A jogada chicaneira de Cármen Lúcia para prender Lula, apoiada pela Globo

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Por Rodrigo Vianna Cármen Lúcia estava há semanas sob pressão da Globo. Era mais uma ministra "que faz a diferença" (recebeu o prêmio da emissora, chancelando o acordo tácito entre Justiça e império midiático). Mas nas últimas horas, havia outra pressão: feita pela opinião pública que não aceita o golpe e por ministros que aparentemente ainda não se dobraram ao golpe. A emissora não quer que o STF reveja a decisão (absurdamente inconstitucional) que permite prender réus após julgamento em segunda instância. Claramente, há nova maioria entre os 11 ministro, para que a prisão ocorra somente após o "trânsito em julgado". O que Cármen fazia até agora era usar o cargo de presidenta do tribunal para praticar obstrução, e assim garantir que Lula seja preso nos próximos dias. A tensão chegou a tal ponto que o Ministro Marco Aurélio Mello preparava-se hoje para levantar questão de ordem em Plenário (humilhação suprema para uma presidenta minúscula, que segue orientações da Globo e se reúne com Temer), exigindo que as Ações Declaratórias de Constitucionalidade fossem levadas ao voto, mesmo contra a vontade da presidenta. O que fez então Carmen? Na undécima hora, pautou não as ADCs (que gerariam uma discusão em tese, afastada da ação específica de Lula), mas sim o Habeas Corpus pedido pela defesa do ex-presidente. O HC será julgado na quinta. Trata-se de clara jogada chicaneira. Os ministros terão que votar com a faca no pescoço, sob pressão da Globo, que teria designado um de seus sócios (João Roberto Marinho) nas últimas horas para articular uma saída que permita a prisão de Lula. O que se imagina? Nas ADCs que seriam levadas a plenário a pedido de Marco Aurélio, o placar provável seria de 6x4 - impedindo assim a prisão na segunda instância. E assim seria porque é o que diz a Constituição. Nada mais que isso. Lula permaneceria solto. Mas como Cármen deixou a discussão em tese pra lá, e levou à pauta o HC, podemos ter novidades ao gosto da Globo... A ministra Rosa Weber, por exemplo, que nas ADCs pretendia engrossar a nova maioria contra prisão em segunda instância, pode adotar outro discurso no debate sobre o HC: "Ora, a decisão que vale atualmente permite a prisão, então não há porque dar o HC. Posso até rever isso mais adiante; mas nesse momento o mais adequado é que se cumpra a prisão". Teríamos então o seguinte quadro: - Facchin, Barroso, Fux, Alexandre e Rosa (contra o HC) - Marco Aurelio, Lewandovski, Toffoli e Gilmar (a favor do HC). E Celso de Mello? Esse em tese já avisou que é a favor de respeitar a Constituição, permitindo prisão só após trânsito em julgado. Mas e se Celso tiver sido "convencido" (da mesma forma que Rosa) a votar contra o HC agora, e deixar pra fazer essa discussão em tese depois? Nesse caso, teríamos 6x4 contra o HC. E Cármen poderia manter-se olimpicamente "impedida" de atuar na ação que envolve o ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence (advogado de Lula) Lula seria preso. Algumas semanas depois, Celso e Rosa voltariam ao leito teórico ao qual se filiam, e as ADCs iriam a julgamento. Mas aí Lula já teria sido preso, filmado e fotografado para desfrute da família Marinho. Se Celso resistir, teríamos um curioso 5x5 - e aí Cármen talvez seja convocada a votar - revendo seu "impedimento". Esse parece ser o jogo... A consequência? Lula preso na segunda; logo depois a interpretação muda para salvar Temer, Moreira - e quem sabe até Aécio. Cármen joga pra torcida, joga para a Globo. Resta saber se Celso de Melo também se rendeu ao mesmo jogo. Nesse caso, teríamos o golpe completo - com a Globo, com o Supremo e com tudo. Espero estar errado.