Não sabe resolver um conflito? Muro é a solução!

Por Raquel Rolnik: Quando não se sabe como resolver um problema, como enfrentar um conflito, uma questão complexa, constrói-se um muro. Recentemente, vimos anunciada na imprensa a intenção do governo do Estado de São Paulo de construir um muro de 2m de altura ao longo do rio Paraitinga. Mas há outros exemplos: o muro que separa a fronteira dos EUA com o México, para evitar que os latino-americanos entrem ilegalmente nos EUA, ou o muro que Israel vem construindo para evitar que os palestinos circulem nesse território.

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Não sabe como resolver um conflito? Construa um muro! Por Raquel Rolnik, em seu blog Quando não se sabe como resolver um problema, como enfrentar um conflito, uma questão complexa, constrói-se um muro. Recentemente, vimos anunciada na imprensa a intenção do governo do Estado de São Paulo de construir um muro de 2m de altura ao longo do rio Paraitinga. O objetivo da medida, segundo o governo, é conter as enchentes que, anos atrás, já destruíram parte da cidade de São Luiz do Paraitinga e de seu patrimônio. A questão complexa, neste caso, é: como proteger a cidade e seu patrimônio da força das águas, ao mesmo tempo respeitando as suas características construtivas, das quais também faz parte a relação histórica de São Luiz do Paraitinga com o rio? Construir um muro para isolar o rio da cidade, neste caso, significa uma falta de solução porque não enfrenta a complexidade da questão ao destruir a relação da cidade com o rio. [caption id="" align="alignleft" width="288" caption="Muro construído por Israel"][/caption] Há muitos outros exemplos que mostram como os muros são, na verdade, formas típicas de não resolução de conflitos. O muro que separa a fronteira dos EUA com o México, para evitar que os latino-americanos entrem ilegalmente nos EUA, ou o muro que Israel vem construindo na Cisjordânia desde 2002 para evitar que os palestinos circulem nesse território, são alguns exemplos. Os dois casos envolvem questões com implicações em termos étnicos, políticos e sociais. O fato é que, em vez de se trabalhar a questão e de se buscar soluções para ela, constrói-se um muro. Um exemplo mais concreto, visível em nosso dia a dia, é o novo produto imobiliário surgido nos anos 1990 frente à escalada da violência urbana: o condomínio fechado e murado, forjado na ideia de que é possível construir um paraíso exclusivo para poucos e deixar os conflitos do lado de fora, o que, como nossas cidades já demonstraram, é impossível. Anos atrás, no Rio de Janeiro, surgiu a péssima ideia de murar a favela da Rocinha com a justificativa de proteger a floresta da Tijuca. Ainda bem que desistiram. Seria mais uma falsa solução. Em 1989, pudemos ver pela TV a queda do muro de Berlim – ícone da Guerra Fria, que separava o mundo capitalista do mundo socialista. A derrubada do muro – que ficou conhecido como muro da vergonha – transformou-se numa espécie de ícone da liberdade e da democracia. O muro de Berlim foi derrubado em 1989, mas, infelizmente, a lógica de construção de muros como forma de (não) resolver conflitos continua de pé.