Reforma previdenciária é a nova lei dos sexagenários

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Tempos atrás, publiquei um artigo afirmando que o golpe praticado contra a presidenta Dilma Roussef era racista (clique aqui para ler). Isto porque o interesse dos golpistas era acabar com políticas públicas que beneficiavam principalmente a população negra e, em especial, as mulheres negras. Nem preciso dizer que os paneleiros e pseudomoralistas de plantão - inclusive alguns "negros" - detonaram o artigo nas redes sociais. Aquela compreensão obtusa de que considera como racismo apenas comportamentos praticados diretamente contra indivíduos negros. Uma dificuldade imensa em entender o racismo para além dos comportamentos. Entendê-lo como estrutura. E, como estrutura, que se expressa em uma lógica que prejudica não uma vítima negra, mas sim o conjunto da população negra do país. A reforma da Previdência proposta pelo governo Temer tem como elemento central exigir a idade mínima de 65 anos para ter direito a aposentadoria integral. Vamos pegar apenas este aspecto da reforma. Abaixo o mapa da expectativa de vida dos subdistritos da cidade de São Paulo: [caption id="attachment_1163" align="aligncenter" width="373"]Os  distritos da periferia da cidade de São Paulo tem  longevidade menor Os distritos da periferia da cidade de São Paulo tem longevidade menor[/caption] Vejam que os distritos de Cidade Tiradentes,  Anhanguera, Jardim Angea, Grajaú e Iguatemi tem as menores expectativas médias de vida. OK, o que isto tem a ver com racismo? Simples,  abaixo a participação de negras e negros na população de cada distrito: [caption id="attachment_1164" align="aligncenter" width="386"]Presença  de negras e negros na população de cada distrito da cidade de São Paulo Presença de negras e negros na população de cada distrito da cidade de São Paulo[/caption] "Coincidentemente" os distritos com menores expectativas de vida são os que tem maior participação de negras e negros na população. Em outras palavras, são os maiores prejudicados com a reforma da Previdência. Uma idade mínima que supera a longevidade é negar o direito à aposentadoria. Na prática, é uma atualização da Lei dos Sexagenários que em 1885 deu liberdade a todos os escravizados que tivessem mais de 60 anos - quando a longevidade dos escravizados não chegava nem a 50 anos.