Michael e a moça de Paris: dor da gente não sai no jornal

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O mundo só fala em Michael Jackson, sei disso. Eu mesmo tive que correr hoje pra entrevistar Kid Vinil (lembram dele?), atrás de informações para uma matéria sobre o ídolo morto (confesso que nem me emocionei muito com a morte. Nos últimos tempos, tinha mais pena do que admiração por ele. . . Mas isso não vem ao caso). Agora há pouco, checava na internet datas de lançamento dos discos de Michael Jackson, quando encontrei uma nota que me tocou de verdade: a história da moça que se jogou da Torre Eiffel. Ontem, seguindo  o que fora publicado pelas agências e portais de notícia, eu dissera aqui que a moça era brasileira. Vários leitores me escrevem para corrigir: o consulado brasileiro informou que ela não era brasileira. De toda forma, trata-se de uma morte triste e intrigante. Fiquei a pensar: ela morava em Paris? Sentia-se sozinha na Europa? Ou teve uma crise depressiva durante as férias? Planejou a morte, ou tudo se deu num impulso, enquanto observava a linda paisagem parisiense?  Foram dores de amor que levaram a moça ao gesto extremo? Parece que no último instante o irmão correu até ela e tentou evitar o salto no vazio. Foi inútil. Triste demais. O pior, no entanto, nem foi o suicídio, mas a informação que aparece no segundo parágrafo do texto publicado pelo "Terra": o corpo caiu no teto de plástico de um restaurante. E sabem qual foi a reação de alguns clientes que almoçavam ali? Simplesmente seguiram comendo, contou o garçon que deu entrevista. O caso me fez lembrar de duas músicas. Uma, do João Bosco, cantada por Elis Regina, traz  aquela antológica letra de Aldir Blanc, falando de um corpo "estendido no chão", enquanto todos no botequim tocam a vida pra frente: "veio camelô vender anel, cordão, perfume barato; biana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato...". A letra completa está aqui: A outra música é uma que meu pai vivia a cantar nos anos 70: "Noticia de Jornal", de Haroldo Barbosa e Luis Reis.O Chico Buarque gravou. Confiram a letra e vejam se não há alguma semelhança com a história da moça que saltou da torre em Paris: "Tentou contra a existência Num humilde barracão. Joana de tal, por causa de um tal João. Depois de medicada, Retirou-se pro seu lar. Aí a notícia carece de exatidão, O lar não mais existe Ninguém volta ao que acabou Joana é mais uma mulata triste que errou. Errou na dose Errou no amor Joana errou de joão Ninguém notou Ninguém morou na dor que era o seu mal A dor da gente não sai no jornal." Nas próximas semanas, muito vai se falar sobre as dores (da alma) de Michael Jackson, as dores que faziam a vida ser quase insuportável pra ele. E as dores da moça de Paris? E as dores de todos nós? Essas não saem no jornal. (nota do "Terra" sobre a moça que se matou em Paris - quando publicada, ainda se acreditava que ela fosse brasileira; depois, a informação foi desmentida pelo consulado brasileiro) "Uma brasileira de 18 anos morreu após cair da torre Eiffel, em Paris, sobre o teto de um restaurante, em uma queda de mais de 50 m nesta sexta-feira. A jovem teria burlado a segurança do local e pulado, mesmo com os gritos do irmão. As informações são do site do jornal Daily Mail. De acordo com o site, a brasileira caiu no teto de plástico do restaurante e assustou os funcionários e clientes. Contudo, segundo um garçom, parte dos clientes, apesar da queda da mulher, continuou comendo. Ainda segundo o Daily Mail, a polícia disse que o irmão de 25 anos da jovem tentou impedi-la, mas não alcançou a mulher a tempo. A brasileira não pode ter o nome divulgado enquanto a família não for comunicada da morte pelas autoridades francesas."