Estadão não gosta de mulher?

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A leitora Fernanda Estima escreve-me indignada. Conta-me que leu no site do "Estadão" - pouco antes da eleição de domingo- uma enquete "engraçadinha". Engraçadinha, mas ordinária. Veja, e julgue você mesmo, leitor: "Quais reivindicações femininas você faria ao Prefeito(a) eleito(a) no domingo? Se todos os problemas estruturais da Cidade já estivessem resolvidos (Educação, Saúde, Transporte, Segurança ...) que reivindicações femininas você faria? * Banheiros públicos femininos cheirosos e com secador de cabelo * Vai e vem para o shopping, sobretudo na época das compras de Natal * Programa "mãe paulistana em forma". Junto com o enxoval vem a "bolsa malhação" * Kit maquiagem em casa, distribuído no dia de seu aniversário * Vale-chapinha para usar em emergências, como os compromissos de última hora * Bilhete múltiplo aceito em todas nas clínicas de estética * Manicures poupa-tempo em pontos estratégicos: dentro do ônibus, na fila do banco" Quando li a mensagem da leitora, confesso que cheguei a duvidar que o "Estadão" tivesse publicado algo do tipo. Pedi que a Fernanda me enviasse o link da tal "enquete". E não é que ela existe mesmo!! Está aqui: http://www.estadao.com.br/pages/enquetes/default.htm?id_enquete=320 Será que foi publicada "sem-querer"? Será que foi um erro? Ou tratar-se-ia (usando a linguagem dos editoriais da família Mesquita) de miragem eletrônica? Será que alguém, usando o nome do "Estadão", quis fazer uma "brincadeirinha" pré-eleitoral? Será que o jornal (ou site do jornal) já se desculpou pela enquete machista, e de péssimo gosto (sem falar que foi publicada perto da eleição em que uma das concorrentes em São Paulo era mulher)? O "Estadão" é um jornal conservador. Todo mundo sabe. Defendeu o golpe de 64 (e depois ficou contra o golpe, porque viu que o regime se estenderia mais do que o imaginado). Isso também todos sabemos. O jornal publica há décadas editoriais destrambelhados (alguns, até, incompreensíveis para simples mortais; parecem escritos por Camilo Castelo Banco), e nos últimos anos deixou que a posição editorial contaminasse de forma descarada o conteúdo jornalístico de suas páginas seculares. Tudo isso é sabido. Ninguém lê o "Estadão" enganado. Mas, essa enquete ultrapassa qualquer limite de civilidade. Transforma o "Estadão" em "estadinho". Deixemos que a leitora Fernanda Estima conclua: "Estou empenhada em encher a caixa de mensagens desta gente com minha indignação. Num país onde as mulheres seguem sendo mortas por seus supostos amores, é um desserviço, um retrocesso, um atraso para a vida das mulheres. Reclamações podem ser encaminhadas para [email protected] e para A responsável [email protected] Saudações feministas"