Dilma, se eleita, vai enfrentar a imprensa?

Os setores conservadores tentarão compor com Dilma, num possível governo, ou partirão para o confronto aberto? Se esse segundo cenário prosperar, Dilma agirá como Cristina ou como Bachelet? Você, caro leitor, aposta no que? Victor Farinelli envia-me ótimo texto exatamente sobre esse tema. Confira...

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[caption id="attachment_2651" align="alignleft" width="300" caption="A senhora à esquerda evitou o confronto; a senhora à direita preferiu o combate aberto"][/caption] Numa reunião dia desses, um amigo blogueiro disse-me que não vê a hora de passar a eleição, pra que ele não se sinta mais "obrigado" a defender Dilma diante do descalabro de fichas falsas, terrorismo eleitoral e grosseria de apresentadores canastrões. Concordei com esse amigo. Também não vejo a hora dessa pancadaria passar, pra que a gente possa exercer a função crítica de imprensa, em vez de passar o tempo mostrando como a velha mídia distorce os fatos e mente sem parar. Chegamos até a brincar:  como a oposição vai "acabar" em outubro, restará a nós fazer a verdadeira oposição no Brasil. Outro sujeito que estava na reunião olhou pra gente e sacudiu a cabeça: tsh, tsh. E apresentou outra visão: "vocês estão enganados; a pancadaria está só começando; passada a eleição, se Dilma ganhar, será ainda pior; veremos no Brasil algo parecido com o que Cristina Kirchner sofre na Argentina". Parei pra pensar. Na verdade, diante de um possível governo Dilma temos essas duas possibilidades: - a oposição se enfraquece a tal ponto que as forças conservadores (no empresariado e até na velha mídia), em vez de se somar a DEM e PSDB, vão se aproximar do governo da petista, disputando espaços e empurrando o governo mais pra direita; nesse caso, haveria lugar para uma oposição pela esquerda se fortalecer (desde que tenha conexão com movimentos sciais, com o mundo real, e não negue os avanços da era Lula, mas incorpore esses avanços e lute para profundar as mudanças); - a oposição se torna menor, sim, mas por isso mesmo mais aguerrida, mais barulhenta, mais golpista; encastelada na mídia e em alguns setores do Judiciário e do Parlamento, fará um combate permanente a Dilma, nos moldes do que ocorreu por exemplo na Argentina; nesse caso, os setores mais críticos, inclusive na blogosfera, seguirão a ter um papel fundamental para desfazer as tentativas de golpes e manipulação. Se esse segundo cenário prosperar, Dilma agirá como Cristina ou como Bachelet? Você, caro leitor, aposta no que? O leitor Victor Farinelli envia-me ótimo texto exatamente sobre esse tema. Confira... --- Dilma, Cristina e Bachelet por Victor Farinelli Moro no Chile desde 2005, cheguei aqui durante as eleições vencidas pela Bachelet, e acompanhei todo o mandato dela.
Li no Conversa Afiada as considerações do cunhado do Paulo Henrique Amorim, sobre como a direita chilena conseguiu chegar ao poder apesar de a esquerda ter um governo exitoso e uma presidenta popular.
 
Assino embaixo quase (*) tudo o que foi dito, e acrescento que a popularidade da chilena Michelle Bachelet foi um fenômeno quase inexplicável, porque o PIG daqui bateu nela do primeiro ao último dia de mandato.
A ira da imprensa brasileira contra a Dilma tende a ser igual ou pior - tanto que na Argentina foi pior, e por isso a Cristina Kirschner fez a Ley de Medios e mostrou como o Clarín chafurda na própria lama. Os PIGs contra presidentas foram mais que a oposição desrespeitosa, como foram com presidentes progressistas homens. Foram desrepeitosos e machistas. É isso que espera a Dilma, uma imprensa ferozmente opositora, desrespeitosa e machista. No Chile, a Bachelet e todos os anteriores presidentes da Concertación apanharam do PIG nativo, mas, tal qual Lula no Brasil, mantinham um inexplicável masoquismo, jamais ameaçaram a hegemonia dos barões da mídia. Inclusive, quando os herdeiros do Clarín chileno (o jornal que defendeu Allende até o último dia, e que foi extinto pelo Pinochet) tentaram reabrir o antigo diário, foi justamente o governo concertacionista quem impôs as maiores dificuldades. Assim, como Lula, que não fomenta as condições pra consolidação de novos meios que realizem o necessário debate. E pior, como mostrou o Blog do Miro recentemente, continua dando aos principais meios do PIG brazuca as verbas publicitárias que eles necessitam prá sobreviver e continuar a atacá-lo sistematicamente. A melhor forma de fazer a Dilma ver as consequências de ser condescendente com o PIG é contrastar a atitude da presidenta argentina com a da chilena. Bachelet agiu como Lula, manteve sua popularidade, mas viu a Concertación sucumbir eleitoralmente - embora seja irreal atribuir a derrota somente a esse erro, houve outros, a começar pela péssima escolha do candidato a sucessor, como escreveu, na época, o Rovai. Cristina apanhou como Lula e Bahcelet (e como irá apanhar Dilma). Mas reagiu!! Democratizou os meios e vem mudando radicalmente o processo de formação da opinião da classe média. Hoje, os argentinos sabem, por exemplo, que o principal nome da oposição argentina, Mauricio Macri (ex-presidente do Boca Juniors e atual governador da cidade autônoma de Buenos Aires), defende que não se aceitem bolivianos ou paraguayos nos hospitais públicos da capital. Antes, o PIG albiceleste escondia ou tegiversava essas declarações comprometedoras. Agora, é muito mais difícil tapar o sol com a peneira. A Dilma precisa conhecer profundamente as consequências do que fizeram Michelle Bachelet e Cristina Kirschner. Assim, quando vierem os ataques do nosso PIG, o desrespeito, o machismo e o fomento ao golpe, ela terá maior consciência de como se deve reagir.
(*) duas retificações:
 
1) Se fizermos uma média dos quatro anos, a popularidade de Michelle Bachelet vai ficar em torno aos 70%, como disse o texto do Conversa Afiada, mas no momento em que entregou o cargo, a então presidenta reunia 84% de aprovação - o maior índice já apresentado por um presidente chileno ao fim do seu mandato.
 
2) Piñera não cumpriu toda a promessa. Vendeu Lan Chile, prum testa de ferro da família, mas a promessa era vender Lan, Chilevisión e as ações do Colo Colo, e as demais vendas continuam pendentes, com destaque pro canal Chilevision, que tende a ser vendido (ou não) somente depois que Piñera tome decisões vitais respeito a televisão digital, e nada impede ele de favorecer o canal do qual ele ainda é o dono.