Leandro Fortes: Arruda "autista" repete Collor! Será?

Escrito en BLOGS el
Arruda vai resistir até o fim. Mas, para alegria do DEM (e do Serra), ele adotou uma tática que deve tirá-lo do cenário nacional. Arruda pediu desfiliação do partido. Ontem, o senador Agripino Maia (DEM-RN) saiu a declarar: "isso agora deixa de ser um problema do partido". Ele só mantem ainda alguma importância nacional como demonstração viva de que o moralismo do DEM e dos tucanos era de uma hipocrisia sem tamanho. Esse estrago já está feito. Mas, no campo local, Arruda tem  chance de resistir. Nos bastidores da política em Brasília, dá-se como certo que a Câmara Legislativa não punirá o governador com perda de mandato. Ele tem pelo menos dois terços dos deputados distritais na mão (ou, seria melhor dizer, no bolso e na cueca?). E a rua? Na rua, a indignação cresce (ainda mais depois da pancadaria da PM contra manifestantes esta semana), mas ainda não é  suficiente para derrubar Arruda. O que pode mudar o jogo? Novas fitas, ou fatos novos que surjam na investigação da Polícia Federal. Mas presume-se que, ao se desfiliar do DEM (e abrir mão de concorrer à sucessão), Arruda deve ter selado acordo com aqueles que abastecem a polícia e a imprensa com as fitas: Arruda sai de cena, abandona a idéia da reeleição, e teria em troca  a garantia de que novas imagens não surgirão. Um senador  contou a jornalistas, em "off", que Serra teria pedido à Globo para reduzir o noticiário sobre Arruda. Sobre isso, leia mais aqui - http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/serra-pediu-pra-globo-pegar-leve-com-o-arruda. Arruda também conta com Natal e Ano Novo - quando as pessoas se desligam da política - para rearrumar as tropas e resistir. Pode dar certo. Leandro Fortes (repórter da "CartaCapital"), com mais experiência do que eu na política de Brasília, acha que Arruda está morto: teria virado um zumbi - semelhante a Collor, que considerava possível resistir ao impeachment em 92. Tenho dúvidas. Mas fiquem com o texto do Leandro... ARRUDA: A FASE DO AUTISMO - http://brasiliaeuvi.wordpress.com/ Eu era repórter da Zero Hora, em Brasília, e presidente do Comitê de Imprensa do Palácio do Planalto, em setembro de 1992, quando Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo por decisão da Câmara dos Deputados e, em seguida, exilou-se na biblioteca da Casa da Dinda, no Setor de Mansões do Lago Norte da capital federal. Setorista no Palácio do Planalto, acompanhei a agonia de Collor desde as primeiras denúncias, centradas na vida e na obra de Paulo César Farias, o PC, até a derrocada do primeiro presidente eleito depois de 21 anos de ditadura militar. De tudo que se passou naqueles tempos, o que mais me interessou foi a fase de Collor na biblioteca da Casa da Dinda. A fase do autismo. O trauma do afastamento (o impeachment só seria votado, dois meses depois, em novembro) havia tornado a personalidade de Collor ainda mais estranha. Diariamente, ele acordava cedo, se vestia impecavelmente de paletó e gravata, se fazia acompanhar de assessores e seguranças e, então, atravessava a rua para ir à biblioteca. Isso mesmo: o cômodo não ficava na Casa da Dinda, mas numa casa menor, em frente à residência do presidente. Todo santo dia, um Collor soturno, com olhar vidrado e andar robótico, fazia aquela travessia surreal em direção a um poder imaginário. Lá, sentava em frente a uma mesa de reuniões de madeira maciça e colocava em frente a si um daqueles aparelhos elétricos antigos que matavam insetos. Por quase dois meses, quando finalmente renunciou antes de ser cassado, o presidente do Brasil fingia governar o país em meio a consultas solitárias de títulos aleatórios de livros da família ao som de pequenos estalos provocados pela eletrocutação de moscas e muriçocas. Enquanto o mundo se desmoronava a seu redor, Collor vivia, como um autista, num universo próprio e impenetrável. E dele, ao que parece, nunca mais emergiu. Essas impressões sobre o atual senador Collor me vieram à cabeça depois de ouvir o pronunciamento do governador José Roberto Arruda, no momento em que ele anunciou sua desfiliação do DEM. Arruda virou um espectro humano desagradável, e mesmo para jornalistas experientes não deixa de ser penoso se defrontar com a manifestação física da degradação moral de um político caído em desgraça. Desmoralizado e abandonado pela raia miúda que com ele se locupletou dos maços de dinheiro que fazem a festa no Youtube, Arruda parece ter entrado naquela fase autista de Collor. Ao falar à imprensa, não estava se dirigindo ao mundo real, mas a uma existência virtual projetada em outra dimensão. Arruda decidiu que o importante agora é continuar governando o Distrito Federal e tocar as mais de mil obras em andamento, levantadas em toda parte, com vistas aos 50 anos de Brasília, a serem comemorados em 21 de abril de 2010. Em primeiro lugar, José Roberto Arruda não governa mais o Distrito Federal. Sua última ação administrativa foi, digamos assim, a ordem dada à Política Militar para atacar, com cavalos, cães e cassetetes, dois mil manifestantes que estavam pacificamente no Eixo Monumental de Brasília. Lá, como ilustração da anarquia que virá, um coronel PM de cabelos brancos partiu como um babuíno enfurecido para cima de um estudante e rasgou-lhe a camisa. Filmado, ordenou aos PMs que jogassem gás de pimenta nos olhos dos cinegrafistas. Arruda, ao que parece, estava na residência oficial, decidindo se contratará a cantora pop Madonna ou a banda irlandesa U2 para abrir os festejos do Cinqüentenário. Arruda não tem mais nenhum partido em sua base de sustentação e, agora, não faz parte de nenhuma sigla partidária. Em duas semanas, perdeu 12 secretários e seis administradores regionais (das cidades-satélites e do Plano Piloto). Na Câmara Legislativa, metade dos 24 deputados distritais está envolvida no Mensalão do DEM. Arruda, que costumava inaugurar até creche de boneca, não tem mais coragem de colocar o pé para fora de casa. Vai para o Palácio do Buritinga, sede do governo, em Taguatinga, escondido pelos vidros fumê de carros oficiais, mais ou menos como Collor atravessava a rua para mergulhar no mundo encantado da biblioteca do avô. Entrou, definitivamente, na fase do autismo. E com ele, o DEM. O Ex-PFL, ao que parece, acredita mesmo que, ao se livrar de Arruda, irá também se livrar da pecha de partido atrasado, reacionário e corrupto.