Programa do Bolsa Família já para 2016. Se for aprovado, este corte retiraria cerca de 23 milhões de pessoas do programa. É este o objetivo central dos conservadores: atingir os programas sociais que beneficiam os mais pobres. Por isto, reitero o que foi dito no post anterior: o que desperta raiva nestas pessoas é a melhoria de vida de pessoas da periferia. Como disse o professor Silvio Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama, é um golpe articulado por frações dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), mídia hegemônica e parte do empresariado, em especial o capital financeiro. O governo Dilma não está sendo criticado pelos seus erros, mas sim pelos seus poucos acertos, as políticas públicas. Repito: esta proposta dos golpistas atinge em cheio a população negra e os trabalhadores em geral. Só mesmo a ingenuidade pode sustentar que se trata de um problema de moralidade na política. Principalmente com as ações da Polícia Federal no dia de ontem que atingiram justamente as lideranças do PMDB que estão defendendo o golpe (clique aqui para ler matéria a respeito e aqui para ver a interessante análise do colega Renato Rovai). Pessoas como esta defendendo moralidade é igual Hitler defendendo tolerância. Assim como "minifestações" contra a "ditadura do PT" sendo realizadas no aniversário do AI-5 e com discursos defendendo o assassinato de jovens na periferia por policiais. [caption id="attachment_956" align="aligncenter" width="620"] Agentes da PF fazem busca e apreensão na casa de Cunha (Foto: Folhapress)[/caption]