Pedro Ekman: Sou do PSOL e no segundo turno voto Dilma

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Por Pedro Ekman, especial para o Escrevinhador O PSOL saltou de três para cinco deputados federais e elegeu 12 deputados estaduais. Pode parecer pouco, mas definitivamente não é, considerando a radicalidade das propostas apresentadas pelos candidatos do partido. Aliás, foi um avanço no contexto da eleição do Congresso Nacional mais conservador desde a ditadura militar. Nessa conjuntura, manter a bancada já seria uma vitória importante para construir a resistência. O bom resultado do partido que propõe o socialismo e defende a liberdade não se restringiu ao Parlamento. Luciana Genro teve um ótimo resultado, ficando em quarto na disputa presidencial. Obteve mais de um milhão e meio de votos em uma das campanhas mais politizadas já feitas pelo partido. Nas disputas para o governo estadual do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte, o PSOL atingiu marcas inéditas de 9% dos votos. Talvez o bom resultado obtido por um partido que questiona a estrutura de poder estabelecida no Brasil se dê justamente pelo fato de vivermos um avanço conservador na sociedade. Nesse quadro, as candidaturas que decidem enfrentar abertamente os temas que historicamente mexem com a sociedade tendem a ter ampliado o espaço que ocupavam em uma conjuntura não polarizada. O PT cumpriu o papel de polarização do projeto político brasileiro na abertura democrática. A campanha de Lula em 1989 poderia ser considerada ainda mais contundente do que as campanhas do PSOL. Mas desde que o PT se propõe (ou ao menos se dispõe) a ser o partido da manutenção da ordem, ele passa a administrar uma série de imposições do poder, atendendo aos interesses da grande mídia, do agronegócio e dos bancos para poder ser considerado uma opção factível. Para isso, o PT escolhe não mais enfrentar questões polêmicas e não mais levantar bandeiras históricas da esquerda e de defesa dos direitos humanos. Assim, pode se apresentar não apenas como uma opção, mas como a melhor opção para se manter a ordem. Essa fórmula funciona para o partido ser aceito nos corredores do poder, mas ao desviar do enfrentamento em um cenário polarizado, o PT deixa de se apresentar como uma opção para quem busca uma postura que dispute valores e ideais na sociedade, que parece se tornar mais reacionária, mesmo com uma década de governo petista. Talvez isso ajude a explicar por que o PT perdeu quase 20 deputados Pandora Charms Canada e por que uma campanha milionária a governador, como a de Lindberg no Rio de Janeiro, ficou apenas 1% à frente da modesta e radical campanha de Tarcísio, do PSOL carioca. No segundo turno da eleição presidencial, a disputa está entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). O PSOL em nota reconhece que se trata mais de veto do que de voto, uma vez que nenhum dos dois projetos se aproxima significativamente da construção do socialismo com liberdade. O texto deixa claro que uma vitória tucana representaria para o país um retrocesso em relação ao governo atual. Isso já seria suficiente para interpretarmos que devemos evitar o retrocesso e promover o veto uma possível vitória do PSDB. O veto aos tucanos no segundo turno só é possível com uma nova vitória do PT. Mas isso não é dito pela nota que se recusa indicar objetivamente que votemos em Dilma no segundo turno para evitar o pior. Sou filiado ao PSOL e votarei em Dilma no segundo turno. Assim como eu também o farão centenas de milhares de pessoas que não são filiadas ao PSOL, mas que se reconheceram na campanha de Luciana Genro e teclaram 50 no primeiro turno, escolhendo um projeto de enfrentamento como a melhor opção dentre as que se apresentavam. Ao se negar a apontar claramente o voto em Dilma, o PSOL opta por negligenciar a relação que essas milhares de pessoas estabeleceram com o partido. Independente da indicação do partido, muito provavelmente irão votar em Dilma porque, assim como consideraram o PSOL a melhor opção no primeiro turno, também devem consideram o PSDB a pior. Da mesma forma, o voto nulo não se apresenta como uma alternativa para esse eleitorado, uma vez que ele não impede que o pior aconteça. O voto no segundo turno não significa nem de perto um voto de confiança. Certamente Dilma não representa o PSOL nem o seu eleitorado. O governo da petista não irá democratizar a mídia, fazer a reforma agrária, suspender o pagamento dos juros da dívida pública ou taxar as grandes fortunas. Quem faria isso seria a Luciana Genro, que não foi para o segundo turno. Mesmo assim, quem quer que essas coisas aconteçam deve impedir que isso fique mais difícil de acontecer. É uma responsabilidade revolucionária fazer o que estiver ao seu alcance para impedir que a vida do povo piore. Indicar o voto em Dilma no segundo turno não faria do PSOL um partido governista. Faria do PSOL um partido que, com responsabilidade, escolhe a quem quer fazer oposição. Sou do PSOL e no segundo turno veto Aécio. Sou do PSOL e no segundo turno voto Dilma. Seguimos na luta por uma sociedade mais justa e livre. Até a vitória, sempre.