As balas de prata: haverá segundo turno?

Blogueiros e comentaristas passaram o último mês discutindo qual seria e quando chegaria a tal "bala de prata" lançada pela candidatura de Serra. Não percebemos, mas ela talvez já tenha vindo. Não era uma só, eram várias as balas de prata que passaram zunindo em muitas direções. Fizeram algum efeito: travaram o crescimento de Dilma, e deram algum alento a Marina. Serra manteve-se praticamente estagnado.

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ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE Sexta passada escrevi o texto que se lê abaixo, explicando que a "bala de prata" (o tal gesto desesperado de Serra, para forçar segundo turno) não era uma. Eram várias. Seguiram trajetórias e ritmos diferentes. E a somatória dessas balas - escrevia eu - produziu , sim, algum efeito: interrompeu a subida de Dilma e criou uma leve tendência de alta para Marina Silva. Mostrei aos leitores, ainda, porque considerei sempre um erro menosprezar a capacidade de reação de Serra e de seus aliados midiáticos - como você pode ler aqui. Há dois ou três meses, bato nessa tecla. Alguns blogueiros e comentaristas me consideram exageradamente pessimista. Prefiro dizer que sou realista. A decisão sobre haver ou não segundo turno - tenho dito sempre - deve se dar por margem muito estreita. Isso apesar de, nos Estados, os lulistas estarem em franca vantagem. Pois bem, as notícias que chegaram da Barão de Limeira - na noite de segunda-feira - mostram que o "DataFolha" vai dar mais um alento a Serra: Marina cada vez mais perto de 15%, Serra mais perto de 30% e Dilma chegando a seu provável piso de 45% ou 46%. Via twitter, o Renato Rovai - com suas boas fontes - é quem nos trouxe a informação, ainda antes do jornal de terça-feira rodar na gráfica. Vale a pena ler aqui a análise de Rovai em seu blog. O quadro atual aponta para uma decisão no olho mecânico. Claro que podemos desconfiar do DataFolha. Pelos números do Vox (tracking de segunda), Serra está com 24%, Marina com 13% e Dilma ainda nos 49% - o que indicaria margem mais tranquila para vitória petista no primeiro turno. De toda forma, nunca é saudável brigar com os fatos. E o fato principal é: há uma tênue onda verde em marcha que - associada a ouros fatores - talvez seja suficiente para garantir segundo turno. O que explica esse quadro? As balas de prata em série, como eu tentava explicar já na sexta-feira, no texto que se segue... === (texto originalmente publicado dia 24 de setembro -  quando, pelo DataFolha, Dilma tinha 49%, Serra 28% e Marina 12%) Blogueiros e comentaristas passaram o último mês discutindo qual seria e quando chegaria a tal "bala de prata" lançada pela candidatura de Serra, no gesto desesperado de levar a eleição para o segundo turno. Não percebemos, mas ela talvez já tenha vindo. Não era uma só, eram várias as balas de prata que passaram zunindo em muitas direções. Fizeram algum efeito: travaram o crescimento de Dilma, e deram algum alento a Marina. Podemos listar aqui as balas de prata que já foram lançadas, e seguem a fazer eco na sociedade brasileira: - o terrorismo da palavra nas igrejas; é um discurso difuso, para o qual a campanha de Dilma parece não ter-se preparado; segue a fazer estragos, com ecos na internet, levando eleitores evangélicos e católicos conservadores - especialmente na classe média de grandes cidades -  a abraçar a candidatura de Marina; - a campanha difamatória na internet; conduzida diretamente pelos tucanos (no caso dos videos recém-lançados no youtube), ou por uma militância conservadora difusa (que há meses abastece a rede com e-mails absurdos e maldosos), essa campanha serve mais para dar argumentos a quem já era contra Dilma e o PT; - o terrorismo midiático; essa é a bala de prata mais manjada, e a mais fácil de responder, até pelo aprendizado que ficou de eleições passadas; ainda assim, provoca algum estrago; calculo que nesse setor ainda há os últimos ricochetes a aparecer na semana derradeira antes de 3 de outubro; a última aposta (depois dos casos da Receita e de Erenice) é a história do "autoritarismo petista", numa tentativa de  fazer parte dos eleitores apostarem num segundo turno. Parece-me que o efeito dessas balas vai-se sentindo aos poucos: elas atingem de forma diferente as várias camadas da população. A maior parte do público acompanha a eleição com distanciamento, e leva 3 a 4 dias para se inteirar de boatos que atingem os mais engajados em poucas horas. O serrismo a essa altura depende dessa somatória de balas de prata para sangrar (ainda que timidamente) a candidatura de Dilma. E aposta todas as fichas em reforçar a imagem de Marina. Já disse aqui algumas vezes que, para Serra, basta tirar votos de Dilma, ainda que eles não se transfiram para o tucano.   O efeito parece não ser  suficiente para mudar o quadro a ponto de forçar  segundo turno. Serra precisaria subir para perto de 30%, e Marina para algo em torno de 15%. Não há, a não ser pelo DataFolha (suspeito?), sinais de que esse movimento se confirmará. A favor da tese de que a eleição já estaria liquidada, há ainda o quadro eleitoral nos Estados - cada vez mais favorável ao lulismo: - Tarso (PT) avança no Sul (e o petista Paim parece ter recuperado força para ganhar uma vaga no Senado); - no Rio, Cabral deve arrasar Gabeira, e Cesar Maia corre  risco de ficar em quarto lugar na disputa pelo Senado; - em Pernambuco e no Amazonas, Maciel (DEM) e Artur Virgilio (PSDB) caminham para derrotas historicas na disputa pelo Senado; - até no Paraná, o quadro parece complicado para os tucanos, a ponto de Beto Richa (PSDB)  travar na Justiça a divulgaçãoo de novas pesquisas que devem trazer Osmar Das (PDT) cada vez mais forte na disputa pelo governo do Estado; para  o Senado, devem ser eleitos Requião (PMDB) e Gleisi (PT).  Ou seja, o bombardeio midiático e conservador na internet concentrou-se em Dilma, e descuidou-se das disputas estaduais - o que pode facilitar a vida do lulismo. Restaria uma incógnita: São Paulo. Aqui, mais indícios de coisas estranhas nas pesquisas. E, de novo, o DataFolha em campo. O instituto da Folha traz Alckmin praticamente imbativel, com 51%, e Mercadante com 23%. O Vox Populi acaba de trazer números díspares: Alckmin 40% e Mercadante com 28%. Pelo Vox, poderíamos caminhar para segundo turno em São Paulo: o que seria mais um indicativo de que as balas de prata arranharam Dilma, mas não contiveram o lulismo - o que pode levar a uma derrota ainda mais arrasadora de PSDB/DEM. Por último, um dado importante: o PT entrou com ação para suspender a lei que exige dois documentos na votação, um indicativo de que o partido espera dificuldades para seu eleitorado - mais concentrado nas camadas populares - por conta dessa exigência. Já ouvi gente calculando que Dilma pode perder 1 de cada 10 votos por conta dos dois documentos. Façamos uma conta. Se, apesar do bombardeio que ainda virá na última semana, a candidata petista chegar com algo em torno de 49% ou 50% dos votos totais no dia 3, poderia em tese ver sua votação recuar para 45% dos votos totais por conta das dificuldades provocadas pela exigência de dois documentos. Serra, tudo indica, não deve passar dos 28%, e Marina pode chegar a 14% se a onda verde pegar. Temos anda 1% para os outros candidatos. Teríamos, portanto, nos votos totais: Dilma 45% X outros candidatos 42%. Minha aposta é que Dilma, se confirmar vitória no primeiro turno, deve obtê-la por uma margem pequena: algo em torno de 52% ou 53% dos votos válidos. Se a onda verde crescer (hoje ainda é marolinha, mas será empurrada pela mídia), e o terrorismo midiático reaparecer na véspera da eleição, não acho impossível haver segundo turno - ainda que por margem muito estreita.  O quadro deve ser acompanhado com muita cautela até o dia 3. A vitória de Dilma no primeiro turno é hoje a hipótese mais provável, mas não está garantida.