"O Globo" quer sangue

O jornal O GLOBO quer sangue. Em manchete neste domingo (20), afirma: “Alemão: tráfico faz feira de drogas a céu aberto”. A “reportagem”, toda ela baseada em informações da polícia, é um louvor à violência. O jornal abre a página 17 com uma foto, feita de longe, de várias casinhas, como numa visão geral do Complexo do Alemão, e a inscrição: “Cidadela do tráfico”.

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Por Marcelo Salles, publicado no Fazendo Media O jornal O GLOBO quer sangue. Em manchete neste domingo (20), afirma: “Alemão: tráfico faz feira de drogas a céu aberto”. A “reportagem”, toda ela baseada em informações da polícia, é um louvor à violência. O jornal abre a página 17 com uma foto, feita de longe, de várias casinhas, como numa visão geral do Complexo do Alemão, e a inscrição: “Cidadela do tráfico”. Imagem e texto conduzem à interpretação de que todos os que moram ali são potencialmente bandidos, o que justificaria mais uma ação violenta da polícia. Essa informação, no entanto, bate de frente com os fatos, pois os números da própria Secretaria de Segurança Pública (SSP-RJ) mostram que os moradores do Alemão envolvidos com o tráfico não chegam a 1% da população (em 2007, o próprio GLOBO deu que, segundo a SSP-RJ, eram 450 traficantes para uma população de aproximadamente 100 mil pessoas). No subtítulo da "reportagem", O GLOBO afirma que vários traficantes expulsos de favelas ocupadas por UPPs migraram para o Alemão, onde teriam montado um “shopping” de drogas, com vendas “a céu aberto”. Grande novidade… Qualquer um que já tenha ido a esta parte da favela sabe que há comércio varejistas de drogas ali. Novidade mesmo seria se o jornal fizesse uma reportagem sobre a venda no atacado, mostrando como armas e drogas chegam nesses espaços populares. Quem fica com a grana pesada? São os bandidos de bermuda e chinelo? Para o Globo, sim. Na “matéria” deste domingo afirma-se que traficantes que vivem ali construíram casas “com confortos comuns a qualquer moradia de classe média – algumas até com piscina e hidromassagem”, trecho malandro que leva leitores a acreditarem que esses são os verdadeiros donos do negócio. De mais a mais, a “reportagem” é uma súplica para que mais violência seja cometida nessa parte da cidade, densamente povoada, diga-se. Em 2007, quan do da mega-operação que deixou 19 mortos num só dia, o mesmo GLOBO publicou diversos textos legitimando a ação da polícia, para quem todas as mortes haviam ocorrido em confronto - versão que posteriormente foi desmentida por peritos enviados pelo governo federal. O episódio passou a ser conhecido como “Chacina do Pan”, em razão dos Jogos Pan-Americanos que foram realizados no Rio de Janeiro naquele ano. No final, O GLOBO consegue as aspas que consagram seu objetivo. É o próprio secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, quem afirma, deixando claro a ação iminente: “Vai ter trauma, vai ter baixa, mas será uma ação definitiva”.