Egito: a disputa agora é sobre a sucessão

por Wálter Fanganiello Maierovitch: Não há mais dúvida que na complexa geopolítica médio-oriental Hosny Mubarak, ditador do Egito por quase 30 anos, já é carta fora do baralho. No momento, o problema é saber quem conduzirá o país durante a transição e até a eleição de outubro. Ou, no caso de antecipação do calendário eleitoral (objeto de desejo da Fraternidade Muçulmana), quem garantirá posse aos vencedores.

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Egito. Novo complicador. Queda de braço entre o 007 Suleiman e o pacifista El Baradei, apoiado pela Fraternidade Muçulmana por Wálter Fanganiello Maierovitch, no blog Sem Fronteiras 1. Não há mais dúvida que na complexa geopolítica médio-oriental  Hosny Mubarak, ditador do Egito por quase 30 anos, já é carta fora do baralho. No momento, o problema é saber quem conduzirá o país durante a transição e até a eleição de outubro. Ou, no caso de antecipação do calendário eleitoral (objeto de desejo da Fraternidade Muçulmana), quem garantirá posse aos vencedores. Como até  múmias sabem, a Fraternidade Muçulmana é a  organização política mais bem organizada. Numa eleição livre, terá, segundo os analistas ocidentais de inteligência, maioria parlamentar. Ontem no período vespertino, na praça Thair e quase abafado pelo barulho intimidador  dos voos rasantes voltados a fazer valer o toque de recolher,  Mohamed El Baradei,  ganhador do Nobel da Paz, deixava clara a sua posição : “Estamos no início de uma nova era e não podemos voltar atrás. Hosni Mubarak deve cair fora. O povo é o titular desta revolução. Vocês representam o futuro do Egito”. Antes de se manifestar na praça Thair, o pacifista El Baradei deu entrevista à CNN. Ele revelou estar disposto a assumir a presidência temporária do Egito para “uma transição à democracia”. Num lance de xadrez bem jogado, a Fraternidade Muçulmana apóia a pretensão de El Baradei e, assim, se apresenta, no que toca a transição, como moderada e a deixar a questão religiosa de lado. Com tal postura, a Fraternidade cala vozes de republicanos norte-americanos e direitistas israelenses. Ambos apostam num segundo Irã, caso os extremistas islâmicos assumam o poder. O Exército impôs a Mubarak o general Omar Suleiman, um super 007. Suleiman, que está há 20 anos no comando do serviço de inteligência do Egito,  foi guindado ao cargo de vice-presidente para, numa transição, ocupar o cargo deixado pelo renunciante. Para o Exército, o pacifista El Baradei não será o comandante da sucessão. Os generais temem estar El Baradei sendo manipulado pelos radicais islâmicos para, num futuro próximo e após a implantação de um Estado teocrático, ser atirado fora. PANO RÁPIDO. Desta vez, o WikiLeaks ajudou o presidente Barack Obama. Conforme divulgado pelo WikiLeaks, o presidente Obama estava preocupado e pressionava Mubarak a fim de este implantar um regime democrático e de respeito a direitos humanos. Só para lembrar, a “doutrina Bush” defende a democracia.  George W. Bush, no seu rancho no Texas, recebeu como hóspede de honra, além de Álvaro Uribe, o saudita rei Abdullah, de 86 anos de idade. Ele reina na Arábia Saudita desde 2005 e  nunca  respeitou direitos humanos. No fundo, poucos sabem como será o efeito dominó. Teve início na Tunísia e passa pelo Egito. Será que alcançará Marrocos,  Síria, Arábia Saudita, Mauritânia, Argélia, Líbia, Jordânia e Iêmen ?