Maringoni: E se o erro do IPEA fosse na gestão Pochmann?

Na última semana, o IPEA cometeu um erro grave na consolidação de uma pesquisa. São coisas que podem acontecer em qualquer situação. Mas fico imaginando o que a imprensa não estaria falando se Marcio Pochmann estivesse no comando.

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[caption id="attachment_27723" align="aligncenter" width="553" caption="Marcio Pochmann X Marcelo Neri"][/caption]

Por Gilberto Maringoni, no Facebook

Nos governos FHC e na primeira gestão Lula, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) tornou-se um repetidor das teses neoliberais da Fazenda. Na segunda administração petista, Marcio Pochmann, professor da Unicamp, tornou-se seu presidente. Foi a fase áurea do Instituto, entre o final de 2007 e a metade de 2012. A pauta central passou a ser a retomada do desenvolvimento. De órgão de investigações econômicas, o IPEA abriu-se para pesquisas sociais, culturais, antropológicas e políticas. (Tive a felicidade de ser bolsista e editor da revista ‘Desafios do Desenvolvimento’ nesses anos). O volume de pesquisas e publicações aumentou sensivelmente. Foram realizadas as Conferências do Desenvolvimento, com dezenas de trabalhos e palestras apresentadas. Antes do evento nacional, a Conferência comportava etapas regionais, em diversos estados. Marcio e sua diretoria – que incluía João Sicsú, entre outros - foram impiedosamente combatidos pela mídia, com calúnias de todo tipo. Na gestão Dilma, a decisão foi mediocrizar o trabalho. A orientação estava em linha com a virada ortodoxa que seu governo implementou logo ao tomar posse, em 2011. Seguidas elevações da taxa básica de juros, favores valiosos ao capital e a retomada das privatizações tiraram o desenvolvimento da agenda nacional. Havia uma pedra no sapato: a orientação de Marcio no IPEA. Em 2012, a presidenta e seu ministro Guido Mantega decidiram acabar com a brincadeira. Dilma nomeou um dos luminares da FGV do Rio – meca do neoliberalismo pátrio – e inventor da assim chamada teoria da nova classe média, o economista Marcelo Neri. Com inegável habilidade, Neri fala o que a mandatária gosta de ouvir e não causa problemas. Poderia estar tranquilamente nos governos FHC ou em possíveis gestões Campos ou Aécio. O IPEA tornou-se irrelevante na cena política. Pesquisas, publicações e várias iniciativas foram cortadas. Na última semana, o IPEA cometeu um erro grave na consolidação de uma pesquisa. São coisas que podem acontecer em qualquer situação. Não se pode demonizar o Instituto apenas por esse evento. Mas fico imaginando o que a imprensa não estaria falando se Marcio Pochmann estivesse no comando.