Como Israel lucra com a ocupação

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Leia a seguir entrevista feita com o economista Israelente Shir Hever sobre os impactos (e ganhos) econômicos da ocupação israelense em territórios palestinos. A matéria é do site Opera Mundi. === "Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina", diz economista israelense Os impactos de anos de ocupação israelense sobre a economia palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e a nova onda de migração de trabalhadores da Ásia para substituir a mão-de-obra palestina, confinada nos territórios, são os principais temas abordados pelo economista israelense Shir Hever, membro do Alternative Information Center, nessa entrevista ao Opera Mundi. Segundo o estudioso, mestre em História e Filosofia pelo Instituto Cohen, na Universidade de Tel Aviv, Israel tem controle inclusive sobre as doações internacionais. Independente da moeda que ingressa nos territórios (dólar, euro, libra etc), o montante precisa ser aplicado no Banco Central de Israel, e depois, convertido para o shekel, dando lucro para o Estado judeu. Shir, autor de uma série de estudos sobre os impactos da ocupação – todos disponíveis para download em www.alternativenews.org – vive na Jerusalém dividida não apenas pela ocupação militar e pela política, mas por ações sócio-econômicas que ampliam o abismo criado pelo desejo de fazer da cidade uma capital israelense. Jerusalém é hoje, sem dúvida, a capital da ocupação. Ainda que estejam sob a autoridade palestina, na verdade vilas e cidades dependem de Israel. Como isso ocorre, a economia da ocupação alimentando Israel? Na verdade, isso está  na raiz da ocupação, quando o governo israelense procurava pelas políticas corretas para lidar com esse novo território sob seu controle. Havia um debate de como tratá-lo. Basicamente havia aqueles que diziam que a ocupação seria temporária, que não poderíamos anexar o território com todas essas pessoas e perder uma maioria judaica. Assim, seria melhor não investir na economia palestina, pois iríamos perder tudo no momento em que devolvêssemos os territórios à Jordânia ou ao Egito. Esse era o grupo do sionismo pragmático. O grupo mais messiânico dizia que o sionismo é um movimento, em andamento, de redenção religiosa. Estávamos destinados a continuar crescendo. Então a ocupação era um momento de triunfo e, obviamente, jamais iríamos devolver a terra. Esse debate político refletiu-se no projeto econômico. Eles estabeleceram um Comitê Econômico, chamado Comitê Bruno, que aconselhou a manutenção da separação entre o Estado de Israel e os Territórios Ocupados Palestinos. As recomendações foram imediatamente rejeitadas e o governo instalou um Comitê Ministerial, que aconselhou uma maior liberdade nas ações para que ganhássemos mais tempo. Isso previa permissão a palestinos para que trabalhassem em Israel, que israelenses pudessem ir aos tPos, em número restrito, e deixar que produtos fossem importados e exportados. Na realidade, a política realmente adotada nem foi essa, foi muito mais livre, quase não havia restrições. Israelenses que quisessem ir a Belém ou Ramallah primeiro precisavam de permissão, mas com o tempo nem isso mais era exigido. Mas havia uma política, que não estava escrita em nenhum lugar, mas todos sabiam a seu respeito, e que foi imposta de uma forma muito coerente: não permitir a palestinos desenvolver qualquer negócio local que pudesse concorrer com um setor israelense. Isso é importante destacar porque não se acha em documentos oficiais. Isso ocorre até hoje ou após Oslo as coisas mudaram? Não, depois de Oslo a situação tomou uma direção um pouco diferente. [Os acordos de paz Oslo foram mantidos entre Israel e o presidente da OLP, Yasser Arafat e mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton] Podemos dizer então que os palestinos estavam sob essa situação de não-desenvolvimento até Oslo? Sim, pelo menos de uma forma direta. Hoje há muitas limitações em relação ao desenvolvimento, mas feitas de uma forma diferente. Até Oslo, a preocupação era limitar aos palestinos o uso de seus próprios fundos para criar desenvolvimento. O que acontecia era que se alguém quisesse investir numa empresa local, permissões para que trouxesse maquinários ou material bruto, ou ainda, para que tivesse acesso a instituições financeiras, eram negados. Quais os termos, hoje, dessa ligação entre Israel e os territórios? Se for a um mercado hoje nos territórios, quase todos os produtos estão em hebraico. Isso porque o caminhão com a placa israelense passa pelo posto de controle de forma fácil. É mais fácil enviar um caminhão de Haifa a Belém (uma viagem que dura cerca de 2h30) do que de Ramallah a Belém (viagem que poderia durar 30min). Há, por exemplo, uma fábrica de leite e derivados em Ramallah. Muitos palestinos veem na prateleira os produtos de Ramallah e os produtos da Novah, uma companhia israelense, e escolhem a Novah. É o mesmo preço, mas o produto israelense é mais fresco. Os palestinos sabem que os produtos de Ramallah ficaram no posto de controle por pelo menos um dia. Não esperam que seja de boa qualidade. Isso dá uma grande vantagem para as companhias israelenses. Outra questão importante é a grande quantidade de subsídios que os assentamentos ganham do governo israelense. Pagam menos taxas, conseguem grandes empréstimos de capital, terra barata e muitos serviços públicos que não podem ter dentro de Israel. Se um israelense quiser começar uma indústria dentro de uma área industrial de um assentamento, como Ma´ale Adumin ou Atarot, terá condições muito mais favoráveis do que se o fizesse em uma cidade industrial, como Ashdod. Uma questão que parece de grande importância é o controle que Israel exerce pelo fato de os territórios usarem o shekel israelense, um controle de políticas monetárias... Isso é muito importante. Se você é do Brasil, então entende que caso controle a moeda, isso te dá muito poder, sobre quando criar inflação ou quando combater a inflação. Mas o que é ainda mais importante é que todo o dinheiro de ajuda humanitária que chega aos palestinos vem em forma de moeda estrangeira, euros, dólares ou ienes. No entanto, para que possam ser usados na economia palestina, devem ser convertidos em shekels, que por sua vez são usados para pagar salários, produtos, impostos e taxas. Então o que acontece é que esses fundos de fora que vêm aos palestinos ficam no Banco Central israelense. Isso significa, em termos práticos, que Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina. === A entrevista completa pode ser lida aqui