Alan Greenspan em estado de choque! E o Meirelles?

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Em outubro do ano passado, publiquei o texto que segue  logo aí embaixo. Comentava - na época -  a reação de Alan Greenspan (considerado, durante mais de uma década, o sumo pontífice do liberalismo), que desabou desamparado diante da crise: declarou-se em estado de choque diante da quebradeira nos EUA. Na época, eu perguntava: e os seguidores de Greenspan no Brasil (e são muitos) também entraram em choque? Aqui, o choque veio com atraso de 6 meses, com esse corte de 1 ponto e meio  na taxa de juros pelo  COPOM. O Brasil nem devia dar tanta atenção a isso, devia pensar estrategicamente, aproveitando a crise mundial para se fortalecer - como fez Vargas nos anos 30/40. Mas , o  corte da taxa vale mais como um sinal. Como Meirelles vai explicar isso? Por que tanta demora pra reagir, se a crise já tinha se mostrado grave (no mundo) desde outubro? Greenspan já havia desmoronado. A GM ameaça fechar. O Citubank desaba. Mas, aqui no Brasil, a turma do "vamos fazer a lição de casa" seguia usando a fórmula do mundo pré-crise. Esperemos a ata do COPOM, para ver quais as justificatvas técnicas.Seja como for, de duas uma: ou o BC  admite que a crise é grave (e aí terá que explicar porque não começou a cortar os juros antes), ou seguirá na ladainha de que eram necessários "ajustes" diante de novos indicadores da economia mundial e brasileira (e aí terá que explicar porque realizou o "ajuste" assim, de forma abrupta). (texto originalmente publicado em 24 de outubro de 2008, às 17:55) "Aqueles de nós, eu inclusive, que esperávamos que o interesse próprio das instituições de empréstimo protegesse os acionistas, estão em estado de choque" A frase acima foi dita por Alan Greenspan, durante depoimento ao Congresso estadounidense, logo depois do início da crise econômica, em outubro do ano passado. Ele reconhece ter errado, "parcialmente", ao defender a auto-regulamentação do mercado como o caminho mais curto para o desenvolvimento. Greenspan, ao menos, reconhece o erro. Durante 20 anos, como jornalista, fui obrigado a entrevistar "consultores" brasileiros que reproduziram por aqui as idéias do oráculo. O Brasil precisa fazer a "lição de casa", repetiam como em um mantra. Nenhum desses consultores parece estar em estado de choque... "Lição de casa". Que expressão enjoada, chego a sentir engulhos quando a ouço. É expressão, sobretudo, de subserviência, como se o Brasil estivesse ainda na escola primária, aprendendo os ensinamentos de Greenspan e outros mestres. A consultoria mais ouvida do Brasil (sintomaticamente, fica na rua Estados Unidos, em São Paulo) tem como um dos sócios um "especialista" que, quando esteve no governo Sarney, ajudou a levar a inflação a 80% ao mês. Hoje, ganha dinheiro, pregando aos brasileiros: é preciso fazer a "lição de casa", desregulamentar, privatizar, liberalizar tudo... Como jornalista, reconheço que errei, "parcialmente", por entrevistar tantas vezes a turma da "lição de casa". Parcialmente, porque tentei equilibrar o jogo, eu juro, tentando ouvir também Paulo Nogueira Batista, Júlio Gomes e outros poucos que não se contaminaram pelas teses do professor Greenspan. O Brasil, felizmente, não foi um bom aluno de Greenspan. Apesar do esforço de nossos "consultores", fizemos só metade da lição de casa (isso, principalmente, no gverno FHC; Lula não teve coragem e/ou condições políticas de mudar o sistema, mas ao menos estancou o processo). Do contrário, teríamos vendido tudo - como a Argentina de Menem. Não teríamos BNDES, Banco do Brasil e Caixa - instrumentos decisivos para enfrentar a crise que se agiganta. O curioso é que  o jornalismo (?) econômico brasileiro parece viver ainda na fase da "lição de casa". A entrevista de Guilherme Barros com Paulo Setúbal (dono do Itaú) - na Folha de quinta-feira, 24/10/2008 - chega a ser engraçada.  Sobre a MP de Lula, que permite ao BB e à Caixa comprarem bancos à beira do colapso, o repórter pergunta: "Não cheira à estatização?". Estatização deve cheirar muito mal para quem passa o tempo ouvindo só os mesmos "consultores". Estatização fede? Interessante que Paulo Setúbal não tenha dado a resposta que o jornalista esperava. Veja o que ele disse: "Ninguém é obrigado a vender  banco. (...) o que [essa medida] mostra é que  governo está comprmetido e manter a funcionalidade do setor". Gostaria de lembrar (e agora já não é mais o Paulo Setúbal falando) que, se não fosse o Estado, se não fosse a luta de alguns bravos brasileiros em defesa do interesse nacional, se não fosse a existência de três ou quatro grandes estadistas ao longo de nossa história, o Brasil ainda seria uma grande Fazenda. Certo jornalismo (?) econômico brasileiro talvez tenha saudade do tempo das fazendas. Aquele, sim, era um país livre da praga estatista. Cada proprietário podia dispor livremente de suas mecadorias, incluindo os trabalhadores escravos, sem prestar contas ao Estado. No Brasil, liberalismo teve sempre um signifcado: liberdade para os proprietários. Tanto que, durante o Império, havia quem se definsse como "liberal" e defendesse traquilamente a Escravidão: abolir a escravidão era atacar o sacrossanto direito à propriedade privada. Talvez, naquele época, abolicionismo significasse uma forma torpe de intervenção estatal. Quando Vargas decidiu industrializar o país, houve também críticas de setores que viram nisso um atentado contra a "natural vocação agrária" brasileira, como uma intervenção "artificial" e inadequada. E a campanha do "Petróleo é Nosso"? Quantos liberais não torceram o nariz... Gastar dinheiro público para procurar petróleo nesses trópicos? Hoje, o odor da estatização se espalha pelo mundo. Não deveria espantar quem conhece a história  do Capitalismo. Volto a Immanuel Wallerstein. Que eu saiba, ele nunca foi consultor. Wallerstein lembra, no seu "Capitalismo Histórico e Civilização Capitalista, que: "(..) dada a a estrutura do capitalismo histórico, as alavancas mais efetivas de ajuste político têm sido as estruturas do Estado (grifo meu), cuja prórpia construção, cm vimos, foi uma das realizaçõss do capitalismo histórico. Assim, não é por acaso que  o controle do poder estatal, a conquista do poder do Estado, tenha sido o objetivo estratégico central de todos os principais atores da esfera politica a long da história do captalismo moderno". Por isso, nosso jornalismo (!) econômico está tão preocupado com o estatismo no Brasil. Bem agora que a ideologiao liberal afunda, e que do Estado virá a arbitragem, bem agora, veja só que azar, quem está no controle das alavancas no Brasi? Eles - os liberais de araque - querem as alavancas nas mãos certas! Essa é a disputa! Daí, sim, virá muito mau-cheiro.