Corinthians, Santos e o jogo da eleição

A campanha do PT cometeu um erro comum no futebol: o time que ganha de dois a zero, em vez de tocar a bola no campo de ataque pra gastar o tempo, prefere recuar e aceita o bombardeio adversário sobre a área. Às vezes, uma bola espirrada acaba entrando.

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Por volta de 22h30 dessa quarta-feira, um conhecido blogueiro santista deixou um recado na caixa postal do meu celular: "chupa, Corinthians...". Pelo horário, suponho que a mensagem tenha vindo na empolgação, logo após Neymar marcar 2 a 1 para o Santos contra o meu Corinthians. Pois bem: como se sabe, o Corinthians (desfalcado) virou o jogo e derrotou o Peixe e a empáfia de Neymar, dentro da Vila Belmiro. Placar final: 3 a 2 para o meu time. Preferi não importunar meu amigo santista, porque já era quase meia-noite...  Lembro disso ao ler a pesquisa do DataFolha dessa quinta-feira. É claro que o histórico recente do jornal e de seu instituto (quando todos os outros, em julho, já davam Dilma 5 a 7 pontos na frente de Serra, a "Folha" preferia marcar "empate técnico" - o que levantou muitas suspeitas) deixa muita gente desconfiada com esses números. Mas é impossível negar que a pesquisa aponta tendência (talvez com um pouco mais de boa vontade para Serra, dada a torcida do jornal) já detectada em outros levantamentos: crescimento de Dilma foi freado com a onda de denúncias, e Marina (e não Serra) parece ser a beneficiada com uma pequena perda de votos da petista. Não quero bancar o chato, mas lembro que passei os últimos 3 meses aqui alertando para o risco de menosprezar Serra e o consórcio midiático. Escrevi sobre isso um texto intitulado "Sobre fábulas e o menosprezo", em   20 de julho:  "engana-se quem acha que a mídia anti-Lula não terá papel a exercer na campanha contra Dilma. A mídia perdeu, sim, parte de sua força. Mas não toda a força. Em 2006, foi a campanha mdiática que levou a eleição para segundo turno – Marcos Coimbra, do Vox Populi, já mostrou isso de forma límpida. Nessa eleição, a mídia impressa seguirá o roteiro de ataques implacáveis contra Dilma. Assim como Serra, essa gente não tem escolha: enveredou por um caminho sem volta (...) Se na reta final, a Globo sentir que há espaço para empurrar Sera ao segundo turno, não tenham dúvidas: vão repetir 2006! O método Ratzinger vai se revelar de novo implacável. Por isso, os lulistas devem evitar o erro de menosprezar adversários que lutam pela sobrevivência - política, ou econômica – e que vão usar todas as armas numa guerra suja." Quando escrevi o texto acima, a onda de denúncias ainda não tinha começado. Serra experimentava sua tática inicial, de se mostrar "amigo de Lula", bom moço. Mas quem conhece o tucano e o aparato midiático sabia o que estaria por vir. Na semana passada, já sob os efeitos do bombardeio que derrubara Erenice Guerra, escrevi outro texto - "Lula e Dilma cedem; a velha mídia ataca" - em que apontei o erro político cometido por Lula, ao não enfrentar durante 8 anos o aparato midiático conservador. Quando escrevi esse segundo texto, o DataFolha mostrava ainda Dilma com  51%, Serra com  27% e Marina com 11%. Fiz questão de mostrar ao leitor o seguinte: "A diferença é de 12 pontos. Portanto, bastaria Serra tirar 6 pontos de Dilma, transferindo esse total para Marina, Plinio e para o próprio tucano(...) Serra não precisa de muito pra forçar o segundo turno: basta que ele chegue a 29%, Marina suba para 15% e Dilma caia para 45%. Impossível? Eu não acho." A última pequisa DataFolha pode trazer, digamos, algum "equívoco" na margem de erro. O jornal e seu instituto - que torcem desbragadamente contra Dilma - incluíram nos questionários aos eleitores perguntas que poderiam favorecer uma queda de Dilma. Mas é preciso não brigar com os fatos: o tracking diário do Vox Populi tem mostrado a mesma tendência: Dilma em leve queda, ou estacionada, Serra parado e Marina em leve alta. Reparem que os novos números do DataFolha já se aproximam muito do cenário que apontei como possível, para garantir o segundo turno:  Dilma tem 49%, Serra 28% e Marina (que subiu dois pontos) chega aos 13%. Serra e os tucanos vão continuar batendo com ajuda da mídia e da campanha do medo nas Igrejas e na interbet. Isso pode não render um voto sequer para Serra. Mas para os tucanos, basta que Marina cresça mais dois pontos (o que é possível, pelo que sinto nas ruas, pelo que percebo nas conversas com a classe média paulistana, e pelo que ouço de amigos sobre o clima nos setores médios em cidades com Brasília e Rio) e que Plinio e os nanicos atinjam 2%. Não é impossível! Ainda virão 10 dias de bombardeio. Basta que Serra feche com 29%, Marina fique com 15% e Plinio+ nanicos atinjam 2% = 46%. Com esse quadro, e levando em conta que Dilma perderá parte dos votos do eleitorado extremamente pobre, que pode ter dificuldade com a exigência de dois documentos, não é improvável que tenhamos segundo turno. Tudo depende da reação de Dilma e Lula. Voltando à metáfora futebolística, não acho que a campanha do PT  ficou "de salto alto". Mas cometeu um outro erro comum no futebol: o time que ganha de dois a zero, em vez de tocar a bola no campo de ataque pra gastar o tempo, prefere recuar e aceita o bombardeio adversário sobre a área. Às vezes, uma bola espirrada acaba entrando. É o que aconteceu. Agora, temos 2 a 1, Dilma joga com os 11 na defesa, à espera de que o juiz apite o final do jogo. Só que o juiz (velha mídia e parte do Judiviário), além de tudo, joga de tabelinha com o adversario. Dilma (que ainda é franca favorita, diga-se, mesmo que precise enfrentar segundo turno) e Lula precisam reagir. Isso não significa (apenas) desqualificar a velha imprensa. Significa vacinar o eleitorado fortemente, no programa de TV. E isso tem sido feito de forma muito sutil, sem a ênfase necessária Do contrário, a probabilidade de segundo turno crescerá ao longo da última semana de campanha. Sei que muito leitores (dilmistas) ficarão bravos com essa minha afirmação. Mas não costumo brigar com os fatos. E, como bom corinthiano, não costumo cantar vitória - nem aceitar derrota - antes do apito final.