Os pesadelos de Rovai com Joaquim Barbosa

No prazo limite de sua desincompatibilização do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa anuncia a aposentadoria da toga e a filiação a um pequeno partido político. Não terá mais do que 30 segundos. Sua decisão incendiará as eleições.

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Por Renato Rovai, em seu blog Aécio dirá que se trata de uma postulação legítima, que o ex-presidente do Supremo é um homem de bem, como Eduardo Azeredo. Eduardo Campos dirá que é mais um candidato da nova política e que precisa ser respeitado. Dilma dirá que não comenta pesquisa eleitoral e nem a candidatura dos seus adversários. A Globo abrirá 10 minutos no Jornal Nacional para repercutir a decisão e fará um Globo Repórter para contar a história do menino que nasceu na pequena Paracatu, Minas Gerais, e venceu na vida. Amigos de infância, professoras, o primeiro médico, os tios e a o dono da padaria da rua onde ele morava darão depoimentos emocionados. Todos contarão belas história do Joaquinzinho. A Veja sairá com uma edição especial. Uma foto do ex-ministro tirando a toga com uma frase simples. Rumo a presidência. Os jornais que se acham grandes farão cadernos especiais. E todos os colunistas cravarão: o segundo turno agora é certo. E no segundo, serão todos contra Dilma e o PT. Lula dirá que é melhor assim, que a decisão de Joaquim Barbosa esclarece muita coisa do julgamento do mensalão. Os petistas que estavam mais sossegados, se sentirão desafiados a mais uma disputa histórica. O New York Times fará uma matéria comparando Barbosa a Obama. E o marqueteiro de Barbosa, mister W dirá que ele fará a campanha só pela internet. Que não irá a debates e que a TV será um mero detalhe. O slogan: O Brasil quer justiça. E redes espontâneas e não tão espontâneas serão construídas para fazer a divulgação dos 10 pontos do Brasil com Justiça, a carta de Joaquim Barbosa ao País. Haverá uma devassa na vida do ex-ministro realizada na internet. Aécio e Eduardo Campos se assustarão com o crescimento dos índices de Barbosa e iniciarão uma ação de desconstrução da candidatura dele por meios heterodoxos. O novo candidato perceberá que os ataques subterrâneos que recebe não são do PT. Que partem de outros cantos. De adversários que só lhe desejam como alavanca para o segundo turno. Mister W, seu marqueteiro, dirá que se quiser ir para o segundo turno, Barbosa terá que enfrentar Aécio e Eduardo. Terá que tratá-los como mais do mesmo. Como farinha do mesmo saco. A eleição entra na reta final. Dilma na frente, com aproximadamente 50% dos votos válidos nas últimas pesquisas. E os outros três candidatos embolados entre 20% e 14%. Mas Joaquim é o quarto colocado. De forma surpreendente, uma semana antes do pleito, Barbosa desiste da candidatura. Diz que a eleição no Brasil se tornou um vexame. Que não pode referendar um processo absolutamente viciado. E corrupto. E chama o povo a votar nulo. Dilma é reeleita, mas o índice de votos nulos e a abstenção é um pouco maior do que nas últimas eleições presidenciais. No dia seguinte a apuração, vários colunistas começam a abordar a “pouca legitimidade do pleito e do governo”. E passam a defender teses de que talvez fosse o caso de encurtar o mandato presidencial e fazer uma grande reforma política no país, aprovando, por exemplo, o voto distrital e acabando com a reeleição. E até o parlamentarismo volta a ser tratado como uma alternativa a um momento que todos chamarão de “crise democrática”. Sim, esse será a tag do assunto. Nos jornais, será o chapéu das matérias. Ouvi essa história de uma cartomante. Ela jura que leu isso nas cartas. E me disse, não pense em 2014, porque 2015 é que pode ser pior. Eu não sei se devo acreditar.