Querem melar o jogo

O entusiasmo que toma conta de mais da metade do eleitorado brasileiro, quando estamos a um mês do primeiro turno das eleições, por poder retomar as praças e as ruas do Brasil com grandes comícios e festas, não deve jogar areia nos olhos daqueles que querem fazer do Brasil um país menos injusto socialmente e mais forte e soberano economicamente.

Escrito en BLOGS el
Por Izaías Almada O dia seguinte, ou como diria o grande jornalista e dramaturgo Otávio Frias Filho, “the day after”, o dia 04 de outubro de 2010, não será um dia só de festas, mas – sobretudo – deverá ser um dia de reflexão. Reflexão e atenção redobrada, eu acrescento. O entusiasmo que toma conta de mais da metade do eleitorado brasileiro, quando estamos a um mês do primeiro turno das eleições, por poder retomar as praças e as ruas do Brasil com grandes comícios e festas, não deve jogar areia nos olhos daqueles que querem fazer do Brasil um país menos injusto socialmente e mais forte e soberano economicamente. Cerro fileira com aqueles que consideram, com toda razão, que não se deve cantar a vitória antes da hora, mas tudo indica que a candidata Dilma Roussef poderá vencer as eleições ainda no primeiro turno. Se isso ocorrer, reitero, o dia 04 de outubro passa a ser o primeiro dia de um país que quer dar mais um passo em direção à maioridade. E que se preparou para isso nos últimos oito anos fazendo alguns deveres de casa de há muito exigidos e há muito esquecidos. Mas será também o primeiro dia para a união das forças de sustentação do novo governo. Isso se essa sustentação de forças não se fizer necessária antes das eleições, tal o desespero da oposição e de seu candidato José Serra que, anunciando a “hora da virada” entrou no perigoso terreno do vale tudo. As últimas notícias do destemperado candidato começam a formar um quadro, apoiado pela velha mídia, de “governo bandido” de “gente que é capaz de tudo”, de “nova república sindicalista” e coisas do gênero. Já se retoma o tema (tentado semanas atrás antes da vertiginosa queda de Serra nas pesquisas) da impugnação da candidatura, sempre lembrando que um grupo de militares já foi “avisado” na semana passada das intenções do Partido dos Trabalhadores em transformar o país numa ditadura (sic). E de que um ministro direitista e falastrão do STF já andou dando pitacos de que podem contar com o Judiciário para o que der e vier. Não podemos nos esquecer de que uma eventual e quase certa vitória de Dilma Roussef não significa que poderosos interesses econômicos contrariados aqui e ali ficarão à espera do seu cadafalso. Ou que livros que provam a nefasta ação da privataria contra o povo brasileiro sejam detalhados com o nome das contas dos piratas em paraísos fiscais. Ou que o Departamento de Estado dos EUA esteja a fingir que está morto e pouco interessado no jogo. Há no ar um cheiro de medo, dos que vêm enganando o roubando o povo brasileiro, e de esperança, daqueles que encontram no governo Lula e de sua provável sucessora uma possibilidade de continuidade e mudanças ainda para melhor. O Brasil do passado irá resistir de todas as maneiras, pois sabe que pode ficar, no mínimo, mais oito anos fora do poder.  De agora até o próximo dia 03 de outubro toda a atenção será pouca, pois tudo indica que querem melar o jogo. E depois, se for o caso, o povo nas ruas terá que garantir a posse de Dilma Roussef. Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros TEATRO DE ARENA, UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA, da Boitempo Editorial e VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS, Editora Caros Amigos.