Eduardo Campos se aliou ao atraso em Pernambuco pela “nova política” no Brasil

A candidatura de Eduardo Campos é uma tragédia. Começa e logo vem uma greve da Polícia Militar e um assessor de comunicação publica uma foto do candidato em um jatinho; outro no twitter escreve “vai ter coca Aécio” e é demitido.

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Por Gregório Silva*, de Recife, especial para Escrevinhador É infortúnio afirmar que política não é futebol. Observar as movimentações, estratégias e táticas é um exercício instigante. Pena, também, que a esquerdinha brasileira não joga como o time do Chile, que ao observar o modelo de jogo da Espanha, atacou. A Espanha perdeu para ela mesma. Perdeu para o modelo e a permanência no errôneo modelo. A política com p minúsculo tem uma movimentação própria, às vezes presumíveis, às vezes surpreendentes. O rei sem trono Eduardo Campos não consegue emplacar o filho na Presidência da Juventude do seu partido... É o jogo neste feudo. A política com p minúsculo ficou igual à plástica do futebol plástico. Um jogo de patrocínios canalizados por grupos econômicos com interesses próprios, que utilizam a regra do jogo como meio para adquirir um poder exclusivo de administrar o Estado. Quando as regras são alteradas com o jogo acontecendo, dá a moléstia dos cachorros. Em Pernambuco, esse jogo é mais claro. A candidatura de Eduardo Campos é uma tragédia. Começa e logo vem uma greve da Polícia Militar e um assessor de comunicação publica uma foto do candidato em um jatinho; outro no twitter escreve “vai ter coca Aécio” e é demitido. Paulo Câmara, candidato imposto por Campos ao governo de Pernambuco, concede uma entrevista e faz propaganda da construção de três hospitais e seis UPAs. Logo depois, o ex-secretário de saúde de Pernambuco, Antonio Carlos Figueira, foi questionado sobre os detalhes dessas ações na área de saúde. E afirmou que não sabia da construção dessas unidades de saúde... E por último, para ficar aqui, com a frase “podemos apoiar qualquer um ou nos abster”, a prima Marília Arraes deixa transparecer o nível de contradição interna que vive o PSB hoje. Pode isso, Arnaldo? Pode. Pode porque a regra é clara quando se vende e se compra o patrimônio político como quem compra e vende o voto. É a lógica do mercado: se tem quem compre, tem quem venda. Nas eleições, são moedas distintas como cargos e tempos de TV. Eduardo Campos representa uma tragédia porque se aliou com o que é mais atrasado do Velho Mundo, em nome da “nova política” no Brasil. Dudu filiou os falidos do DEM/PFL Heráclito Fortes e os Bornhausen’s ao seu partido. Em nome da “nova política”, juntou Severino Cavalcanti, Joaquim Francisco, Roberto Freire e João Lyra. Aliou-se também com o capital financeiro, que impõe modelo neoliberal na Europa, provocando os maiores índices de desemprego da história do continente, ao mesmo tempo em que elegem o maior número de representantes de partidos nazifascistas. Essa ferocidade política tem consequências. O mundo não é pequeno, mas a elite é pouca. E não é burra. É a elite. Isso basta. Não xinga à toa presidente da República que está sendo vista por 4 bilhões de pessoas no mundo. A elite é a tradição - e não a mudança. Não espanta mais observar esse jogo de movimentação política dos fidalgos em seus feudos. Contudo, com o coronelismo é diferente. Com o coronelismo, a elite fica mais elite. É diferente porque os interesses sombreiam no mesmo ambiente. Para deixar mais clara a realpolitik pernambucana, eis que surge uma pedra no meio do jogo: o #ocupeestelita. Era para dar tudo certo. Na fidalguia é assim. O escritório de advocacia do primo de Eduardo Campos, Thiago Arraes de Alencar Norões, foi nomeado procurador do Estado para defender o empreendimento. Um estudo de impactos ambientais, fruto de contrato de consultoria, que dá autorização para derrubar os galpões, havia sido embargado pelo Ministério Público Federal a pedido do Iphan. Os tratores tinham começado a derrubá-los na noite do dia 21 de maio, quando um funcionário das construtoras apresentava uma xerox colorida de uma falsa autorização. O projeto é antigo e, como na historinha de João e Maria, o caminho que liga a Prefeitura do Recife ao prédio do Grupo JCPM havia sido trilhado pela gestão João Paulo e João da Costa, ambos do PT. Era fácil e bastava deixar as migalhas de pão no chão que outro passava pegando. Como disse o poeta Zeca Baleiro, é como “os pombos no asfalto/eles sabem voar alto/mais insistem em catar as migalhas do chão”. Na gestão Geraldo Júlio, herdeiro de Dudu, não seria diferente. Se para o PT que é o PT as construtoras doaram 75 % dos R$ 79,8 milhões gastos na última campanha, para o PSB não seria diferente. A diferença é que com o coronelismo a vingança vem a cavalo, mas cavalo do Batalhão de Choque. João Lyra, um recém-filiado ao PSB, mandou que cumprir a reintegração de posse. E pronto. O Eduardo Campos deveria agradecê-lo, pois o tornou mais conhecido em nível nacional. É assim mesmo. Políticos habilidosos e raivosos agem assim. O prefeito disse que não sabia. E aposto que não sabia mesmo. Porque não era para ele saber. Outros capítulos da realpolitik pernambucana seguirão. Por enquanto, Eduardo Campos está perdendo para ele mesmo. Enquanto o juiz da partida continuar reafirmando que só não vale dedo no olho, as regras serão as que estão aí. Com a confirmação do nome de Paulo Rubem (PDT) para vice de Armando Monteiro, o jogo ganha novas complexidades. Armando é neto de Agamenon Magalhães, ex-ministro de Getúlio Vargas, que foi interventor em Pernambuco. Assumiu em dezembro de 1937, quando Getúlio dizia ser um dos melhores, certamente porque sua polícia batia mais em babalorixás e quebrava melhor os potes de barro dos terreiros, quando se fazia valer a legalidade de que o Brasil só tinha uma religião: a católica. Elite é elite. Entre um capítulo e outro dessa tragédia grega, entre um jogo e outro nas arenas, continuamos a observar preocupados os números de recente pesquisa que indica que mais de 70 % do eleitorado brasileiro não sabe o nome do deputado que votou na última eleição. O jogo está rolando.  *Cientista político e pernambucano