Arturo Valenzuela: "Serra parecia desinformado"

Em 2009, um alto funcionário do governo americano veio ao Brasil se encontrar com diversos expoentes da política e da economia para discutir o panorama pré-eleitoral do país. Arturo Valenzuela, Secretário de Estado Adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, realizou reuniões com ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso, jornalistas, consultores e o então governador paulista José Serra (PSDB). A informação foi recentemente revelada por um documento vazado pelo Wikileaks. A correspondência diplomática era confidencial e foi enviada em 29 de dezembro de 2009.

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por Juliana Sada Em 2009, um alto funcionário do governo americano veio ao Brasil se encontrar com diversos expoentes da política e da economia para discutir o panorama pré-eleitoral do país. Arturo Valenzuela, Secretário de Estado Adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, realizou reuniões com ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso, jornalistas, consultores e o então governador paulista José Serra (PSDB). A informação foi recentemente revelada por um documento vazado pelo Wikileaks. A correspondência diplomática era confidencial e foi enviada em 29 de dezembro de 2009. Arturo Valenzuela discutiu economia, política e relações internacionais com dez interlocutores. Entretanto, apenas um mereceu comentário particular de Valenzuela: José Serra. O Secretário americano teria ficado surpreso com o desconhecimento do governador acerca dos assuntos que eram debatidos e que viriam à tona na disputa presidencial no ano seguinte. O telegrama traz a seguinte observação em relação a José Serra: Para além da Argentina, Serra parecia desinformado sobre os recentes eventos no Cone Sul, incluindo a situação política do presidente paraguaio, Lugo, e pareceu pouco imerso na política interna brasileira. Valenzuela teve um encontro privado com José Serra no Palácio do Governo. O tucano comentou a política externa brasileira, corrupção, o aumento de gastos públicos e a situação interna. Para Serra, o PT estaria elevando os gastos públicos para construir uma máquina política para 2010. O tucano não estava confiante de que poderia ganhar a eleição de 2010 e advertiu que se os EUA se preocupavam com as políticas populistas da presidenta argentina Cristina Kirshcner, Dilma Roussef traria ainda mais preocupação. Serra “sugeriu” que se eleito iria pressionar por uma política externa mais sintonizada com os Estados Unidos. Governo Lula sob a ótica da direita Os outros interlocutores se reuniram com Valenzuela durante um almoço oferecido pelo cônsul geral. O Secretário americano enfatizou que os EUA viam as relações bilaterais com o Brasil como prioritárias e identificou a cooperação regional como de alta importância, incluindo Honduras. Relações internacionais Os convidados foram unânimes em criticar a política externa brasileira. Para eles, o governo Lula estaria focando em questões nos quais o Brasil tem pouco interesse e pequena influência, à custa de ignorar questões próximas, como Mercosul. Celso Lafer, ex-ministro de relações exteriores, afirmou que a postura brasileira em relação ao Irã foi o “pior erro” da política externa do governo Lula. Já Rubens Barbosa, embaixador brasileiro nos EUA entre 1999 e 2004, citou a atuação do Brasil em Honduras como uma “proeminente falha”. Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente do CEAL (Conselho empresarial da América Latina) e o físico José Goldemberg, da USP, se dedicaram a criticar e questionar os interesses brasileiros na aproximação com o Irã. Goldemberg classificou a participação do presidente Lula na COP-15 como “medíocre”. Política interna O ombudsman do jornal Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, também participou da reunião e afirmou que o PT possui uma força financeira sem precedentes para executar uma campanha após oito anos de governo. Já para o cientista político Bolivar Lamounier, um PT cada vez mais radicalizado poderia fazer uma campanha muito negativa contra a oposição. O economista Teixeira da Costa afirmou que a percepção pública em relação ao Brasil foi demasiadamente otimista e que os mercados poderiam mudar rapidamente. A opinião foi compartilhada por Ricardo Sennes, diretor da empresa de consultoria Prospectiva, que complementou que a economia brasileira seguia pouco competitiva devido aos problemas de infra-estrutura, altos impostos e leis trabalhistas rígidas. Os convidados argumentaram ainda que a estratégia do PT nas eleições seria fazer um referendo do governo Lula, em contraposição à gestão de FHC. Desta maneira, Serra seria atrelada a Cardoso e Lula transferiria sua popularidade à Dilma.