CBN ataca governo e Lula reage: povo não é marionete

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O trânsito em São Paulo obriga-me a ouvir mais rádio do que eu gostaria. Ontem (10/02/2009), espremido entre uma jamanta e uma carreta, na aprazível marginal Pinheiros, eu escutava a CBN - a rádio que toca vinheta. Carlos Alberto Sardenberg, o âncora, chamou de Brasília uma repórter que traria notícias sobre a reunião de Lula com os prefeitos. Notícias ela não trouxe. A moça tentou ser irônica. Disse que o clima em Brasília dava vontade de cantar música de Ivete Sangalo: "e vai rolar a festa...". Juro que ela disse isso. Eu ouvi, apesar do barulho da jamanta a meu lado. A jornalista disse, ainda, que o anúncio feito pelo governo federal - de renegociar dívidas com as Prefeituras, permitindo que elas tomem novos empréstimos - tinha tudo a ver com a estratégia eleitoral pra 2010. Não atribuiu isso a algum líder da oposição, não. A CBN não se dá mais a essas sutilezas. Enquanto a bancada do PSDB se divide em Brasília, a CBN lidera a oposição. Eles lideram a oposição Ele cansou de apanhar A vida é um moinho? A repórter também disse que a decisão de Lula não era um bom exemplo, do ponto de vista fiscal. Esperta, usou como fonte para reforçar sua "reportagem", advinhem o que? O blog de Sardenberg. He, he, he... Essa moça vai longe nas Organizações (!) Globo: "olha, Sardenberg, li seu blog hoje, e vou tomar emprestada a frase que você escreveu; essa decisão do governo é um recado aos prefeitos -  podem gastar, não precisam pagar." Entenderam a sutileza? O âncora chama a repórter. A repórter, para embasar sua fala, cita o blog do âncora. É uma ação entre amigos. O Sardenberg tem direito, evidentemente, de escrever o que quiser no blog dele. Mas, a CBN, uma concessão pública, acha que pode levar ao ar qualquer bobagem? A "reportagem" da CBN foi ao ar no mesmo dia em que Obama aprovou um pacote bilionário no Congresso dos Estados Unidos. Obama está despejando dinheiro público na praça, para reativar a economia. Se Lula fizesse isso, a CBN estaria chamando o pacote de eleitoreiro? Lula quer dar crédito a prefeituras, para que elas toquem obras em todo o Brasil. É a chamada "política anticíclica": quando a economia se retrai, o setor público pode (e deve) dar um empurrão pra gerar empregos, consumo, negócios. Obama está fazendo isso nos Estados Unidos. Lula está fazendo isso no Brasil. CBN - a rádio que toca vinheta - não quer obras públicas. A CBN (com seus âncoras e bravos repórteres) ainda está na década de 90, quando o FMI mandava o Brasil fazer a lição de casa, mandava abrir a economia, e acabar com o protecionismo. A imprensa aplaudia essa fórmula, a fórmula de Alan Greenspan. FHC tentou cumprir tudo à risca. Mas o Brasil, felizmente, não fez toda a lição-de-casa. Mantivemos instrumentos estatais importantes - como BNDES, BB e Caixa - fundamentais agora para o Brasil reagir à crise (escrevi um texto sobre isso em 24 de outubro de 2008: “Greenspan em choque”). Obama aderiu ao protecionismo, ao "buy America" (incentivar a população a comprar produtos feitos nos Estados Unidos). E o governo dos EUA vai gastar feito gente grande. A CBN não vai mandar o Obama "fazer lição-de-casa"? Não vai criticá-lo por "irresponsabilidade fiscal" e protecionismo? Ah, não. A CBN - a rádio que toca vinheta - está ocupadíssima em fazer política. A CBN só pensa em 2010. Prefiro desligar o rádio. Como não tenho Ivete Sangalo, ponho o CD do Cartola pra tocar. A letra parece uma encomenda para nossa velha imprensa: quando notares, estarás à beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés”. P.S.: Quando terminava de escrever esse texto, li que Lula reagiu à turma que torce contra o Brasil. Abaixo, trecho da nota publicada no portal Terra: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente nesta terça-feira as insinuações de que o "pacote de bondades" anunciado para beneficiar as prefeituras seja resultado de uma articulação do governo em torno de um eventual projeto eleitoral da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Segundo o presidente, que fez duros ataques à imprensa, são "pequenas" as pessoas que relacionam o anúncio de medidas a um projeto de sucessão presidencial. "Fiquei triste porque ainda tem gente que acha que povo é marionete, que acha que o povo é vaca de presépio. Acabou o tempo em que alguém achava que podia interferir na eleição porque era formador de opinião pública", criticou ao comentar a postura da imprensa.