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Por Igor Felippe
A construção da democracia no Brasil teve um alicerce importante nos intelectuais.
Professores, pesquisadores e acadêmicos participaram da luta pelo fim do regime militar.
Muitos deles foram ameaçados, presos, exilados e mortos durante o período de arbítrio imposto pelos generais.
O professor Florestan Fernandes é o maior símbolo do pensamento crítico, da resistência dos intelectuais e da militância por reformas estruturais da sociedade brasileira.
Claro que muitos se calaram e outros, de forma descarada ou envergonhada, apoiaram o golpe e o regime das armas.
A universidade é um espaço de luta política e ideológica, que reflete diferentes interesses econômicos e perspectivas políticas.
No entanto, causa estranhamento o manifesto de 200 intelectuais contra o que chamam de “protestos abusivos”. (leia mais abaixo)
Que o pensamento conservador é forte na universidade, não existem dúvidas, mas é preocupante que se materialize em um manifesto, que é um instrumento de ação política.
A desmoralização dos protestos de junho por autoridades e meios de comunicação estimulou a Polícia Militar do governador Geraldo Alckmin a agredir de forma arbitrária manifestantes. E terminou com violência contra jornalistas e até a proibição de vinagre...
Uma das conquistas do processo de democratização do país foi a liberdade de manifestação, garantida na Constituição.
A vivacidade de uma democracia se mede pela abertura das instituições à participação da sociedade, que passa pelas manifestações e organização dos movimentos populares, sindicais e estudantis.
Os protestos realizados no último período têm características novas e bastante diferentes do modelo tradicional. Muitas delas são passíveis de críticas.
Só que voltar os canhões contra os protestos é querer acabar com os sintomas de uma sociedade em crise sem resolver as causas da doença.
Independente da vontade dos proponentes, lançar um manifesto contra o abuso nos protestos legitima a violência policial e a repressão do Estado.
Legitima porque coloca sub judice o direito de manifestação, que deverá ser qualificado para merecer a liberdade prevista na Constituição.
E afinal de contas, quem julga se um protesto está dentro ou fora da lei?
Na hora do desenvolvimento dos fatos, quem tomará a decisão é o comandante da Polícia Militar, que fará um julgamento sumário para ordenar a repressão.
Deixar esse julgamento sob responsabilidade da PM é uma ameaça à democracia.
Voltaremos ao tempo em que a interpretação da lei será dada por aqueles que têm armas na mão.
E pior ainda se o aparato repressivo tiver uma legitimidade conferida por intelectuais para tomarem essa decisão.
Abaixo, veja reportagem publicada na Folha.