Com Marina no PSB, Campos joga xadrez refinado; e se Aécio Neves desistir?

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por Rodrigo Vianna Confirmada a filiação de Marina ao PSB, Eduardo Campos mostra uma capacidade de articulação refinada. Mais que isso: mostra ser um jogador de xadrez com a habilidade dos russos, capaz de jogar agora, calculando os movimentos das peças três ou quatro lances adiante. PT e PSDB tentaram submeter as candidaturas Campos e Marina à lógica da velha polarização entre tucanos e petistas... Ao PSDB, interessava a existência de várias candidaturas para dividir os votos, e assim forçar um segundo turno. Marina, indo para o PSB, quebra essa lógica. Mais que isso: ao escolher o PSB (e não o PPS) ajuda a consolidar um novo pólo, fora da órbita de tucanos e petistas. Eduardo Campos tem sido muito habilidoso em seus movimentos. Aproximou-se de Aécio, mas sem ceder um milímetro de sua autonomia e de sua estratégia à lógica tucana. Saiu do governo petista, entregando os cargos, mas não atacou Lula nem o lulismo. Não aceitou a lógica do PSDB, de transformar-se em linha auxiliar do tucanato. Fez isso com maestria, apesar das defecções de Cid e Ciro no Ceará e de certo mal-estar com adesões conservadoras ao PSB Brasil afora. Passada a eleição de 2012, eu já escrevera neste blog que o PSDB gostaria de transformar Eduardo Campos e o PSB em linha auxiliar do tucanato, mas era mais provável que acontecesse o contrário... Claro, os tucanos têm máquina poderosa nos Estados, têm parceria com empresários, têm certa tradição. Mas não têm discurso. Eduardo Campos pode, sim, apresentar-se como o lulista que segue a admirar o legado do ex-presidente mas apostando em uma renovação, no tal “o Brasil pode mais”. Sozinho, talvez estivesse fadado a ser apenas coadjuvante, assumindo o papel de tirar 10% dos votos de Dilma no Nordeste (o suficiente pra levar a eleição e Aécio pro segundo turno). A parceria com Marina (quem será presidente e quem será vice?) faz com que Eduardo Campos e o PSB sejam muito mais que isso: transformam-se de fato no desaguadouro de uma “terceira via”. Marina perde parte de sua aura de “reserva moral”, e de “diferente de tudo que está aí”. Enquadra-se na lógica eleitoral. Por isso, Eduardo Campos ganha muito mais que Marina com a parceria. Vira gente grande na política, ainda que Dilma siga favorita. E quanto aos tucanos? Amigos mineiros juram que Aécio ainda vai desistir da candidatura a presidente, para se lançar ao governo mineiro em 2014. O PSDB está sem candidato em Minas, Pimentel do PT é o favorito. Seria um risco grande demais para Aécio perder o feudo mineiro, correndo ainda o risco de ficar em terceiro na eleição nacional. Não foi por outro motivo que Serra decidiu ficar no PSDB. Serra está vivo. Aécio pode desistir, e aí os tucanos iriam com uma candidatura “guerreira” pra 2014. Veríamos de novo as jogadas e ações de Serra - que todos conhecemos. Já vejo gente apressada supondo que Aécio e os tucanos poderiam fechar uma grende frente com o PSB já no primeiro turno. Não acredito que prospere. Para o PSB, seria bom ter o PSDB até o fim na campanha (com Serra ou Aécio). Campos /Marina tendem a gorma, anhar força se deixarem Serra ou Aécio batendo no PT, enquanto o PSB entraria só na "boa" - como “terceira via”. Aécio e o PSDB acabarão, nesse quadro servindo de linha auxiliar para o PSB. De toda forma, Dilma segue favorita. Mas Campos e Marina (e não mais os tucanos) ganhariam cacife para constituir a verdadeira oposição pra 2018; longe do discurso ranheta e conservador, seria a construção de um "pós-lulismo'' (contra Lula em 2018? Isso é que não encaixa bem...) Por fim, o PT e seu marqueteiro precisam rever o discurso. João Santana deu uma entrevista lamentável, chamando os concorrentes de Dilma de “anões”. Soberba desse tipo foi o que levou a eleição de 2010 ao segundo turno. Tucanos e petistas já não jogam sozinhos. Não adianta dizer que Campos e Marina fazem o jogo dos tucanos - como vejo alguns lulistas a berrar nas redes sociais. Além de inútil, essa gritaria não bate com os fatos. Campos e Marina não fazem o jogo dos tucanos. Fazem o jogo próprio - com um grau de autonomia que não permite chamá-los de “anões”, nem enquadrá-los no papel de coadjuvantes para levar tucanos ao segundo turno. O jogo ficou mais complexo, escapando (aparentemente) da velha polarização. Resta ver como o eleitor reagirá a esse xadrez refinado.