Dilma joga pra militância, com firmeza

O debate da Band teve audiência baixa, cerca de 3 pontos. Quem tava acompanhando? O público mais ligado em política - dos dois lados. Dilma falou pra militância. E acho que surpreendeu positivamente a todos. Bateu firme. Serra ficou tonto. Vai pedir cabeça da Dilma pro Lula, como faz com jornalista que faz pergunta "inconveniente"? E o Paulo Preto? E as privatizações? Serra tremeu.

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Apontado como "líder satanista" (na imunda boataria pró-Serra, que inundou a internet nas últimas semanas), Michel Temer (o vice de Dilma) foi quem analisou com mais calma e conteúdo o debate, numa entrevista rápida ainda dentro do estúdio da "Band": a atuação da Dilma "vai jogar nas ruas a militância". O debate foi isso. Audiência baixa, cerca de 3 pontos. Quem tava acompanhando? O público mais ligado em política - dos dois lados. Dilma falou pra militância. E acho que surpreendeu positivamente a todos. A turma do PT - meio ressabiada, porque esperava liquidar tudo no primeiro turno, e porque não via reação da campanha à onda difamatória das últimas semanas - recebeu uma injeção de ânimo. Em vez de bater pesado no horário político gratuito (visto por um público mais amplo, que poderia rejeitar a estratégia mais dura) Dilma deu as respostas no debate - visto pela militância. Foi estratégia inteligente, certeira. Serra, ao que parece, não esperava por isso. Engoliu em seco várias vezes. E acusou o golpe, falando que Dilma estava "agressiva". Machismo puro. Mulher quando enfrenta é "agressiva". Ele quer princesinha? Vai buscar na MTV... O tucano é mal acostumado - como sabemos. Tem à sua volta uma imprensa amiga, que não o incomoda. E quando aparece um jornalista ou outro a fazer pergunta "inconveniente", ele liga pra Redação e pede a cabeça do repórter. Ou, então, confisca as fitas (como fez depois de uma entrevista pra Márcia Peltier, na CNT). Ao fim do debate, eu olhava pro Serra (que parecia aturdido e contrariado por apanhar tanto), e pensava comigo: será que ele vai ligar pro Lula e pedir a cabeça da Dilma? Durante uma panfletagem no Rio, há poucas semanas, Serra botou a mulher dele (não a Soninha, mas a Mônica) pra acusar Dilma de "matar criancinhas": é o papo sujo do aborto. Quando ficou frente a frente com Dilma, nesse domingo, ele não sustentou a frase. Fugiu. E não defendeu a mulher oficial. Covardia típica de machão mal-resolvido. Ainda por cima, não gostou da Dilma "agressiva". Tá mal acostumado com certas apresentadoras e jornalistas "amigas"... No conteúdo, Dilma foi bem ao desmascarar a campanha de calúnias, e ao marcar na testa de Serra o rótulo de "privatista". Tão incomodado Serra ficou que, naquela entrevista rápida pós-debate, fez questão de dizer "sou defensor das empresas estatais". Sentiu o golpe. Mauricio Stycer, ótimo repórter do UOL, postava no twitter pouco depois do encerramento: "Petistas comemoram e tucanos criticam estratégia de Dilma". Esse também é um bom resumo. Os petistas gostaram de ver a candidata firme - o que deve ter incendiado a militância pra reta final. Já os tucanos não gostaram do Serra acuado. Acostumados a bater na surdina, a usar pastores e padres para os ataques mais vis, e a se esconder no anonimato da internet, os líderes do serrismo choravam: pôxa, essa doeu. Tenho a  impressão que a onda de otimismo virou de lado. Esse debate volta a lançar otimismo para o lado lulo-dilmista. E projeta sombras para o lado dos tucanos. Vocês  - que me acompanham aqui - sabem que eu tenho lado e não escondo. Mas nem por isso brigo com os fatos. Quando a boataria religiosa veio pesada, eu falei que isso podia dar segundo turno. Assim como deixei claro que Dilma apanhar calada era o caminho pra derrota. Agora, vejo uma fase nova. Essa campanha já teve vários momentos: - no início do ano, os tucanos menosprezaram Dilma, espalharam que ela não tinha personalidade, e era um "poste"; o menosprezo fez com que fossem surpreendidos pela arrancada de Dilma dos 15% aos 50% nas pesquisas; - em setembro, foi o PT que menosprezou a capacidade de reação dos tucanos e de seus aliados midiáticos; denúncias e boatos levaram votos pra Marina, garantindo segundo turno; - com o segundo turno, já se ouvia na internet o discurso dos tucanos "ah, o PT perdeu uma eleição ganha; agora Serra vai crescer até a vitória, Dilma está perdiada, e a eleição está no papo". Os tucanos (com o segundo turno) sentaram na cadeira antes da hora. A soberba parece ter castigado Serra nesse domingo. Ele entrou no debate confiante demais. Apanhou até ficar tonto. E, agora, vai ser difícil virar a onda de novo. A turma dele vai tentar - com mais baixaria. Mas o recurso vai ficando gasto. Dilma recuperou a inciativa. Pra quem já tem 10 pontos de vantagem, trata-se de um passo gigantesco rumo à vitória. Será uma eleição difícil até o fim. Mas Dilma recuperou o favoritismo inconteste. E, agora, sem a soberba que deu errado no primeiro turno. É o quadro que vejo nessa segunda-feira, a 20 dias da eleiçâo.