Roberto Amaral para Escrevinhador: PSB optou pelo passado e está num caminho sem volta

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Por Igor Felippe, no Escrevinhador A decisão da maioria da direção do PSB de apoiar o PSDB no segundo turno das eleições representa um caminho sem volta para o partido, que tinha um programa com compromisso com o socialismo. Essa é a avaliação do fundador e ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, que rompeu com o partido e manifestou publicamente apoio a Dilma Rousseff. Em entrevista exclusiva para o Escrevinhador, por correio eletrônico, Amaral relata a tristeza de ver o partido que construiu nos últimos 30 anos declarar apoio ao PSDB. "Penso que estamos num caminho sem volta. É impossível manter a chama socialista aliando-se à direita. O PSB renunciou ao futuro. Renunciou ao seu dever de construir o socialismo do século XXI, libertário, democrático, avançado, humanista. Preferiu aliar-se ao passado", afirma Amaral. Abaixo, leia a entrevista. O senhor é um quadro da esquerda democrática no nosso país. Passou pelo PCB e no processo de redemocratização passou a militar no PSB, sendo um dos principais formuladores político-ideológico do partido. Como foi assistir o partido formalizar o apoio ao PSDB? Foi muito ruim, foi triste. O choque, todavia, não foi tão grande porque ele vinha sendo preparado, há anos. O bloco hegemônico renunciou à nossa história e se recusou a construir o futuro. O PSB perdeu eleitoralmente, perdeu politicamente e perdeu eticamente O PSB apoiou os candidatos do PT em 89, 94, 98, 2002 (segundo turno), 2006 e 2010. Nos últimos anos o PSB se aproximou do PSDB em eleições municipais e estaduais. Agora, a maioria dos dirigentes nacionais do PSB optou pelo apoio a Aécio Neves. É um caminho sem volta? Penso que estamos num caminho sem volta. É impossível manter a chama socialista aliando-se à direita. O PSB renunciou ao futuro. Renunciou ao seu dever de construir o socialismo do século XXI, libertário, democrático, avançado, humanista. Preferiu aliar-se ao passado. As informações divulgadas nos meios de comunicação apontaram uma intensa luta interna do PSB. Foi descumprido o acordo que reconduziria o senhor à presidência do partido? O que você projeta para o futuro do partido? O senhor vai continuar no PSB? A disputa pela presidência, com todos os seus episódios mesquinhos, é irrelevante; não a discutamos. Pois isso serve apenas para desviar o foco do fundamental: a luta interna no partido entre uma esquerda minguante e uma direita majoritária, crescente e majoritária. O PSB não pertence a mim nem a qualquer grupo. Pertence aos seus militantes, à sua história e à sociedade, que vai julgar seus dirigentes. Em relação ao segundo turno, o senhor manifestou apoio a Dilma na disputa contra Aécio Neves. O que levou o senhor a manifestar essa posição, que contraria a definição do partido? Duas obviedades: o Programa do Partido que ajudei a fundar, e minha biografia. O modelo baseado no crescimento econômico, com grande lucratividade para as diversas frações da burguesia e políticas de distribuição de renda, que beneficiam os mais pobres e os trabalhadores, dá sinais de esgotamento. O que a forças progressistas precisam fazer para avançar? Aproveitemos para esclarecer. Não se trata de optar entre PT (partido ao qual faço fundadas críticas) e o PSDB. Não se trata mesmo de julgar o governo Dilma. Trata-se de saber que Brasil queremos. Eu não quero a volta do neoliberalismo. Fomos chamados a decidir entre o recuo e o avanço, o passado e o futuro, o medo e a esperança. Fiz minha escolha pelo bom amanhã para meus filhos. Nessas eleições, a candidatura do PSDB conseguiu reorganizar as forças e, inclusive, atrair setores que fizeram parte do governo Lula/Dilma. Como você avalia esse processo de reorganização dos partidos? É possível fazer as mudanças estruturais com esse sistema político? Não, claro que não. Esse sistema, falido, serve à classe dominante, porque assegura a manutenção do status quo. Acredito no que o PT de hoje evita: povo na rua.